O mês de junho para quem mora no Nordeste é dos mais aguardados do ano. Logo vamos pensando nas deliciosas comidas típicas da época, como canjica (curau, para os paulistas), pamonha, mungunzá (canjica, para os paulistas), bolo-de-milho, e muitas outras.
Mas também é tempo daquelas intermináveis e insuportáveis fogueiras que se espalham por todos os cantos, dos “arraiais” barulhentos e animados, dos indefectíveis fogos de artifícios e principalmente das quadrilhas.
E é justamente aí que mora o problema. Igreja nenhuma tem qualquer restrição aos maravilhosos quitutes juninos, mas muitas torcem o nariz quando o assunto vai em direção às musicas típicas e a tal quadrilha. Já vi muita briga, gente escandalizada e discussões acaloradas sobre o tema. Até mesmo em sessões administrativas já testemunhei o assunto ser abordado e debatido.
O primeiro entrave se dá por conta da associação com as festividades católicas em homenagem a São Pedro e a São João. Os historiadores contudo, ainda estão em desacordo em relação às origens dos festejos. Há os que afirmam que as festas juninas surgiram na Europa como celebração pela colheita e somente muito tempo depois a igreja católica resolveu aproveitar a data e adicionar as festas de São João e São Pedro ao calendário eclesiástico. Outros já advogam que quando os festejos chegaram ao Brasil já estavam associados aos santos e por isso eram inicialmente chamados de festas joaninas.
O segundo entrave acontece por conta de a quadrilha ser uma dança e estar associada de alguma forma ao forró. Que a quadrilha é dança, de fato é; mas, se você já dançou alguma vez ou se pelo menos já viu alguma, sabe que se trata de uma diversão absolutamente inocente e ingênua, uma dança comunitária, quase infantil.
A quadrilha também tem suas origens ligadas à festa da colheita, e tem ligações diretas com a França do século XIX e danças de salão como a “quadrille” e a”contredanse”. por isso os termos usados na quadrilha como “alevantú”, “anarriê” vem também do francês. Em outros países da América Latina formas semelhantes surgiram tendo como base a mesma origem. Exemplo disso é a “kontradans” do Haiti. No nosso caso, ritmos regionais começaram a ser utilizados na quadrilha e um baiãozinho é sempre bem-vindo lá no nordeste.
A questão me parece ser muito mais cultural do que doutrinária. Eu que vivi até os 15 anos em São Paulo, nunca tive problema com festas juninas antes de me mudar para Recife. O Colégio Batista, onde estudei em São Paulo, inclusive promovia quadrilhas para alunos e familiares participarem juntos!
Quando cheguei no Nordeste, fiquei muito surpreso com a forma como a maioria das igrejas via festas juninas. Não conseguia entender como algo tão inocente pudesse ser visto de forma tão pejorativa.
Aliás, ainda não consigo. Tenho visto igrejas em Recife, totalmente avessas a qualquer programação que seja associada à festas juninas, mas também outras que aproveitam a ocasião para promover eventos de congraçamento e lazer para seus membros.
Na minha igreja inclusive, tem quadrilha todo ano e é das programações mais animadas do calendário. Eu mesmo já levei vários convidados não-crentes que ficaram bastantes surpresos com a alegria e descontração do povo de Deus. A programação é muito especial e tem sido um bom catalisador para a construção de relacionamentos e amizades.
Certamente nem todos os elementos dos festejos podem ser adotados por igrejas evangélicas, mas pessoalmente, não vejo razão para que não possamos aproveitar a época e promover eventos temáticos e dançar quadrilha.
Cabe a cada igreja decidir o que funciona melhor no contexto de sua comunidade.
Enquanto isso, continuo sonhando com o dia em que as igrejas evangélicas brasileiras irão começar a enxergar a nossa cultura não como ameaça, mas como ferramenta válida para evangelização e edificação.
Um abraço,
Leon Neto