No último dia do ano de 2019, o Papa Francisco, ao cumprimentar fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, irritou-se e respondeu com um tapa, ao ser bruscamente puxado pela mão por uma mulher que estava atrás da barreira de segurança.
O Papa surpreendeu ao pedir desculpas, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde foi realizada a primeira missa do ano, no dia 1º de janeiro de 2020. Em sua homilia, o Pontífice condenou todo tipo de ação violenta e ofensiva investida contra as mulheres, embora tenha deixado várias pessoas chocadas com a perda da paciência e,
principalmente, com o ódio e o desprezo contidos no olhar que ele direcionou à mulher
que o puxou pela mão.
Também na ambivalência afetiva coexistem sentimentos contraditórios, os quais podemos experimentar no plano afetivo, ou seja, a existência simultânea e conflitante de sentimentos opostos com relação a uma pessoa ou coisa.
Qualquer pessoa ou coisa pode ser objeto do nosso afeto e desafeto, conflito já experimentado provavelmente por todos nós. Assim, quando pensamos em pessoas que nos despertam tanto o nosso amor quanto o nosso ódio, compreendemos melhor a ambivalência.
Podemos mencionar o austríaco Sigmund Freud e a sua contribuição para o desenvolvimento do conceito de ambivalência, quando no seu livro Totem e Tabu ele nos esclarece sobre a definição dos tabus como sendo proibições. Segundo Freud, o conceito de “tabu” também denota uma ambivalência, pois tudo o que é proibido, só é proibido quando é desejado.
(…) se impulsos cheios de desejo forem reprimidos, sua libido se transformará em ansiedade. E isto nos faz lembrar que há algo de desconhecido e inconsciente em conexão com a sensação de culpa, a saber, as razões para o ato de repúdio. O caráter de ansiedade que é inerente à sensação de culpa corresponde ao fator desconhecido (FREUD [1913-1914],p.47/48).
Da proibição do desejo à gênese da moralidade, o processo civilizatório é pautado na relação estabelecida entre Lei e desejo. Temos no “sagrado” e no “impuro” ideias contraditórias, ou seja, ambivalentes. Essa ambivalência humana apresentada por Freud é constituída pela pulsão de vida, cujo objetivo é preservar a existência do organismo e também pela pulsão de morte, que nos dirige rumo à morte e à autodestruição.
Dessa forma, somos divisão, somos vida e morte, somos razão e emoção, somos lei e desejo, somos amor e ódio, e assim somos ambivalência.
A ambivalência revela que existe satisfação nas experiências encontradas nos dois polos, que aparentemente são dissociáveis.
Helena Chiappetta