Eu bem que tentei achar outro assunto, mas no meio evangélico realmente o tópico que mais impera nas conversas e debates é mesmo o tal projeto de lei 122/2006 que criminaliza qualquer tipo de discriminação contra o homossexualismo.
A discussão sobre esse assunto vem rolando já há muito tempo, mas ultimamente tem sido o foco principal e tem até mesmo causado atritos dentro do próprio meio evangélico. O pastor Silas Malafaia tem empreendido uma verdadeira campanha contra a citada lei e está planejando até mesmo usar a marcha para Jesus do Rio de Janeiro, que acontece essa semana, para atacar o governador do Rio por conta de seu apoio à causa homossexual.
Aliás, Malafaia tem atacado muita gente ultimamente, e como citei acima, alguns até mesmo dentro da comunidade evangélica. Não faz muito tempo, bateu pesado na cantora Ana Paula Valadão por conta de uma suposta falta de apoio dela e de outros cantores evangélicos quando da votação do projeto em Brasília. Malafaia foi bem indelicado e grosseiro e até mesmo disse que “se twitter é para mostrar agenda e fotos, é melhor acabar porque não presta pra nada”. Ana Paula respondeu com uma nota bem mais amena, sem citar o nome do Pr. Malafaia em nenhum momento, mas dizendo que se entristecia com as acusações feitas. Falou que acredita que um avivamento verdadeiro acontece de baixo para cima e que leis não irão determinar mudanças de práticas necessariamente; falou ainda que a alteração de leis deveriam ser consequência do que se passa numa sociedade em avivamento. E finalizou com uma frase tocante: “clamo por mudança do coração”. Não satisfeito com a resposta, Malafaia ainda revidou dizendo; “quando é pra defender seu nome, responde rapidamente. Quando é pra defender o Reino de Deus, diz que tá viajando.”.
O Pr. Silas Malafaia é conhecido por seus sermões apologéticos e por seu temperamento ácido, por vezes agressivo, o que eu até respeito, já que cada um tem o seu estilo. Mas, acho que ele já está passando dos limites; não existe justificativa para esse ataque à Ana Paula Valadão que é tão comprometida com a causa do evangelho e parece ser uma pessoa gentil e educada. E acho que Ana Paula está completamente certa em sua resposta quando diz que as grandes mudanças vêm de baixo para cima e a partir da transformação dos corações, e não da implementação de leis pura e simplesmente. Claro que a lei em questão deve continuar sendo discutida e até mesmo combatida, se de fato ela é mal elaborada e restritiva às liberdades religiosas e de opinião; mas, permitir que isso gere mal estar e ataques dentro da comunidade evangélica é uma inversão de valores, em minha opinião.
Se Malafaia sente que deve investir seu tempo e energia lutando contra essa lei, que o faça; mas que não saia por aí querendo que todo mundo pense como ele e ache isso deve ser a prioridade numero um em nossas vidas. Certamente que existe mérito em levantar a bandeira de nossos valores perante a sociedade brasileira, mas talvez existam formas menos agressivas de se fazê-lo. E no final das contas, duvido que algum homossexual venha a se converter por conta de toda essa campanha empreendida contra a lei do homossexualismo. Tenho medo que terminemos com isso, por alimentar um sentimento de corporativismo evangélico que nada tem a ver com o evangelho genuíno que se preocupa mais com as pessoas, o indivíduo do que com organizações ou instituições. E para ser bem sincero, eu bem que gostaria de ver os pastores e políticos evangélicos tão engajados nessa campanha, apoiando com o mesmo entusiasmo causas mais nobres como o combate à fome e à miséria, por exemplo.
Um abraço,
Leon Neto