Os cristãos estão sendo solicitados a orar pelas vítimas e seus entes queridos após uma explosão gigantesca que atingiu a área portuária de Beirute, capital do Líbano, nesta terça-feira, 4 de agosto, matando mais de cem pessoas e ferindo milhares.
O Conselho de Igrejas do Oriente Médio disse que “Beirute devastada está enfrentando uma tragédia”.
“Vamos ficar juntos. Vamos resgatar os feridos e os que perderam suas casas. Vamos orar pelas vítimas”, afirmou.
“Ó Deus, tenha piedade de nosso amado Líbano e de seu povo de coração partido. Não esconda seu rosto de nós!”
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, disse: “Estou orando por todos os afetados pela terrível explosão de Beirute hoje e pelo povo do Líbano. Senhor, tenha piedade.”
O bispo de Truro, Philip Mounstephen, que supervisionou a análise do governo sobre a perseguição global, disse que estava “sofrendo” por Beirute.
O bispo visitou a cidade há dois anos com a Missão CMS e disse que “ainda estava ansioso” para estabelecer um vínculo entre os cristãos de lá e a diocese de Truro.
Em seu Facebook, o pastor Said Deeb, da Church of God Bourj Hammoud, mostrou diversas imagens caóticas da cidade e algumas pessoas atingidas. Ele também fotografou partes de sua igreja arruinada e disse que vários de seus parentes experimentaram a força da explosão de perto.
“E explosão eliminou o porto, as reservas alimentares e uma grande parte da cidade… Hiroshima 2 potência”, escreveu o pastor, dizendo que até mesmo na Ilha de Chipre e na Grécia os efeitos foram sentidos.
Líbano enfrenta crise, pandemia e agora, colapso em hospitais após explosão
Atingido por uma crise humanitária, o Líbano enfrenta dificuldades para lidar com o grande número de vítimas da explosão ocorrida ontem na região portuária de sua capital Beirute —o número de feridos supera 4.000 e o de mortos passa de 100, segundo a Cruz Vermelha Libanesa.
O país vive hoje os efeitos da sua mais grave crise econômica desde o fim da guerra civil, em 1990.
O país do Oriente Médio corre o risco de não conseguir lidar com a enorme demanda de serviços médicos para os feridos. “Na situação atual do Líbano, não há como atender os feridos. Por conta da crise econômica, os serviços públicos estão entrando em colapso”, alerta Maurício Santoro, professor do Departamento de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Até o momento, o Líbano vinha tendo relativo sucesso em conter o avanço do novo coronavírus —desde fevereiro, quando registrou o primeiro caso, o país teve 65 mortos e 5.062 casos confirmados de covid-19, segundo o painel global sobre a pandemia mantido pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos.
Apesar disso, o país viu o número de mortes aumentar repentinamente e decidiu decretar um rígido lockdown de duas semanas —a restrição iniciada em 27 de julho estava prevista para vigorar até o próximo fim de semana.
Segundo Santoro, os hospitais libaneses já vivem um cenário de “escassez de remédios e insumos básicos”.
Prontos-socorros chegaram a rejeitar pacientes feridos. O maior hospital da cidade, o St. George, teve as janelas destruídas e está com o telhado em pedaços. Pacientes internados na unidade se feriram, e os pais de crianças com câncer tiraram seus filhos às pressas dos leitos.
Uma fonte da área de segurança disse que vítimas foram levadas para tratamento fora da cidade, pois os hospitais de Beirute estavam lotados de feridos.
Dano em porto dificulta chegada de ajuda
Segundo o cientista político, a libra libanesa (moeda oficial) desvalorizou 40% nos últimos seis meses empurrando metade da população para baixo da linha de pobreza, situação agravada pela pandemia do coronavírus. A destruição parcial de seu único porto de grande porte também terá consequências na economia.
Para José Niemeyer, coordenador da graduação de Relações Internacionais da Ibmec-RJ, uma tragédia dessas proporções deve garantir ao Líbano a solidariedade da comunidade internacional.
“Geralmente, em desastres desse tipo temos a ação de organizações internacionais como a Médicos Sem Fronteiras e a ActionAid. E costuma haver cooperação internacional. Talvez tenhamos uma comoção de países centrais”, avalia.
Contudo, a destruição do porto de Beirute deve dificultar inclusive a chegada dessa ajuda humanitária.
“Há uma questão grave na logística. O país depende das importações e o principal ponto de entrada delas é justamente o porto de Beirute”, aponta Santoro.
“Como vai ficar o recebimento de insumos básicos como comida e remédios? Não tem outro porto capaz de exercer esse papel logístico. Há a possibilidade de vir por terra através de Israel. Embora seja tecnicamente possível, é algo politicamente complicado”, analisa o cientista político.