Mais de dois anos após o início da invasão russa na Ucrânia, as consequências em todos os níveis são devastadoras.
Um dos grupos mais visados pela Rússia na Ucrânia ocupada são os evangélicos, perdendo apenas para os membros da Igreja Ortodoxa Ucraniana.
A revista Time informou que 34% das perseguições religiosas registradas tinham como alvo os protestantes, 48% deles na região de Zaporizhzhia.
Há mais de 600 locais de culto destruídos, mais de trinta casos de religiosos mortos e sequestrados, 109 casos conhecidos de interrogatório forçado, bem como expulsões, prisões, detenções e, às vezes, até tortura.
A denominação evangélica mais afetada durante a invasão russa foi a dos batistas (13%), a terceira maior denominação da Ucrânia. Sob o controle russo, 400 congregações batistas desapareceram, 17% do total na Ucrânia, observa o relatório da revista Time.
Petro Dudnyk, pastor da Good News Church em Sloviansk, uma cidade na região de Donbas, disse à rádio Svoboda que o motivo da perseguição é que as forças de ocupação “acham que os protestantes são a fé americana, e os americanos são nossos inimigos, portanto, os inimigos devem ser destruídos”, relata a Time.
Para Azat Azatyan, pastor batista de crianças e fundador do centro infantil Garne Misce em Zaporizhzhia, que passou 43 dias em cativeiro e foi torturado, “o que o Kremlin teme dos protestantes é que sigamos a lei de Deus, não a deles, e eles querem ter tudo sob seu controle”.
Relatório sobre liberdade religiosa
Em fevereiro passado, a International Religious Freedom or Belief Alliance (IRFBA) publicou um relatório denunciando que “líderes e denominações religiosas considerados desleais são perseguidos por meio de acusações infundadas de espionagem, sectarismo, extremismo ou atividades missionárias ilegais”.
“Os fiéis ucranianos são coagidos pelas autoridades de ocupação a se registrarem novamente, aceitarem a cidadania russa e apresentarem listas de membros da comunidade. No entanto, mesmo o cumprimento dessas exigências não garante o novo registro”, acrescenta o relatório.
O IRFBA conclamou a comunidade internacional a “se solidarizar com a Ucrânia, abordar as repercussões da agressão russa e responsabilizar a Federação Russa pelas violações flagrantes do direito internacional, incluindo crimes contra a humanidade e crimes de guerra”.
Conflito na Igreja Ortodoxa
Após dois anos de guerra, apenas 4% dos ortodoxos ucranianos permanecem leais ao Patriarcado de Moscou e ao seu líder, o Patriarca Kirill. A maioria mudou sua filiação para a Igreja Ortodoxa sob o Patriarcado de Kiev.
Kirill apóia abertamente o governo na guerra e prometeu a “purificação dos pecados” dos soldados russos que morrem no campo de batalha. Entretanto, alguns clérigos ortodoxos também foram acusados de questionar a guerra.
De acordo com o IRFBA, “o envolvimento do Patriarcado de Moscou, muitas vezes chamado de Igreja Ortodoxa Russa, na tentativa de legitimar a agressão russa e corroer a soberania ucraniana é inequívoco”.
O parlamento ucraniano está trabalhando em um projeto de lei que proibiria as organizações religiosas controladas por um país que esteja praticando agressão armada contra a Ucrânia.
Perseguição dentro da Rússia
A pressão de Putin sobre grupos religiosos minoritários também continuou dentro da Rússia.
Em agosto passado, um tribunal proibiu a atividade do principal grupo de vigilância da liberdade de religião e crença, o SOVA, por “violações graves e irreparáveis”.
Em março de 2023, várias pessoas foram multadas por citarem a Bíblia para “desacreditar as forças armadas” e, um mês depois, um pastor batista russo em Bryansk foi condenado por “trabalho missionário ilegal”.
Fora da Rússia, Yury Sipko, um conhecido pastor batista russo que serviu no passado como líder da União Evangélica Batista Russa, foi forçado a fugir para o exílio na Alemanha e não se espera que tenha permissão para voltar para casa.
Além disso, um membro de uma igreja evangélica livre em Vladivostok, perto da fronteira entre a China e a Coreia do Norte, foi condenado a dois anos e seis meses de prisão por se recusar a lutar pela Rússia na Ucrânia.
Folha Gospel com informações de Evangélico Digital