Atualmente, é fácil presenciar esse “ritual” na maioria das igrejas evangélicas. Algo que, há alguns anos, pouco se via, hoje tem crescido rapidamente: os grupos de dança. Na realidade deixaram de ser grupos, para serem Ministérios de Dança.

As igrejas evangélicas, que outrora não tinham nenhum grupo de dança, agora têm vários. O que aconteceu? Por que esses grupos têm crescido tanto no meio evangélico? E o que falar a respeito da polêmica cristã, na qual muitos dizem que dançar é pecado? Será que houve uma mudança de mentalidade dos líderes das igrejas, com relação à dança?

Segundo o pastor da igreja do Evangelho Quadrangular, Antônio Francisco de Farias, 35 anos, a dança, como, todas as demais coisas, é algo criado por Deus com um propósito específico: o louvor e adoração.

“A Bíblia relata em 2 Samuel 6: 14 que o rei Davi dançou na presença de Deus. Por isso, nós também dançamos na igreja, para adorá-lo, porque somo felizes por tudo que Ele tem feito em nossa vidas e porque o amamos”, afirma.

Para o assistente administrativo Saulo de Souza de Macedo, 19, as pessoas que freqüentam boates e danceterias vão aos locais buscando algum contentamento. E muitas vezes esperam encontrar no extravasamento da dança alegria e diversão. “É bom sair para dançar. Acho que fico menos estressado quando vou para a boate me divertir!”, comenta.

Farias dá um alerta em relação à dança nas Igrejas. “É preciso ter sempre cautela, para que não haja uma banalização da dança, e, em vez de adoração, tenhamos apenas um simples balançar de corpos sem qualquer propósito, servindo apenas de entretenimento para os membros da igreja”, ressalta.

Janaína Meireles de Oliveira Silva, 22, é líder do Ministério de Dança Exaltai da Igreja Batista do Bosque e trabalha há dez anos com dança. Para ela, o que vem acontecendo é que os pastores têm compreendido que a dança é tão importante quanto à oração e o louvor. Assim como os participantes dos grupos, que reconhecendo a responsabilidade que é adorar a Deus por meio de danças têm também se dedicado constantemente, aprimorando se na parte técnica e espiritual.

O grupo, que ensaia toda semana, é acompanhado por profissionais de dança que fazem parte da igreja. “Entendemos que dançar para Deus é uma forma de gratidão, de adoração, quando estamos dançando, estamos dando ao Senhor uma adoração com tudo o que temos e com tudo o que somos. Não importa onde dançamos, no quarto, na igreja, em um seminário ou em um momento devocional. Se esta dança é para o Senhor, e exclusivamente para Ele, Ele estará recebendo nossa adoração”, diz Janaína.

Segundo a estudante Dayanne Cardoso da Costa, 17, cada pessoa recebeu um talento específico para que pudesse adorar ao Senhor. Uns cantam, outros evangelizam, pregam e fazem teatros. “Se as pessoas dançam para manter a saúde, para seduzir alguém ou por simples prazer. Então por que não dançar para aquele que entregou seu único filho para morrer por nós?

Será que Deus não merece nossa gratidão?”, indaga a estudante.

Já o professor de língua inglesa Antônio Ferreira Gomes não concorda com a forma que a dança é realizada hoje na maioria das igrejas evangélicas, mas reconhece a função social desses grupos de dança. Segundo ele a música gospel se caracteriza por sua leveza, não pelo que tem acontecido hoje, quando em meio aos cultos há pessoas dançando de qualquer jeito, muitas vezes gritando e fazendo baderna. Entretanto não podemos deixar de levar em conta a importância do trabalho social que as igrejas exercem, “é muito melhor ver um o jovem envolvido num trabalho na igreja do que vê-lo no mundo do crime ”, diz o professor.

“Dançar faz bem ao corpo e à mente”

Você já deve ter ouvido isto!

“‘Eu louvo a dança, pois ela liberta o ser humano do peso das coisas, une o solitário à comunidade. Eu louvo a dança, que tudo pede e tudo promove; saúde, mente clara e uma alma alada. Dança é a transformação do espaço, do tempo e do ser humano. Eu louvo a dança! Ser humano, aprenda a dançar! Senão os anjos do céu não saberão o que fazer de você’.

A citação de Santo Agostinho comprova que não é de hoje que a dança seduz gerações desde que o mundo é mundo.

A dança em sentido geral, é a arte de mover o corpo segundo uma certa relação entre tempo e espaço, estabelecida graças a um ritmo e a uma composição coreográfica .

Considerada a mais antiga das artes, é a única que dispensa materiais e ferramentas. Ela só depende do corpo e da vitalidade humana para cumprir sua função enquanto instrumento de afirmação dos sentimentos e experiências subjetivas do homem.

Segundo certas correntes da antropologia, as primeiras danças humanas eram individuais e se relacionavam à conquista amorosa.

As danças coletivas também aparecem na história da civilização e sua função associava-se à adoração das forças superiores ou dos espíritos para obter êxito em expedições guerreiras ou de caça ou ainda para solicitar bom tempo e chuva. Como acontecia no antigo Egito, 20 séculos antes da era cristã, já se realizavam as chamadas danças astro teológicas em homenagem ao deus Osíris.

A professora do curso de educação física da Universidade Federal do Acre, Shirley Regina de Almeida Batista, revela que a medicina realmente recomenda a dança, justamente por ser uma atividade extremamente prazerosa e capaz de proporcionar um condicionamento físico muito bom. Melhora a capacidade cardiorrespiratória, diminui a pressão arterial, ajuda a perder calorias, fortalece os músculos, atenua as dores e pode prevenir problemas futuros posturais.

Sem contar os efeitos psicossociais, já que possibilita um aumento do convívio social, podendo ajudar a desinibir, além de relaxar, “Por isso acredito que se a dança traz tantos benefícios ao corpo ela com certeza traz também ao espírito. Por isso não vejo problema algum em dançar nas igrejas”, diz Shirley.

Fonte: Página 20

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