A cadeia de lojas Wal-Mart, a maior dos Estados Unidos, decidiu retirar de venda a revista em quadrinhos Memín Pinguín – uma das mais populares do México – depois que uma cliente se queixou de que a publicação é “racista”.
Memín é um menino negro que vive em um bairro pobre da Cidade do México, tem lábios muito grossos, olhos e orelhas grandes. Ele vende jornais e engraxa sapatos, mas também vai à escola. Ele vive com a mãe, o único outro personagem negro da história.
A cliente que se queixou formalmente aos diretores da Wal-Mart, Shawnedria McGinty, também é negra e disse que a caricatura é um insulto. Ela disse que ao abrir a revista se perguntou se o desenho mostrava um menino ou um macaco.
McGinty recebeu o apoio do militante afro-americano Quannel X, que disse em um discurso que os desenhos – “a mãe com lábios grandes e a pele escura, como se fosse um gorila, e ele (Memín), como um macaquinho” – eram como uma bofetada nos negros dos Estados Unidos.
A polêmica aumentou ainda mais porque a edição da revista que a Wal-Mart oferecia tinha o título Memín para presidente, algo que muitos interpretaram como uma alusão à participação de um candidato negro na atual corrida presidencial americana.
Muitos viram nesta revista uma alusão às eleições americanas. O negro Barak Obama é negro e é pré-candidato à sucessão do presidente George W. Bush.
Ignorância
A revista em quadrinhos é conhecida no México desde 1940, quando apareceu pela primeira vez. Ao longo dos anos vem sendo uma das mais populares entre as crianças.
A empresa que edita a revista nega que ela tenha conteúdo racista.
“Tomaram esta história como uma questão discriminatória, quando na verdade não é”, disse à BBC Mundo Manelick de la Parra, presidente da editora Vid.
Segundo ele, se trata “da história de um negrinho que se destaca e se impõe em uma sociedade discriminatória e sempre ganha. Isto é o que torna Memín tão especial”, explicou.
De la Parra disse que Memín para presidente faz referência às eleições presidenciais mexicanas de 2006, e que foi nesse momento que ela foi às bancas no México.
O empresário reclama que este incidente só vai aprofundar as diferenças entre as comunidades mexicanas e afro-americanas, e atribui a queixa e a decisão da Wal-Mart à ignorância. “E com a ignorância vêm repressão e falta de liberdade”, afirmou.
A editora diz que a decisão da Wal-Mart não chega a prejudicar seu desempenho financeiro. Na verdade, a editora seria beneficiada, segundo o presidente da empresa, com o que ele considera uma “publicidade maravilhosa para aqueles que sabem que Memín Pinguín não é racista”.
Choque cultural
A reação provocada por Memín pode ter fundos culturais que mostram as diferenças entre Estados Unidos e México.
“A figura de Memín não se traduziu muito bem na cultura americana”, disse Raúl Ramos, do Departamento de Estudos México-americanos, da Universidade de Houston, no Estado americano do Texas.
Ramos explica que as falhas de tradução se aplicam também às imagens “porque a sensibilidade ante os temas afro-americanos são diferentes no México, onde não há uma grande comunidade negra, e nos Estados Unidos, onde há um histórico de ícones com conotação racista, como Tia Jemima (imagem de uma marca de panquecas)”.
O incidente com Memín Pinguín é para Ramos um exemplo do que acontece quando duas culturas se encontram.
“Isto é resultado da globalização e das migrações de mexicanos para os Estados Unidos e é inevitável. Estas coisas vão continuar acontecendo”, disse Ramos.
Mesmo que a comunidade hispânica e a afro-americana tenham lutado juntas em frentes contra o racismo e a exclusão social, “também há diferenças culturais e de linguagem que são muito difíceis de superar”.
Ramos espera que o incidente sirva para mostrar que estas diferenças existem e para que as comunidades envolvidas façam um esforço para se entenderem melhor.
Fonte: BBC Brasil