Um pai que só faça o bem aos filhos que o conheçam e o chamem pelo nome, não é digno do nome de pai entre os homens de bem.
Se no caso do homem diante de Deus, fossem os filhos [os homens] que tivessem que se apresentar a Deus como Pai, esse Pai seria muito estranho; posto que usara para os homens a idéia de “pai” que foi feita referência humana e sadia de paternidade e de amor responsável, para, Ele mesmo, ser o anti-pai em relação ao que Ele mesmo ensina aos homens sobre como ser um pai.
Nesse caso Deus seria um Pairiseu. Sim, o maior fariseu de todos…
Ora, entre os homens, caso haja um acidente ou uma impossibilidade social ou histórica de um homem poder criar e se apresentar ao filho que gerou com alguém, no mínimo se espera que, mesmo sem poder aparecer, ele ainda assim possa e deve cuidar do filho que nem lhe saiba o nome, mas que nem por causa disso deixa de ser seu filho, sua criação.
Aqueles que advogam que Deus, como Pai, seja capaz de culpar aos filhos a quem Ele não se apresentou historicamente com “nome” e “endereço” — são semelhantes aos pais que eles mesmos abominam em razão de gerarem filhos no mundo e não assumirem nem mesmo a paternidade de cuidados invisíveis.
A religião excomunga um pai que tendo filhos não os assuma e não cuide deles. Também excomunga o pai que tendo filhos em situações de impossibilidade de convívio, não assumam responsabilidades com tais filhos, mesmo que não lhe seja possível apresentar-se a eles. E mais: a religião louva os pais que tendo tido filhos em circunstâncias que os impossibilitem de criá-los no dia a dia, mas que, mesmo assim, dão tudo o que seja necessário aos filhos, mesmo que outro homem-pai os crie, e ainda que eles mesmos não saibam quem é seu benfeitor.
Ora, tais dignidades são esperadas dos homens; e os homens que as praticam são considerados seres maiores, generosos e honrados.
Entretanto, a religião não espera o mesmo de Deus como Pai…
Embora diga que Deus criou tudo e todos, a religião arranjou uma categoria de irresponsabilização de Deus ante a criação; posto que advogue que Deus tenha filhos que Ele adotou, enquanto tem filhos que Ele enjeitou.
Sim, e pior:
Deus é um Pai, segundo a religião, que teve todos os filhos, mas que somente depois é que resolveu quem seria seu filho e quem ficaria na categoria de criatura…
É como seu eu tivesse tido meus quatro filhos e depois decidisse que dois deles eram meus filhos por adoção, e que dois outros eram apenas criaturas de minha cepa, mas não meus filhos legítimos…
Deus é Pai de todos. Nem todos, todavia, sabem disso. E quando alguém ganha o poder de ser feito filho de Deus, segundo João, foi porque tal pessoa foi apresentada ao Pai, o que dá a ela consciência de Quem seja o seu Pai; e, com tal consciência, nasce o poder da filiação, não da paternidade; o qual sempre existiu.
O Pai, entretanto, é puro amor; e, por isto, mesmo sendo invisível, cria meios mais do que gente…, de falar e se comunicar com Seus filhos.
Uns o ouvem no silêncio, nos sonhos, nos avisos, nos conselhos sábios, nas luzes da Graça, e por todos os meios e modos infinitos que o Pai tem de se comunicar; ainda que ao final o filho tenha “intuído” Sua instrução, e nela crido, embora ainda não Lhe saiba o nome e o endereço histórico no Evangelho.
Mas o Pai segue feliz e sendo Pai.
O Pai é bom e não é egoísta e gabola.
O Pai não precisa ser reconhecido como o benfeitor para fazer o bem. Ele faz o bem porque Ele é bom.
Ele, no entanto, quer que o filho seja grato e contente; ainda que não saiba o nome do Pai ainda…; pois…, um dia saberá.
O pior estado não é o dos filhos que não sabem Quem seja o Pai, embora sejam gratos ao amor invisível que deles cuida.
Não! Situação difícil é dos que dizem que sabem tudo do Pai e não andam nem obedientes e nem gratos.
Esses filhos que dizem que não saem da Casa do Pai e que são os que dizem que quem não anda com eles não é filho do Pai, mas que não amam o Pai, pois não amam os homens — esses é que estão em situação de grande juízo do ponto de vista do Pai.
O Pai admite filhos que não o conheçam por qualquer que seja a impossibilidade ou a circunstância. O que Ele não admite é que os filhos que dizem que O conhecem como Pai o façam ser visto como o diabo pelos filhos que supostamente ainda não O conheçam.
É por isto que muitos filhos desconhecidos do Norte, do Sul, do Oriente e do Ocidente estarão sentados na Casa do Pai, enquanto muitos filhos arrogantes e perversos em sua atitude para com o resto da humanidade e da criação, estarão de fora…
Pense nisso!
Caio