O chanceler do Vaticano, Dominique Mamberti, defendeu ontem o fortalecimento das negociações sobre dissidentes e presos políticos realizadas entre o governo cubano e a Igreja Católica. As declarações foram feitas em Havana, onde Mamberti chegou anteontem para as comemorações de 75 anos das relações bilaterais.

“O diálogo que está ocorrendo agora nos deixa feliz, e espero que seja fortalecido durante minha visita”, disse o chanceler em entrevista. O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, elogiou o trabalho que a igreja tem desempenhado na ilha. “Apreciamos o papel construtivo da igreja nesses assuntos [dos presos] e acreditamos que existem todas as condições para que essas trocas frutíferas continuem.”

A visita de Mamberti ocorre após a transferência de 12 detentos para prisões localizadas perto de suas casas e a libertação, no último sábado, de Ariel Sigler, 44. Um dos integrantes do grupo de 75 ativistas presos e condenados em 2003, após uma ação de repressão contra dissidentes do regime, Sigler –que tem paralisia nas pernas– cumpria uma pena de 25 anos por traição. Tradicionalmente, a Igreja Católica tem se mantido cautelosa nas relações com o governo comunista de Cuba desde a década de 1990.

O cenário mudou em maio passado, quando o cardeal de Havana, Jaime Ortega, interveio em um impasse entre o governo e as Damas de Branco -mulheres e viúvas de ativistas presos em 2003. Após uma conversa com o dirigente máximo cubano, Raúl Castro, Ortega e outros líderes eclesiásticos saíram otimistas sobre a intenção do governo de fazer concessões. As transferências começaram em 1º de junho -no último sábado, seis detentos foram levados a novas prisões.

Direitos humanos

A situação dos direitos humanos na ilha é tensa desde fevereiro, quando outro prisioneiro político, Orlando Zapato Tamayo, morreu após 85 dias de greve de fome. Outro dissidente, Guillermo Fariñas, está em jejum há quatro meses pela libertação de presos políticos doentes. Cuba nega que mantenha prisioneiros políticos, afirmando que os detentos são criminosos comuns e mercenários enviados por Washington para desestabilizar o regime comunista.

Mamberti disse não ter planos de se reunir com dissidentes, apesar de não ter descartado a possibilidade. Ele também deve participar de discussões sobre a situação econômica da ilha -que sofre embargo dos EUA desde 1962.

Apesar de o encontro não estar previsto na agenda de Mamberti, fontes eclesiásticas disseram que o chanceler da Santa Sé pode ser recebido por Castro antes de concluir a viagem, no domingo.

Fonte: Folha de São Paulo

Comentários