Carolina Heringer
Jornal Extra
A derrocada da deputada federal e pastora Flordelis dos Santos após a morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, tem como um de seus principais componentes a crise que suas igrejas também passaram a enfrentar.
Antes do assassinato, o Ministério Flordelis tinha, além de sua sede, no Mutondo, em São Gonçalo, outras cinco filiais. Também era construída uma nova matriz, um ousado projeto de Anderson.
Atualmente, continuam em funcionamento apenas a igreja do Mutondo e uma das filiais, em Piratininga. As restantes fecharam as portas e a obra foi paralisada.
No meio evangélico, os comentários são de que o fim das igrejas de Flordelis é uma questão de tempo, principalmente com a iminência de sua prisão, que só não ocorreu em razão da imunidade parlamentar.
Anderson do Carmo era o presidente do Ministério Flordelis e atraía fiéis pelas suas pregações, conhecidas por serem extrovertidas e cativantes. Flordelis, por outro lado, chamava o público principalmente por sua performance como cantora nos cultos, além de atuar como conselheira dos frequentadores.
Com a morte de Anderson, em junho do ano passado, e as revelações da existência de um plano dentro da família para assassiná-lo, a deputada começou a ver a debandada de frequentadores e integrantes da igreja, alguns da própria família. Misael e Luan, dois filhos afetivos que são pastores, foram alguns dos que deixaram o Ministério.
Na tentativa de reduzir a perda de fieis, o nome de Flordelis foi gradualmente retirado do nome da igreja, que passou a se chamar Comunidade Evangélica Cidade do Fogo. A manobra, no entanto, foi em vão. Recentemente, a crise se acentuou ainda mais. A deputada é responsável por comandar os cultos de quinta-feira e domingo na sede do Mutondo. No entanto, há pelo menos duas semanas, desde que virou ré pela morte de Anderson, ela não aparece no local. O EXTRA esteve na igreja na última quinta-feira, quando cerca de 30 pessoas acompanhavam o culto, que já chegou a reunir até mil.
Até cadeiras penhoradas
Agravando ainda mais o cenário, um dos filhos afetivos de Flordelis, o pastor Carlos Ubiraci, que assumiu a presidência do Ministério Flordelis após o assassinato, foi preso no último dia 24 acusado de envolvimento no crime. Ele era responsável por comandar a filial de Piratininga, única ainda em funcionamento.
A debandada de fiéis agrava uma crise financeira que teve início antes mesmo da morte de Anderson. Em um de seus depoimentos à polícia, Flordelis revelou que a igreja movimentou mais de R$ 5 milhões entre 2017 e 2019. Se a entrada de dinheiro era alta, a saída também era expressiva. Os sete imóveis nos quais as igrejas funcionavam eram alugados. As despesas com as obras da nova sede no Laranjal, em São Gonçalo, também eram elevadas.
O EXTRA consultou dois processos contra a igreja no site do Tribunal de Justiça do Rio. Em um deles, de 2018, a igreja é acusada de ter uma dívida que quase R$ 40 mil em compras de itens como cabos, roldanas e disjuntores de uma empresa. Pela falta de pagamento, a Justiça penhorou 700 cadeiras do templo religioso, mas a igreja ainda está recorrendo e os objetos não foram vendidos.
Em outro, de junho de 2019, os proprietários do imóvel do Laranjal cobram R$ 36,4 mil em alugueis atrasados. O valor acabou sendo penhorado de uma das contas da igreja. As obras do Laranjal vinham consumindo grandes quantias, o que por vezes era motivo de discordância entre Anderson e Flordelis.
A primeira estrutura construída no galpão a um custo de quase R$ 500 mil desabou e teve que ser refeita. Com a morte do pastor, as obras acabaram sendo interrompidas.
Em conversas em mensagens no celular com os filhos, reveladas ao longo das investigações da morte do pastor Anderson, Flordelis expunha a falta de dinheiro da família. Uma das filhas, Marzy, chega a avisar a mãe sobre a falta de pagamento de um aluguel, mas ela explicita a qual imóvel se refere. Nas conversas do pastor Anderson com um de seus assessores, a crise financeira também fica evidente. Em um dos diálogos, o assessor se queixa de falta de verba para consertar um carro usado por ele.
Pastora promete voltar
O Ministério Flordelis era responsável pelo principal congresso do meio evangélico no Rio, o Congresso Internacional de Missões (CIM), que começou a ser realizado em 2006. As pretensões de expansão do evento por Anderson do Carmo coincidiam com os planos de aumentar a sede da igreja. O galpão construído no Laranjal era projetado para abrigar 5 mil fiéis e o objetivo do pastor era inaugurá-lo no CIM de 2019.
Fonte: Yahoo Notícias e Jornal EXTRA