Já foi-se o tempo em que as Igrejas evangélicas se digladiavam por conta do estilo de culto e do tipo de música que deveria ser utilizado. Hoje, a maioria das Igrejas já transicionou ou está em fase de transição para um estilo misto, onde hinos podem ainda ser utilizados, mas o que predomina é a musica contemporânea.
Lembro-me das homéricas batalhas entre jovens e diáconos sobre “cantor Cristão”e os “corinhos” , e das discussões, debates e até mesmo brigas que gerou. Mas hoje, tudo isso é passado e somente algumas poucas igrejas no Brasil continuam fechadas para a musica cristã contemporânea em seus cultos.
O mercado fonográfico também mudou muito e hoje já propicia a um número considerável de artistas cristãos a possibilidade de viverem somente de seus ministérios. O segmento gospel/ cristão movimenta, somente nos Estados Unidos, cerca de meio bilhão de dólares anualmente e só em 2008 vendeu cerca de 56 milhões de Cd’s.
Dentro desse segmento, o gênero por lá conhecido como “Praise and Worship”, ou “Louvor e Adoração”, representa quase 10% dessa fatia e se considerarmos alguns cantores em cujos discos predomina o citado estilo, o número pode crescer para quase 40%. Além disso conta com pelo menos 4 álbuns entre os 10 mais vendidos dentro do segmento Cristão.
Mas, apesar de números tão expressivos, será que “Louvor e adoração” pode ser caracterizado com um gênero especifico? Se pensarmos bem, os Cd’s que podem ser classificados como tal destilam uma variedade enorme de ritmos e formatos; não é assim com o “gospel” norte-americano ou o rock cristão, que tem uma “cara” bem específica. “Louvor e adoração ”pode ser qualquer coisa, de samba à reggae, de pop rock à balada.
Na minha opinião, “Louvor e Adoração” é mais um estilo do que um gênero musical; explico. um gênero musical tem características técnicas (rítmicas, melódicas, formais) e estéticas definidas, enquanto que um estilo é mais uma linha de pensamento, um conjunto de procedimentos.
As canções no estilo “Louvor e adoração” são essencialmente de cunho congregacional. Possuem uma estrutura simples, com um coro na maioria das vezes bem assimilável e fácil de aprender. A linha melódica tem uma extensão limitada, raramente passando de uma oitava, e usa ritmos contemporâneos que privilegiem a fluência do texto.
Os cantores e bandas, normalmente não usam muitas ‘firulas” vocais, e tem vozes comuns, médias, bem próximas das de qualquer congregação. Os cantores, na sua maioria não tem muita formação musical e cantam sem vibrato ou impostação.
As letras, em quase 90% dos casos tem um caráter pessoal e intimista, e versa sobre aspectos ligados ao louvor, como não poderia deixar de ser. Não se vê o uso de palavras rebuscadas ou formais, o coloquialismo predomina e os textos tem muitas vezes rima e forma livre, e falam direto ao povo na sua própria linguagem.
O objetivo de qualquer canção nesse estilo, é prover as igrejas com material para seus cultos e eventos de louvor. Nada mais apropriado então do que usar esse conjunto de princípios que descrevemos acima. Musica congregacional deve ser assim mesmo, de fácil assimilação e consumo imediato. Nada de errado nisso.
Aliás, os hinos do passado seguiam a mesma receita e falavam a linguagem do publico da época. Tiveram o seu papel e hoje fazem parte de nossa herança. Não deveriam ser esquecidos, mas sim reciclados e usados como matéria prima para novos arranjos, como alguns grupos tem já tem feito, inclusive.
Portanto, se esses princípios forem observados e se a teologia é coerente e profunda, qualquer ritmo ou gênero musical pode ser usado como “Louvor e Adoração” .
Um abraço,
Leon Neto