Dimitrius Dantas e Ana Letícia Leão
O GLOBO

Dos 245 conselheiros tutelares eleitos em São Paulo no último domingo, 34,2% eram candidatos apoiados por igrejas evangélicas, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO.

Nos dias que antecederam a eleição, fiéis compartilharam uma página intitulada “Conselheiros do Bem”, que reunia nomes ligados a igrejas como a Universal do Reino de Deus.

Dos 205 nomes indicados no site, 84 foram eleitos. Ao todo, 1.487 concorreram a uma vaga em conselhos tutelares.

O número de pessoas ligadas a igrejas evangélicas, contudo, ainda pode aumentar: em três distritos da capital paulista, a eleição foi impugnada.

Em Pirituba e Lajeado, os números dos candidatos não coincidiam com os informados previamente durante as campanhas, e em Pinheiros, os mesários não compareceram. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania irá marcar uma nova data para a votação. 

Os números levantados pelo GLOBO indicam que em 7 bairros de São Paulo todos os candidatos eleitos eram vinculados a igrejas evangélicas. Em Aricanduva, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Lider, Grajaú I, Jabaquara e São Mateus, os cinco eleitos também foram os cinco sugeridos pelo Conselheiros do Bem.

Em outros bairros, o grupo emplacou a quatro dos cinco conselheiros: Casa Verde, Cidade Tiradentes, Jaçanã, Penha e M’Boi Mirim. Os eleitores poderiam depositar votos em até cinco candidatos. 

Os bairros com a maior concentração de candidatos evangélicos eleitos estavam nas zonas Sul e Leste da capital. O grupo não elegeu nenhum candidato na Zona Oeste.

A polarização política e religiosa na semana passada levou a um aumento de quase 30% da participação popular no pleito paulistano. Em 2016, ano da última eleição, 113 mil pessoas votaram em São Paulo. Neste ano, o número passou de 144 mil.

Durante a campanha, frentes religiosas cristãs, movimentos de esquerda e outros setores da sociedade se enfrentaram pelas vagas em 52 conselhos tutelares na capital paulista. Entre os principais assuntos das campanhas, estavam a discussão sobre gênero, pautas LGBT e a polarização política entre o bolsonarismo e a esquerda.

O GLOBO obteve mensagens disparadas por aplicativos de mensagem em que fiéis ligados à Igreja Universal pediam votos para candidatos da Catedral da Fé, um dos templos da denominação cristã.

A eleição para o Conselho Tutelar movimentou políticos de todas as vertentes. O deputado federal e pastor da Universal, Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF), publicou no último domingo uma foto após depositar seu voto. 

“Acabamos de votar para conselheiro tutelar. As eleições são facultativas, mas é uma excelente oportunidade para exercer o seu direito. Escolha os conselheiros do bem que vão defender os valores e os direitos da família”, escreveu o deputado nas redes sociais. O texto era igual ao de outras publicações de perfis ligados à Igreja Universal na internet, ressaltando a necessidade de eleição de “conselheiros do bem”.

Igreja Católica

Sueli Camargo, coordenador da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, afirmou que não houve campanha por parte da Igreja Católica a favor ou contra algum candidato.

Segundo ela, a Igreja apenas fez uma convocação para que os católicos participassem das eleições, seja como candidatos, seja como eleitores.  

— Não tem cabimento uma lei, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, que nasce em um âmbito de participação da sociedade, num processo democrático, se criar um órgão que alguém se sinta dono. São todos muito bem-vindos: nossos irmãos evangélicos, espíritas, budistas, todos são bem-vindos a este processo. Reduzir isso a uma determinada denominação é reduzir a importância do cuidado à criança e ao adolescente. Para nós, o que importa é a atuação desse conselheiro e o que está previsto no ECA — afirmou.

O que é o Conselho Tutelar

É o órgão municipal responsável pela defesa dos direitos de crianças e adolescente. Atua sempre que houver ameaça ou violação de direitos, em casos como: violência física, psicológica, abuso sexual, entre outros.

Os conselheiros tutelares são responsáveis por aplicar e fiscalizar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) desde 1990, ano de sua criação. Eleitos para um mandato de quatro anos, assumirão os seus cargos em 10 de janeiro de 2020 e podem ser reeleitos indefinidamente.

O salário, de R$ 2.853, é pago pelos municípios, além de vale-alimentação e vale-transporte. Todo eleitor com mais de 16 anos e título regular pode participar das eleições.

Fonte: O GLOBO

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