Com a queda na frequência, muitas igrejas europeias estão sendo desativadas e aproveitadas para outros propósitos. A igreja de St. Joseph (foto), em Arnhem, Holanda, virou uma pista de skate

Numa noite recente, mais de 20 skatistas em roupas batidas realizavam saltos perigosos em uma velha igreja em Arnhem, na Holanda, observados por um mosaico com a aparência de Jesus e uma série solene de estátuas de santos. Trata-se da pista de skate Arnhem Skate Hall, uma reencarnação desconcertante da Igreja de St. Joseph, que já ressoou com as preces de cerca de mil fiéis.

Ela é uma das centenas de igrejas fechadas ou ameaçadas pela queda no número de frequentadores, uma tendência que coloca uma questão para as comunidades e governos da Europa Ocidental: o que fazer com esses prédios que já foram sagrados, mas hoje estão vazios e preenchem em número cada vez maior o interior do continente, do Reino Unido à Dinamarca?

O Skate Hall pode não durar muito. A outrora imponente igreja está cheia de danos provocados por infiltrações e precisa urgentemente ser reformada, a cidade cobra impostos dos skatistas e a Igreja Católica Romana, que ainda é dona do prédio, está tentando vendê-lo a um preço que os skatistas não têm condições de pagar.

“Estamos numa terra de ninguém”, diz Collin Versteegh, que tem 46 anos e é gerencia a pista de skates. “Não temos espaço de manobra.”

Casos como o do Skate Hall estão se reproduzindo num continente que por muito tempo alimentou o cristianismo, mas está se tornando implacavelmente secular.

O fechamento das igrejas reflete o rápido enfraquecimento da fé na Europa, um fenômeno que é doloroso tanto para os fiéis quanto para outros que veem a religião como um fator unificador numa sociedade desigual.

“Nessas cidades pequenas, você tem um café, uma igreja e umas poucas casas — e esse é o lugar”, diz Lilian Grootswagers, ativista que lutou para salvar a igreja em sua cidade, na Holanda. “Se a igreja for abandonada, veremos uma grande mudança em nosso país.”

As tendências relativas a outras religiões na Europa não se igualam às do cristianismo. O judaísmo ortodoxo, que é predominante no continente, tem se mantido relativamente estável. O islamismo, por sua vez, cresceu com a imigração de muçulmanos da África e do Oriente Médio. O número de muçulmanos na Europa cresceu de 4,1% do total da população europeia em 1990 para cerca de 6% em 2010 e deve atingir 8%, ou 58 milhões de pessoas, em 2030, segundo o Pew Research Center, um centro de pesquisas de Washington.

Para os cristãos, o fechamento de uma igreja — frequentemente o centro da praça da cidade — é um fato emotivo. Aqui as pessoas rezaram, sentiram pesar e alegria e buscaram um relacionamento com Deus. Mesmo alguns moradores seculares estão descontentes de ver esses marcos caírem em desuso ou serem demolidos.

Quando as igrejas fecham, as cidades geralmente querem recriar a atmosfera de um centro comunitário encontrando usos importantes para esses prédios históricos. Mas a manutenção das propriedades quase sempre é caras e há um limite para o número de bibliotecas e salas de concerto que uma cidade pode sustentar financeiramente. Então, projetos comerciais acabam ocupando esses espaços.

Dados de igrejas fechadas em toda a Europa são escassos, mas os resultados por país são expressivos.

A Igreja da Inglaterra fecha cerca de 20 igrejas por ano. Quase 200 igrejas dinamarquesas foram consideradas inviáveis ou subutilizadas. Já a Igreja Católica Romana na Alemanha fechou cerca de 515 igrejas nos últimos dez anos.

Mas é na Holanda que a tendência parece estar mais avançada. Os líderes da Igreja Católica Romana do país estimam que mais de 65% das 1.600 igrejas holandesas estarão desativadas em dez anos, e 700 igrejas protestantes da Holanda devem fechar dentro de quatro anos. “Os números são tão grandes que toda a sociedade será confrontada por eles”, diz Grootswagers, ativista do Futuro do Patrimônio Religioso, que trabalha para preservar igrejas. “Todo mundo será confrontado com grandes construções vazias na vizinhança.”

Os EUA tem evitado uma onda similar de fechamento de igrejas nesse momento porque os cristãos americanos permanecem mais ativos religiosamente que os europeus. Mas pesquisadores da religião dizem que o declínio no número de frequentadores de igrejas indica que o país enfrentará o mesmo problema em alguns anos.

Com as comunidades lutando para reinventar suas velhas igrejas, algumas soluções se mostram menos dignas que outras. Na Holanda, uma antiga igreja se tornou um supermercado, outra uma floricultura, uma terceira virou uma livraria e uma quarta uma academia de ginástica. Em Arnhem, uma loja de roupas modernas chamada Humanoid ocupa uma igreja datada de 1889, com prateleiras de roupas femininas elegantes dispostas sob os vitrais decorados das janelas.

Em Bristol, na Inglaterra, a antiga igreja de St. Paul se tornou a Circomedia, uma escola de treinamento para circo. Os diretores dizem que os tetos elevados são perfeitos para equipamentos aéreos como os trapézios.

Em Edimburgo, na Escócia, uma igreja luterana virou um bar temático sobre Frankenstein, com tubos de ensaio cheio de bolhas, raios laser e um boneco do monstro em tamanho real que desce do teto à meia-noite.

Muitas igrejas, especialmente as menores, estão se tornando lares, o que gerou todo um setor para conectar potenciais compradores com as velhas igrejas. As igrejas da Inglaterra e da Escócia listam propriedades disponíveis on-line, com descrições dignas de uma corretora imobiliária. A Igreja de St. John em Bacup, na Inglaterra, por exemplo, é descrita como possuindo uma “nave elevada e quartos no portão com tetos abobados de pedra, a um custo de cerca de US$ 160.000.

Igrejas desocupadas são um problema grande o suficiente para atrair a atenção dos governos. O da Holanda, juntamente com grupos religiosos e civis, adotou uma agenda nacional para preservação dos prédios. A província holandesa de Friesland — onde 250 das 720 igrejas existentes foram fechadas ou transformadas — possui uma “equipe Delta” para encontrar soluções.

“Toda igreja é um debate”, diz Albert Reinstra, especialista em igrejas na Agência de Patrimônio Cultural da Holanda. “Quando elas ficarem vazias, o que nós faremos com elas?” Os preservacionistas dizem que, na maioria das vezes, não há dinheiro suficiente para criar novos usos comunitários para as construções.

O debate pode ter efeitos dolorosos e pessoais. Quando Paul Clement, frade superior da Ordem de Santo Agostinho da Holanda, entrou para a ordem, em 1958, ela possuía 380 frades; agora, tem apenas 39. O frade mais jovem de seu monastério tem 70 anos e Clement, com 74, está planejando vender a igreja. “É difícil”, diz ele. “É triste para mim.”

[b]Fonte: The Wall Street Journal[/b]

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