A escola de samba Unidos do Porto da Pedra informou que recebeu na sexta-feira (30) uma comissão da Arquidiocese do Rio de Janeiro para conhecer o carro que traz esculturas representando o pensamento cristão medieval queimando hereges numa fogueira.

Segundo a Porto da Pedra, a Arquidiocese solicitou alterações, que serão avaliadas pela direção de carnaval da escola. Assim que a alegoria estiver concluída, um segundo encontro entre representantes da Porto da Pedra e da Igreja será marcado e o resultado das negociações será divulgado em entrevista coletiva de representantes de ambas as instituições.

Na nota divulgada, a escola reafirma que sua “alegoria não ofende a Igreja, nem símbolos sacros, dogmas ou membros de seu corpo eclesiástico”.

A Porto da Pedra, primeira escola a desfilar na segunda-feira (23 de fevereiro), vai apresentar o enredo “Não me proíbam de criar, pois preciso curiar! Sou o país do futuro e tenho muito a inventar”.

Carnavalesco opina

Irritado, o carnavalesco Max Lopes, diz que a polêmica foi criada para prejudicar seu trabalho e que em momento algum pensou em denegrir a imagem da Igreja Católica. Segundo ele, o carro representa o pensamento medieval que proibia e condenava tudo o que não estivesse de acordo com a doutrina cristã.

“Não estou ofendendo nem denegrindo a imagem de qualquer religião. Até porque, fui coroinha, criado na religião católica. Meu enredo é sobre criatividade e curiosidade, que gera conhecimento, desde o tempo de Adão e Eva. A Idade Média e o Renascimento são períodos da História que não podem ser descartados. Não podemos abrir uma lacuna na História”, defende-se o carnavalesco, dizendo que sem a alegoria, o enredo fica incompleto.

Max garante que nunca pensou em criar atrito com qualquer religião e que teme ser “castigado”. Se for obrigado a abrir mão da alegoria, diz que não terá condições de substituí-la a tempo para o desfile.

O carro traz figuras vestidas de laranja, como um papa, ao redor de uma fogueira, onde eram queimados objetos e pessoas acusadas de bruxaria. As esculturas, afirma Max, são uma representação carnavalizada dos guardiões da moral do período da Inquisição. Efeitos especiais vão acender a fogueira da alegoria.

“Não sei por que estão fazendo isso comigo. Não chutei imagens sagradas, não estou falando de santos. Não censuraram nem o filme nem o livro “O nome da rosa” porque querem criar polêmica com o meu carro? Já fiz referências à Igreja em outra escola, onde montei até uma procissão e não fui censurado. Quero apenas contar o que aconteceu, passar um pouco de cultura através da História”, pondera Max, que não pretende modificar a alegoria.

Fonte: G1

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