Pais de alunos de escolas católicas na Espanha denunciaram esta semana que os estabelecimentos de ensino estão fazendo campanha contra a lei do aborto aprovada este mês pelo governo do primeiro-ministro José Luis Rodriguez Zapatero.
Segundo as queixas, as escolas estariam exibindo um vídeo com imagens chocantes de fetos abortados, ensaguentados e mutilados ao lado de fotos do primeiro-ministro sorrindo.
O vídeo, criado pela organização Direito a Viver, faz parte da campanha contra a nova lei do aborto, que permite que mulheres a partir dos 16 anos abortem sem autorização dos pais.
Em uma das escolas, Puríssima Conceição e Santa Micaela em La Rioja, no centro-leste da Espanha, muitos alunos teriam sido obrigados a assistir ao vídeo, apesar de terem pedido para sair durante as exibições nas aulas de ética, segundo os pais.
O vídeo dura pouco mais de dois minutos e tem 22 imagens projetadas em slide com fotos de supostos fetos destroçados por abortos.
A montagem também inclui frases bíblicas, cenas de bebês saudáveis e acusações ao governo socialista de Zapatero.
Em uma das fotos, o premiê aparece sorrindo ao lado de dois dirigentes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e a frase: “Eles riem enquanto muitas crianças inocentes morrerão com a nova lei do aborto”.
As denúncias dos pais dos alunos foram encaminhadas ao grupo socialista de La Rioja, que taxou a atitude do colégio como “manipulação repugnante”.
A representação local do partido fez uma queixa formal ao Parlamento espanhol, ao governo de La Rioja e emitiu uma nota à imprensa afirmando que a projeção do vídeo “é inaceitável e uma falta de respeito aos alunos e as famílias”.
O partido pediu ao governo uma investigação para apurar quantos colégios estariam exibindo o vídeo, criticando o fato de que as escolas acusadas, recebedoras de subvenção pública, estariam incitando os alunos a mandar cartas de repulsa ao premiê e pedindo que ninguém vote nele.
Segundo o jornal La Rioja, a diretora do colégio Puríssima Conceição, Maria Victoria Vindel, disse que “nunca houve intenção de fazer política nas aulas. Apenas praticar o Evangelho”.
“Só tentamos viver o Evangelho. Passamos sim o vídeo, mas em nenhum momento pensei que fosse antigovernamental porque eu me considero apolítica”.
A projeção tem o apoio da Federação Católica de Associações de Pais de Alunos de La Rioja (CONCAPA).
O porta-voz da federação, Enrique Domingo, disse à BBC Brasil que o vídeo “tem imagens chocantes porque é a realidade do aborto”.
“É assim mesmo. Os adolescentes têm que ver o que é para poder formar uma opinião. A posição da igreja e dos fiéis sobre esse tema está clara. Portanto que uma escola católica exiba um vídeo e faça campanha antiaborto é uma questão de coerência”.
O porta-voz discorda apenas de incluir acusações diretas ao governo e as incitações contra Zapatero. “Para mim esse é o único erro”.
O grupo convocou uma manifestação em Madri para o próximo domingo, 29. A direção do colégio acusado não quis dar declarações à BBC Brasil.
Fonte: BBC Brasil