Não há filho de Deus que não seja tentado. Não é pecado ser tentado. Pecado é ceder à tentação. O evangelista Mateus trata da tentação de Jesus, no deserto. Foram quarenta dias e quarenta noites de tentação, sem trégua (Mc 1.13). Jesus saiu da água do batismo para o fogo da tentação, do sorriso Pai para a carranca do diabo; da afirmação do Pai: “Tu és o meu Filho amado”, para o questionamento de Satanás: “Se tu és Filho de Deus”. Jesus foi conduzido para o deserto pelo Espírito Santo e cheio do Espírito Santo esteve jejuando quarenta dias, na preparação para dar início ao seu ministério. Num cenário hostil, no deserto; num ambiente hostil, sozinho e cercado de feras; numa situação crítica, com fome, é que Satanás lança a isca da tentação. Vejamos:
Em primeiro lugar, a tentação da satisfação física a qualquer custo (Mt 4.1-4). O primeiro Adão foi derrotado pelo diabo num jardim; Jesus, o segundo Adão, venceu o diabo num deserto. Depois de quarenta dias de jejum, Jesus teve fome. Todos os poros do seu corpo clamavam por pão. Com seu corpo fragilizado pelo longo jejum, Jesus anseia por alimento. É nesse momento que se aproxima o tentador, lançando sua isca: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4.3). Satanás sugere a Jesus a satisfazer sua necessidade física a qualquer custo. A sugestão do tentador é para que Jesus exerça seu poder para atender seu desejo imediato. Um milagre dessa ordem provaria sua filiação divina e abriria o caminho para que as multidões o seguissem. Porém, Jesus recusa a isca venenosa, respondendo: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). A Palavra de Deus sustenta, mas as sugestões do tentador enfraquecem. É legítimo buscarmos satisfação física, mas não é conveniente morder a isca do diabo. O prazer oferecido pelo diabo passa pelo caminho da desobediência e esse caminho conduz à rebelião contra Deus. O pão de Deus alimenta, mas a isca do diabo mata.
Em segundo lugar, a tentação da confiança à revelia da promessa de Deus (Mt 4.5-7). O diabo derrotado no primeiro round, não desistiu. Levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem, e: eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra” (Mt 4.6). O diabo é um péssimo intérprete das Escrituras. Ele sempre cita a Bíblia omitindo, acrescentando ou torcendo o seu significado, com o propósito de tentar e nunca de edificar. O diabo citou para Jesus o Salmo 91, mas omitiu a parte, “… em todos os teus caminhos”. Deus não promete guardar aqueles que abandonam seus caminhos. Deus não tem compromisso com aqueles que, à revelia de suas promessas, ouvem e atendem à voz do tentador. Jesus golpeia o diabo com a espada do Espírito, e responde: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt 4.7).
Em terceiro lugar, a tentação do poder a qualquer preço (Mt 4.8-11). O diabo, vencido nos dois primeiros rounds partiu para mais uma investida: “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isso te darei se, prostrado me adorares” (Mt 4.8,9). O diabo, sendo o pai da mentira, promete o que não tem. Ele não é dono de nada, mas oferece tudo. A isca da tentação é oferecer o poder a qualquer preço. Ganhar os reinos do mundo e a glória deles ao preço de prostrar-se diante de Satanás e adorá-lo é um preço alto demais. O diabo, porém, oferece o que não tem, mas se você morder a isca da tentação, ele tira tudo o que você tem. Jesus mais uma vez vence-o com a espada do Espírito e responde: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto”. Jesus nos ensina que a fidelidade a Deus nas horas da tentação é o que nos livra do perigo. Quanto a Satanás, devemos ordená-lo a retirar-se, porque nossa escolha é o Senhor, nosso Deus. Satanás deixou Jesus e os anjos vieram para servi-lo. Não morda a isca da tentação, adore a Deus e seja assistido pelos anjos de Deus.
Rev. Hernandes Dias Lopes