O lançamento recente do mais novo trabalho da banda Catedral, me fez pensar novamente na trajetória desse grupo que por 12 anos atuou no meio evangélico e depois resolveu enveredar pelo mercado da musica secular.
Lembro-me que na época, a tal mudança de mercado causou bastante estardalhaço no meio Cristão e gerou muitas discussões e debates. Naquele momento, Catedral era a banda evangélica mais popular do Brasil e muita gente criticou a decisão e chegou mesmo a afirmar que seus componentes haviam se afastado do evangelho, que estavam traindo seu chamado e coisas do gênero. Por outro lado, defensores ferrenhos também se levantaram e argumentavam de todos os lados procurando arrumar justificativas para a decisão da banda.
Para mim não fez muita diferença, porquê eu já não gostava da banda Catedral enquanto evangélica, e depois da mudança, ainda menos. Mas, antes que os tais “ferrenhos defensores”comecem a me apedrejar, preciso dizer que até respeito a decisão do grupo. Achei bem mais honesto partir logo para o mercado secular e não mais ostentar o nome de banda cristã. O que nada tem a ver com a fé pessoal de seus componentes, necessariamente. Pelas entrevistas mais recentes, todos afirmam que continuam sendo cristãos, e não me cabe aqui julgar as convicções religiosas de ninguém.
De qualquer forma, foi uma das primeiras ocasiões, desde o crescimento do mercado evangélico em meados dos anos 90, na qual um grupo, ou artista teve que se defrontar com tal dilema, e igrejas e pensadores cristãos avaliar a ética envolvida na situação.
Nos Estados Unidos, onde a linha que separa um mercado do outro é extremamente tênue já há um bom tempo, podemos citar inúmeros exemplos de artistas cristãos flertando com a musica secular e vice-versa. O próprio Elvis Presley, a quem a banda Catedral homenageia em seu novo Cd, foi profundamente influenciado pela musica gospel e chegou até mesmo à gravar alguns arranjos de hinos tradicionais. Monstros sagrados do “soul ”e “R&B” como Aretha Franklin e Mahalia Jackson começaram suas carreiras cantando em corais de Igreja e Ídolos da “country music”, como Johnny Cash e Randy Travis após suas conversões, também gravaram discos gospel ao longo de suas trajetórias.
O caso que mais se assemelha ao do Catedral foi o de Amy Grant que nos anos 80, no auge do sucesso como cantora cristã, resolveu se lançar como cantora pop. A empreitada até que deu certo, mas depois de um divórcio, Amy decidiu voltar para o meio evangélico. Mais recentemente, Jaci Velasquez tentou se aventurar no cinema como atriz e se deu muito mal.
No Brasil também temos exemplos de artistas seculares que se converteram e fizeram o caminho oposto da banda Catedral. Baby Consuelo que viveu a tropicália e fez sucesso com seus cabelos coloridos e agilidade vocal, hoje é pastora e cantora evangélica. Chris Durán, cantor pop que desembarcou no Brasil na década de 90, hoje também professa a fé cristã e se dedica exclusivamente ao meio evangélico. Até mesmo a rainha do rebolado, Gretchen, chegou a gravar um cd após sua conversão, com parodias evangélicas de seus sucessos. Bem, mas isso foi antes do filme pornô…
Atualmente, a banda americana “Jonas Brothers”, que já foi assunto abordado aqui na coluna vem provando que é possível conciliar as duas coisas. Mesmo atuando no mercado secular, eles tem aproveitado o sucesso e visibilidade para dar um bom testemunho de sua fé cristã. Carlinhos Veiga, é outro bom exemplo de artista cristão que trafega com naturalidade pelos dois meios, mas sempre hasteando a bandeira do evangelho e não e perdendo oportunidade de testemunhar de Cristo, onde quer que esteja.
A profissão de músico é igual a qualquer outra; nem todo músico cristão trabalha com musica evangélica, da mesma forma que nem todo engenheiro cristão só constrói igrejas, ou todo professor evangélico só ensina teologia. A Bíblia nos desafia a sermos sal e luz onde quer que estejamos e a fazer diferença no meio em que vivemos , seja ele qual for.
Um abraço,
Leon Neto