Neste ano de 2018 mais um membro da dinastia mais famosa do mundo se une nos sagrados laços do matrimônio. Membro da família real britânica, o príncipe Harry se uniu, sob as bênçãos do Altíssimo, com a plebeia norte-americana Meghan. Este casamento é um sinal de que várias mudanças na tradição da realeza foram superadas ou aturadas em nome dos “novos tempos”. Dentre os vários presentes que o casal de pombinhos reais irão ganhar, serão os títulos da nobreza presenteados pela rainha, e além disso, com certeza irão conseguir viver e se manter com o bolsa rainha.
Sem querer entrar na discussão entre monarquistas e republicanos sobre os prós e contras a respeito da manutenção da realeza sobretudo por ser brasileiro e isso não afetar diretamente a minha vida e nem a deles, tenho que confessar que em tempos de desemprego em alta no Brasil bem que a família real britânica poderia nos ensinar como é viver no muito bem obrigado fazendo bicos. Eles bem que poderiam prestar alguma consultoria para alguma empresa de RH brasileira para ensinar o “segredo”.
Eles são os desempregados mais bem empregados do mundo, e como se não bastasse ainda ganham o bolsa rainha. Alguns podem ter a curiosidade de saber afinal de onde vem o dinheiro que sustenta Sua Majestade Britânica e família. Por mais incrível que possa parecer ela dá lucro ao Estado Britânico e por isso recebe 15% a 25% dependendo da arrecadação do patrimônio da coroa (The Crown State), bem diferente do Estado Brasileiro e do poder executivo federal mais precisamente. A soberana britânica é dona de todo os bens da realeza, mas não pode vender nada do que tem, no caso, ela é apenas a usufrutuária destes bens. Pois tudo o que tem não pertence apenas a ela, mas a toda a geração futura de soberanos(as) (incluindo daqueles que nem ainda nasceram).
Mas o que a família real britânica tem afinal a ver comigo e contigo e com a situação do cristianismo brasileiro?
Se fazer parte da realeza mais conhecida enche de encantamento aqueles que admiram a representação que esta família traz em termos de tradição e de história, afinal é uma das dinastias reais mais antigas do planeta que tem praticamente mais que o dobro da idade da formação do Brasil. Se isto é visto como algo grandioso, saiba que como cristãos eu e você fomos chamados para fazer parte de algo muito maior! Fomos chamados para uma missão infinitamente melhor! No Livro das Revelações (Apocalipse) 1:6 o texto sagrado afirma: e nos constituiu rei (e rainhas), sacerdotes (e sacerdotisas) para o seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! Todo cristão, o qual foi encontrado por Jesus e convidado por Ele a segui-lo, é parte integrante deste reino composto por esta família (o cristianismo) cheia de contradições, mas que mesmo assim é convidado a viver uma vida cristã plena (vida de triunfo nos moldes do Reino de Deus), através do famoso tripé: oração – estudo – serviço, isto é, contemplação (oração, jejum, culto), somado com a teoria (doutrina bíblica), e a prática (ação social).
O cristianismo irreal brasileiro
No Reino de Deus não existe essa de categorizar o cristão verdadeiro e o cristão falso. Ou se é cristão ou não se é, ou faz parte do Reino ou não faz. Não existe a opção de se estar cristão, pois é uma questão de ser cristão. Ou é súdito no Reino, ou não é. Ou faz parte da família de Deus ou não faz. Temos às vezes a ilusão de associar os frequentadores eclesiásticos de cristãos, apesar que não temos a procuração celestial de dizer quem é e quem não é, pois a tarefa de afirmar de fato quem é ou não é cristão pertence apenas a Deus e a cada um individualmente examinando a si mesmo. O cristianismo é composto por uma comunidade mista (trigo e joio), e assim as Sagradas Escrituras do Novo Testamento asseguram, retirando todo e qualquer lampejo de ingenuidade que possa pairar sobre nossas mentes. Mesmo não podendo julgar claramente o falso do verdadeiro, cada vez o arraial da igreja faz com que nós deparamos hoje com dois tipos de público: 1) os visitantes assíduos, e 2) os membros faltosos. A reportagem sobre o último censo religioso realizado pelo IBGE mostra o crescimento de um fenômeno outrora apenas visto em outros países mas que atingiu o protestantismo brasileiro: cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas, ou o dos “evangélicos nominais”, pois segundo pesquisa entre 2003 a 2009 o número desta nova modalidade de evangélicos saltou de 4% para 