Ex-senadora do PSDB, suplente de FHC no senado, a socióloga e militante feminista, Eva Blay (foto) diz que as igrejas resistem ao tema aborto por razões políticas.
A comissão criada no Senado está na direção certa ao propor a flexibilização da legislação sobre aborto. Suas propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.
A visão é da socióloga Eva Blay, professora da USP e histórica militante feminista.
Eleita suplente de FHC para o Senado nos anos 1990, ela se tornou senadora pelo PSDB e apresentou projeto descriminalizando o aborto, enfrentando a ira de religiosos.
Para ela, igrejas resistem ao tema por razões políticas. E acrescenta: “Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina”.
Blay, 74, avalia que a reação conservadora à nomeação de Eleonora Menicucci revela que a nova ministra significa um passo à frente. Mas ainda é preciso acabar com os “valores patriarcais ainda em vigor no país”, diz.
[b]Folha – Qual sua opinião sobre a comissão do Senado que sugeriu flexibilizar a legislação sobre o aborto?
[/b]Eva Blay – Achei muito importante a iniciativa do Senado de criar uma comissão de juristas para tratar de várias questões, inclusive da interrupção da gravidez. As propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.
[b]Países como Portugal e Itália, onde a religião é forte, legalizaram o aborto. Por que esse tema é tão difícil no Brasil?
[/b]A resistência da parte de algumas igrejas tem no fundo um teor político. Isto é, intervém sobre o voto eleitoral que elas procuram conduzir. Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina.
Curioso que nada é dito sobre os homens, que, aliás, são tão responsáveis quanto as mulheres pela gravidez.
[b]Como avalia o governo Dilma?
[/b]Eleger uma mulher no Brasil para a Presidência foi um grande passo. Mas não bastaria apenas ser mulher. Dilma está fazendo um excelente governo no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.
Nomeou mulheres competentes para cargos ministeriais importantes, com isso traçou um novo paradigma no processo de igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
[b]A nomeação da ministra Eleonora Menicucci gerou reações entre os evangélicos.
[/b]Nomeá-la para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres foi excelente. Eleonora reúne competência profissional, visão feminista, atestada em suas obras na universidade e nos movimentos sociais. A reação conservadora a Eleonora revela que ela significa um passo à frente.
[b]Onde houve mais avanços nos direitos das mulheres?
[/b]Avançamos muito, com ou sem a ajuda dos partidos políticos. Nosso maior problema ainda é a violência contra a mulher de todas as idades.
Só vamos superar esse problema quando, juntamente com os homens, mudarmos os valores patriarcais ainda em vigor no país. Vale repetir que ninguém é dono de ninguém e quem ama não mata.
[b]Deveria vigorar uma lei punindo o empregador que paga menos à mulher que exerce a mesma função que homem?
[/b]Punir é importante. Não se trata de lei, mas de acordar um princípio.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]