As denúncias de pedofilia envolvendo padres e monsenhores de Arapiraca (AL) apontam para a existência de uma rede de abuso sexual ampla e que não envolveria apenas assédio a coroinhas.

Ameaças de morte, bebidas, orgias e dinheiro compõem um dos maiores esquemas envolvendo religiosos já descoberto no país. Relatos de pais apontam que nem mesmo as crianças em confessionários escapam.

Após centenas de investigações de casos de pedofilia no país, o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, afirma que, pela primeira vez, investiga um esquema de abuso sexual com ameaça de mortes às vítimas. “O que choca é que envolve religiosos. Que ele é homossexual e religioso, tudo bem. Mas ameaça de morte? Ou seja, não pode revelar a verdade? Não pode abrir a boca? Isso é absolutamente grave”, afirmou.

As revelações de ameaças de morte foram feitas durante as sessões deste sábado (17). O padre Edílson Duarte aparece em uma gravação, em poder da Polícia Civil, comentando sobre recentes denúncias envolvendo os padres. Na conversa –gravada por um coroinha–, ele afirma que o ex-coroinha Fabiano Silva Ferreira “só tem a perder” ao denunciar o caso, pois “vamos estar lindas e maravilhosas velando o corpo dele”. As investigações apontam que pelo menos três párocos se comunicavam com frequência sobre os assédios.

O ex-coroinha Cícero Flávio Vieira Barbosa confirmou ao UOL Notícias que sofreu ameaças desde que denunciou o caso ao bispo da Diocese de Penedo, em março de 2009. “Nosso advogado informou todas as denúncias de pedofilia ao bispo e, desde lá, ao invés de apurar, só passamos a receber ameaças indiretas”, contou.

Orgias com bebidas também compõem o cenário. Adolescentes relatam que eram comuns as realizações de festas promovidas pelos religiosos. Uma casa no balneário da Barra de São Miguel também seria usada. O padre Edílson Duarte confessou em depoimento que chegava a dar conhaque aos ex-coroinhas.

As orgias aconteciam, na maioria das vezes, nas igrejas ou casas paroquiais de Arapiraca. “Eles embebedavam a gente e praticavam sexo”, denunciou Fabiano.

De acordo com as investigações, os padres também aliciavam menores oferecendo dinheiro e bolsas em colégios particulares da cidade. “Ele me dava cinco, 10 reais. Era um cala boca, para que não denunciássemos, como se fossemos garotos de programa”, alegou Cícero, em depoimento, sendo confirmado pelo padre Edílson Duarte.

Cícero contou que foi assediado pela primeira vez quando tinha 12 anos pelo monsenhor Luiz Marques Barbosa. Ele também teria sido assediado por outro monsenhor, Raimundo Gomes. “Fui assediado por três párocos durante oito anos. Eles acabaram com a minha vida e quero que seja feita justiça”, disse, afirmando que não pensa em pedir indenização à Igreja Católica.

Outro ex-coroinha, Anderson Farias Silva, contou à reportagem que teve a primeira relação sexual com um religioso aos 13 anos. “Ele me convidou para a casa paroquial, ficou fazendo elogios. Depois que começaram a me abusar, os monsenhores ficavam com raiva se não fizesse sexo com ele. Havia muita pressão, e nunca tinha contado isso a ninguém”, assegurou o jovem, hoje com 22 anos.

Pais de crianças procuraram a polícia e a CPI da Pedofilia para denunciar abusos de padres em confessionários. Abelardo José Leite contou que o filho, de apenas nove anos, foi assediado pelo padre Edílson Buarque várias vezes ao se confessar.

A criança foi ouvida pela perita carioca e psicóloga Tatiana Hartz, que confirmou as denúncias. “Ele disse que o padre tentou beijá-lo, apalpou, dizia que ele era bonito. Ele tirava fotos também. Isso causa um dano muito grande à formação da criança”, afirmou. Outros três pais de crianças denunciaram formalmente à polícia e a CPI casos semelhantes envolvendo o mesmo padre, que, neste sábado, confirmou que abusou de pelo menos dois coroinhas.

Para a psicóloga, abusos praticados por pessoas influentes, como padres, causam traumas graves a adolescentes. “A criança abusada vai por curiosidade e às vezes acaba gostando e se sente culpada por isso. Ela enxerga num adulto uma ameaça e acaba não contando nada. Os danos dependem de cada um, mas ela pode alternar o comportamento ou mesmo ir para um quadro psiquiátrico”, relatou.

Fonte: UOL

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