Após promover um encontro com as principais vítimas de abusos sexuais por parte de religiosos chilenos e depois com 34 bispos deste país, o papa Francisco recebeu nesta sexta-feira (18) o pedido de renúncia de toda a delegação. É a primeira vez que acontece uma renúncia coletiva na história da Igreja Católica.
“Colocamos nossos postos nas mãos do Santo Padre e deixaremos que ele decida livremente por cada um de nós”, informaram os bispos em uma coletiva de imprensa no Vaticano. Eles também pediram perdão ao Chile, às vítimas de abusos e ao papa.
As acusações de pedofilia praticadas por membros da Igreja no Chile vieram à tona em 2004. As autoridades eclesiásticas do país não teriam se movido frente às denúncias de inúmeras vítimas – só em 2011 um único padre foi punido pelos casos.
Os escândalos de pedofilia no Chile ganharam projeção durante a visita do papa ao país, em janeiro. Na época, um grupo de vítimas insistiu em se reunir com o pontífice para entregar-lhe provas dos abusos, mas o papa se recusou a recebê-los por acreditar na inocência dos religiosos.
Depois, porém, o papa reconheceu ter cometido “graves erros de avaliação” sobre caso, desculpando-se e chamou as vítimas a Roma.
O principal acusado é o bispo de Osorno, Juan Barros, um dos que renunciaram. Ele teria acobertado atos de pedofilia cometidos pelo padre Fernando Karadima nas décadas de 1970 e 1980. O sacerdote foi condenado em 2011 por abusar sexualmente de adolescentes.
Em declarações à chilena Rádio Cooperativa, Juan Carlos Cruz, uma das pessoas que afirmam terem sido vítimas de abuso perpetrado por um sacerdote católico no Chile, disse que o anúncio da renúncia constitui um fato “absolutamente inédito”.
“Os bispos usam eufemismos para explicar o que aconteceu, mas todos os bispos renunciarem, colocando seus cargos à disposição do papa, é algo que nunca havia ocorrido em uma conferência episcopal”, afirmou.
Cruz foi um dos principais denunciantes de Barros. Ele disse estar satisfeito com a atitude de Francisco perante os prelados chilenos – o pontífice atribuiu a responsabilidade em relação aos casos de abuso sexual.
“Os que mais causaram danos e nos provocaram dor e sofrimento foram os bispos”, declarou.
Fonte: Folha de São Paulo e BBC Brasil