A Comissão da Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos (USCIRF) revelou estar preocupada com a “repressão” do governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica na Nicarágua, com a expulsão ou prisão de autoridades eclesiásticas.
“O regime de Ortega mostra um absoluto desdém pelas organizações religiosas”, afirmou Mario Diaz-Balart, congressista republicano durante uma audiência virtual organizada pela USCIRF, entidade bipartidária independente criada pelo Congresso dos Estados Unidos para monitorar, analisar e relatar ameaças à liberdade religiosa no exterior.
O governo de Daniel Ortega, só em 2022, colocou o bispo Rolando Álvarez em prisão domiciliar, deteve padres e seminaristas e expulsou o núncio Waldemar Sommertag.
“A situação atual na Nicarágua é crítica e continuamos a usar todas as ferramentas diplomáticas e econômicas à nossa disposição para responsabilizá-los pelos abusos cometidos”, disse Patrick Ventrell, diretor do escritório de assuntos centro-americanos no Departamento de Estado.
Manuel Orozco, diretor do Programa de Migração, Remessas e Desenvolvimento do Diálogo Interamericano, lembrou que a hostilidade de Ortega com a Igreja Católica não é novidade.
“O que mudou hoje é a obsessão pelo poder”, estima. Há mais de 200 presos políticos sob “falsas acusações” e quase meio milhão de pessoas emigraram nos últimos dois anos, acrescenta.
Em setembro, o ditador Daniel Ortega, atacou a Igreja Católica e as suas organizações no país durante um pronunciamento à polícia nacional do país.
“Quem elege os padres? Quem elege os cardeais? Quem elege o papa? É uma ditadura e uma tirania perfeitas”, disse aos policiais durante sua fala.
Para Christopher Ljungquist, conselheiro para a América Latina no Escritório de Justiça e Paz Internacional da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, “a intenção por trás desses ataques é clara”.
“O regime pretende aterrorizar a Igreja, que é hoje a última instituição independente da sociedade civil. Silenciá-la por meio da violência, do terror e do assédio institucional”, declarou.
Para enfrentar a “repressão”, os participantes propõem a aplicação integral da Lei RENACER, que prevê o aumento de sanções, fiscaliza empréstimos de instituições financeiras e revê a participação do país no acordo de livre comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana República (CAFTA-DR).
A Nicarágua é um dos lugares mais perigosos do mundo para ser cristão, assegurou a deputada republicana María Elvira Salazar, que pede ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a suspensão de todos os empréstimos ao governo para “cortar o oxigênio”.
Segundo dados internacionais, cerca de 500 ONGs de diversos escopos foram fechadas desde 2018, ano em que aumentou a repressão do governo de Daniel Ortega e sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo.
Como a Igreja é perseguida na Nicarágua
Os cultos e as pregações são constantemente monitorados e o acesso à saúde pública foi tirado dos cristãos. Templos foram destruídos e líderes cristãos relatam danos psicológicos devido às contínuas ameaças.
Nas escolas, o currículo educacional público oferece conteúdo político alinhado com o regime que nega ou deprecia outras ideologias, como a cristã.
Patrícia Montenegro, membro do Observatório Pró-transparência e Anticorrupção, afirma: “As igrejas têm sido fundamentais na crise de direitos humanos na Nicarágua e, por isso, tornaram-se alvo da perseguição indiscriminada de Ortega e seus aliados”.
Segundo o advogado do Coletivo de Defesa dos Direitos Humanos, Carlos Guadamuz, “a igreja tem o suporte da população. Em nível nacional, a igreja foi a última instituição sólida que restou. Não há outros grupos civis que tenham escapado da perseguição”.
Folha Gospel com informações de UOL, Terra e Portas Abertas