Santo católico há nove meses, Frei Galvão agora é o centro de um impasse entre a Igreja, o governo brasileiro e Congresso Nacional.

O motivo é simples: o presidente Lula sancionou, no dia 25 de outubro 2007, uma lei que define 11 de maio como Dia Nacional do Frei Sant’Anna Galvão. O problema é que os católicos já tinham uma data para homenagear o primeiro santo católico brasileiro, e o ritual já tem 186 anos de tradição.

A disputa ainda é marcada por uma “coincidência” desagradável. O presidente Lula sancionou a Lei Federal 11.532, que define o dia de Frei Galvão em 11 de maio, no mesmo dia em que a Igreja Católica já homenageava o seu santo: 25 de outubro. A idéia não foi bem recebida e o capelão do Mosteiro da Luz de São Paulo, padre Armênio Rodrigues Nogueira, deu o primeiro passo para tentar reverter o que ele chama de um “erro de Lula”.

“Eu já encaminhei um documento ao arcebispo de São Paulo [dom Odilo Scherer] para que a gente tente acabar com isso e homenagear o santo no dia do santo”, explica o padre, que é responsável pelo mosteiro construído pelo próprio Frei Galvão.

Segundo da Presidência da República, “não há até o momento qualquer manifestação ou pedido para mudança na Lei”. A data do dia Nacional de frei Galvão “foi escolhida em virtude da canonização do primeiro Santo católico brasileiro pelo Papa Bento 16”, justifica o gabinete por meio de assessoria. Frei Galvão foi canonizado durante missa do papa Bento 16 em São Paulo no dia 11 de maio de 2007.

A posição do governo é contrária à do padre Nogueira. “A Igreja sempre considera o dia de festa litúrgica a data em que o santo morre e não quando ele é canonizado”, diz ele.

Segundo o padre, a ata de canonização, que contém um histórico do processo de Frei Galvão, já está com d. Odilo. O próximo passo é encaminhar ao Executivo para que 25 de outubro seja unificado como o dia de comemoração no calendário histórico-cultural e no da Igreja. “É muito difícil mudar uma tradição de mais de 100 anos”, defende o padre.

Frei Galvão morreu em 23 de dezembro de 1822, mas como a data deixava a festa dentro da novena do Natal, foi transferida para o mesmo dia, mas no mês de outubro. Em 1998, o Papa João Paulo II veio ao Brasil e beatificou Frei Galvão no dia 25 de outubro. Segundo o padre Nogueira, por isso, o período entre os dias 23 e 25 é de comemoração e missas.

Sem solução à vista

O impasse das datas faz aniversário de um ano neste sábado. Ele começou em 23 de fevereiro de 2007, quando o Vaticano anunciou que o Papa Bento 16 viria ao Brasil e canonizaria o primeiro santo católico brasileiro em 11 de maio de 2007. Deputados e senadores movimentaram-se rapidamente e elaboraram diversos projetos para “santificar” a data, sem levar em consideração que Frei Galvão já era homenageado em 25 de outubro.

A Arquidiocese de São Paulo deixa clara sua posição: “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já se pronunciou dizendo que a data que vale é a da Igreja e não a inventada pelo Congresso”, informa por meio de assessoria.

A Lei 11.532, que oficializa o impasse, foi proposta pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Com apenas três linhas de texto, ela cria uma disputa que, segundo o padre Nogueira, ainda não tem previsão para acabar.

A assessoria da Presidência explicou que “a criação de dias em homenagens a Santos é feita somente pelo Poder Legislativo, como aconteceu no caso do Projeto de Lei do senador Francisco Dornelles”.

Fonte: Último Segundo

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