Aquilo que dia a dia mais me fascina na presente existência é justamente sua multiformidade; ou seja: sua total impossibilidade de ser percebida por um olhar ou apenas por um modo único de olhar a vida.
Por isto me interesso por tudo… Tento me pôr a par de tudo… Examino todas as coisas… E, assim, à Luz do Absoluto do Evangelho, depois de a tudo ver sem medo, retenho o que seja bom; ou seja: guardo de tudo […] aquilo que se coerentiza com o fluxo do que Jesus chama Vida.
Para isto, no entanto, duas coisas são essenciais: a primeira é ter Jesus como Chave Interpretativa para Tudo na Existência; e a segunda coisa é não temer aproveitar nada que seja coerente, sensato e verdadeiro […] apenas porque tal coisa não tenha sido explicitamente afirmada pelo Evangelho, embora mantenha sua coerência com o ensino e o espírito de Jesus.
Ora, a dificuldade de tal tarefa para os crentes é que na maioria das vezes, sem que um texto, uma descoberta ou um ensino não venham a se utilizar das terminologias “teológicas ou bíblicas” — as quais para os crentes religiosos são aquilo que designa a “verdade”; ou seja: a terminologia bíblia ou teológico/cristã é também a “Verdade” do ponto de sentir dos crentes… — são considerados heréticos pelos “cristãos” apenas em razão do vernáculo, e não do conteúdo.
Na verdade crente não sabe interpretar!…
Ou ele [o crente] ouve tudo conforme a linguagem do gueto, que é sempre a linguagem da seita […]; ou seja: que diz dogmas que nada explicam, mas dão a sensação de continuidade e coerência aos ouvidos dos que apenas ouvem letras e nunca discernem o espírito da palavra dita e ouvida —; ou, quando assim não seja […], então, eles [os crentes] rejeitam a mais cristalina Verdade de Deus apenas porque foi dita com palavras não usadas no gueto, ou foi expressa por um código de conhecimento científico, filosófico ou psicológico que no gueto não seja utilizado […]; ou ainda: porque no gueto não se prepara ninguém nem para entender as Escrituras e o Evangelho, quanto mais para entender e interpretar a Verdade dita com palavras “pagãs” ou por mensageiros “não autorizados” em razão de não serem “cristãos” […]; ou então por não falarem a nossa língua estranha de comunicação religiosa alienada.
Desse modo o “crente” só considera de Deus aquilo que se declare de Deus; e, por tal razão […] o crente também não enxerga Deus onde de Deus não se fale ou não se use nada que tenha sido “consagrado” como palavreado de Deus entre os homens…
Esta foi a razão pela qual Jesus fez tanta questão de usar uma linguagem que não se conhecia…
“Por que não entendeis a minha linguagem?” — indagava Ele […] enquanto falava a língua mais popular de Seus dias em Israel; posto que os Seus ouvintes entendessem o aramaico, mas ainda assim não compreendessem a linguagem de Jesus.
Leia: VOCÊ COMPREENDE A LINGUAGEM DE JESUS?
Meu exercício diário é entender as pessoas, os espíritos, as essências, posto que sejam essas coisas que correspondam à realidade ou à verdade do que esteja sendo dito; ainda que a linguagem ou os modos sejam diferentes dos códigos aos quais meus ouvidos tenham se habituado entender de modo relacionado às coisas de Deus.
Discernimento de espíritos e de essências é a verdadeira compreensão da linguagem de cada um, independentemente do que a pessoa fale ou de como diga o que diz.
Às vezes vejo a reação das pessoas a algo que esteja sendo dito, com verdade, embora com uma linguagem que em geral não invólucra a terminologia “cristã”… Na maioria das vezes as pessoas balançam a cabeça, ou fazem muxoxos, ou recriminam […] — e isto apenas porque ouvem letras feitas sons, mas não ouvem a palavra, o conteúdo, a essência, o dito…
A forma mais sutil de idolatria é aquela que se vincula às palavras!
Sim! Não se faz ídolos de barro ou de pedra, mas de palavras, de letras, de formas de dizer e de nomenclaturas oficiais…
A grande idolatria dos Monoteístas é a idolatria das letras e das doutrinas fixas em terminologias mais santas que a Verdade.
Foi em razão da Idolatria à Torá [ou seja: das “Escrituras”] que Jesus não foi discernido e nem compreendido; posto que o culto a forma do dizer fosse mais importante do que o que Jesus dissesse e o que Ele fizesse como prova do amor de Deus.
Assim, foi e é o culto à palavra como imagem, como forma, como modo e como letra […], justamente aquilo que mais impede as pessoas de discernirem a Palavra fora da Escritura ou do ambiente religioso e teológico.
Quem, todavia, não entende isto, jamais estará pronto para viver a compreensão da verdade nas linguagens mais estranhas deste mundo…
A ironia é que o “Pentecoste” dos crentes faz com que “falem em outras línguas”, mas não se façam jamais entender; ou, quando se fazem entender […] mostram eles mesmos que nada entenderam do que ensinam e divulgam; ou, ainda, demonstram que existem para falar o que não compreendem, enquanto eles próprios não conseguem entender ou interpretar nada […]; posto que o “Cristianismo” tenha se tornado uma religião sem interpretação […], tamanha é a sua incapacidade de entender linguagens…
Um “Pentecoste” que nos faça falar em outras línguas, mas que não nos capacite a entender muitas linguagens, não é o Pentecoste, sendo apenas mais uma terminologia de seita gerar a presunção de algo que não se compreende…
O verdadeiro Pentecoste faz falar em outras línguas, tanto quanto nos faz entender todas as linguagens humanas; posto que o verdadeiro Pentecoste não seja um fenômeno “lingüístico”, mas sim um fenômeno de discernimento, encontro e compreensão do que a vida diz, não do que os indivíduos falem; posto que o que dizem sempre vem carregado do que eu não sou; sendo, portanto, essencial que eu transcenda as formas e me vincule aos espíritos a fim de discernir o que me dizem […] pelo que são, e não pelo que apenas falem.
Pense nisso!
Caio