Antigos rivais, o ex-prefeito Cesar Maia (esq.) e o ex-governador Anthony Garotinho (centro) ressaltaram os “valores da família” para tentar evitar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (dir.).
Motivo de preocupação para o petista Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o discurso conservador com viés religioso começa a se desenhar também no Rio. Antigos rivais, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e o ex-governador Anthony Garotinho (PR) fizeram questão de ressaltar os “valores da família” como ponto fundamental da aliança que acabam de firmar para tentar evitar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB).
“Nossos princípios são nossos alicerces: os valores da família, valores cristãos e o compromisso com a democracia e o estado de direito”, discursou Cesar Maia no encontro que lançou a coligação DEM-PR, na segunda-feira. “Vamos firmar valores conservadores. Não vamos dizer que os outros não têm valores cristãos, cabe a eles dizerem quais são os valores deles. Nós vamos firmar nossa posição.”
A ideia não é transformar temas como legalização do aborto e da maconha e casamento gay em pontos centrais da campanha, mas deixar clara a posição contrária sempre que possível, para fazer Paes também se posicionar. A chapa DEM-PR deve ser formada pelos filhos dos dois veteranos: Rodrigo Maia, católico, candidato a prefeito e Clarissa Garotinho, evangélica, a vice.
“Somos um partido historicamente liberal na economia e, em relação aos valores, conservador, convergente com as ideias do PR do Garotinho. Não temos constrangimento em dizer que somos um partido conservador”, afirma Rodrigo Maia.
[b]Igreja e Estado
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Ao contrário de Garotinho e de sua mulher, Rosinha, ex-governadora e atual prefeita de Campos, fiéis da Igreja Presbiteriana, Cesar Maia nunca fez da religião a marca de suas campanhas ou administrações – ele foi prefeito três vezes e será candidato a vereador. Já o casal Garotinho tem um discurso permeado por referências à Bíblia e a valores cristãos. Quando governadora, Rosinha homologou a lei que instituía o ensino religioso nas escolas públicas, um projeto do deputado católico Carlos Dias, o que deu início a uma longa disputa judicial entre grupos a favor da iniciativa e os defensores do Estado laico.
Cesar Maia observa que esta será uma das raras eleições no Rio em que não haverá um evangélico entre os candidatos ao cargo majoritário. Para ele, isso “aumenta o poder de transferência (de voto) da Clarissa Garotinho”.
Nas duas últimas eleições para prefeito do Rio, o candidato evangélico foi o bispo licenciado da Igreja Universal Marcelo Crivella, que acaba de assumir a Secretaria da Pesca, em uma manobra do governo Dilma Rousseff para diminuir a resistência dos fiéis a Haddad. Um dos maiores atritos dos evangélicos com o governo ocorreu no Ministério da Educação, por causa dos kits anti-homofobia que seriam distribuídos nas escolas públicas.
“Quando você escolhe um prefeito, um governador, um presidente, você escolhe um administrador, mas também um líder que serve de exemplo para o povo”, diz Garotinho. “Ninguém está fazendo campanha para papa ou bispo, a campanha é para prefeito. Não vai ser o principal, mas as temáticas religiosas vão estar presentes.”
[b]Ecumênico[/b]
Há três semanas, Paes prometeu a líderes evangélicos “a maior Marcha para Jesus de todos os tempos”, em referência ao evento previsto para 21 de abril. O prefeito também tem feito acenos a outros grupos religiosos. Aos católicos, garantiu empenho nos preparativos para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, com participação do papa Bento 16. No ano passado, agradou os seguidores de religiões de origem africana ao dar às festas a Iemanjá o status de patrimônio cultural carioca.
Mas em nenhum segmento religioso Paes tem tanto prestígio quando na comunidade gay. Além de apoiar as marchas realizadas ao longo do ano, o prefeito criou a Coordenadoria Especial de Assuntos da Diversidade Sexual e estimula várias iniciativas, inclusive uma campanha institucional, de combate à homofobia.
[b]Fonte: Estadão[/b]