14%, e são compostos daqueles que gostam de serem (des)conhecidos como os “crentes invisíveis”, e são como tudo indica, uma fatia daqueles que passaram por alguma decepção com o cristianismo institucional ou por não querer responsabilidades, sendo assim os chamados na língua inglesa de “believing without beloging” (crer sem pertencer). São os famosos crentes mãozinhas (a famosa mãozinha da família Addams), no caso são a mão desconectada do corpo. Crentes desconectados do corpo, o que é uma tamanha e insuperável contradição. Este é o cristianismo irreal brasileiro, o qual vive numa crescente e ascendente propagação de pessoas migrando de um arraial ao outro, com igrejas que aumentam de número de frequentadores, e com uma sociedade brasileira cada vez mais deteriorada, e que não é salgada e alcançada pela luz de Cristo que deve brilhar em nós. Cada vez mais o cristianismo brasileiro adultera a ordem dEle em no Evangelho conforme Mateus 5:14, pois onde diz: Vós sois a luz do mundo! A criatividade do cristianismo irreal brasileiro tem mudado essa afirmação para: Vós sois a luz (de LED) do mundo! Um tipo de lâmpada que não consome muita energia, quer brilhar sem esforço, sem energia, sem dependência do poder de Deus. Cada vez somos tentados a ceder espaço para vivermos uma vida cristã de pompa nos padrões britânicos. Somos tentados a sermos um tipo de sal light, luz de led, conforme o padrão estabelecido dos “novos tempos”.
O cristianismo irreal brasileiro tem se destacado por ser bastante criativo, pois tem se estabelecido cada vez mais nos pólos antagônicos de seguidores que ora se escondem por detrás do fundamentalismo ou do liberalismo. Vivemos a irrealidade de acharmos que estando em um dos pólos seremos defensores da verdade absoluta.
O desafio
Acredito que devemos nos esforçar para sermos parte integrante do Evangelicalismo Histórico, que nos proporciona o equilíbrio entre a Fé e a Razão, trazendo para nós a san(t)idade (santidade + sanidade) necessária, nos desafiando a sermos agentes de transformação na sociedade brasileira e sermos parte de uma comunidade cristã terapêutica que é a igreja.
Sermos evangélicos conforme o que se entende historicamente e teologicamente traz para nós a humildade necessária para saber que temos que constantemente revisar a nossa vida, e não no severo (quem lê entenda) extremo de querermos revisar a vida dos outros, ou como alguns que vão ao outro extremo de querermos revisar as Sagradas Escrituras. Precisamos estudar novamente o Pacto de Lausanne, como documento consensual interpretativo do movimento evangélico mundial, para de fato compreendermos o que é ser um cristão evangélico.
Se mesmo na condição de “desempregados” a realeza britânica consegue dar lucro ao Reino Unido da Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte, logo, eu e você podemos avançar muito mais (yes we can), mesmo inseridos nesta realidade brasileira. O Reino ao qual servimos não é deste mundo. É maior. A nossa vocação é potencialmente superior, pois ao mesmo tempo que somos súditos do Reino de Deus, somos também filhos(as) desta realeza celestial. Temos livre acesso a todos os espaços que pertencem ao Reino de Deus. Se eles (família real britânica) conseguem eu e você também conseguimos.
Não precisamos da pompa, do prestígio e do estilo de reinos deste mundo para darmos lucro para o Reino de Deus, afinal nosso Rei e Senhor Jesus Cristo disse claramente: “.. Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vocês não são assim; pelo contrário, o maior entre vocês seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lucas 22.25-26). O segredo é se parecer com Jesus e querer imitá-lo, não apenas quando queremos acalmar a tempestade, ou curar multidões, ou andar por sobre o mar, mas principalmente segui-lo atendendo o convite que Ele nos faz para o discipulado: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16.24). Não existiria a Ressurreição se não houvesse o Calvário!
Não caiamos na tentação do cristianismo brasileiro que é viver um cristianismo irreal, superficial, baseado no legalismo, com crentes com superpoderes confundindo o cristianismo como uma espécie de liga da justiça ou de vingadores gospel.
Jesus tem algo melhor e maior para você! Ele te diz: “Também eu disponho a vós o Reino, como o meu Pai o dispôs para mim” (Lucas 22.29).
God save the Brazil! Deus salve o Brasil!
Atenciosamente de cabeça para baixo,
Estêvão Chiappetta <><