O adolescente Lucas Terra foi assassinado porque flagrou o pastor Fernando Aparecido da Silva mantendo relação sexual com o pastor Joel Miranda, dentro da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), situada na Pituba.

A declaração foi feita pelo ex-pastor auxiliar Sílvio Roberto Galiza, condenado a 18 anos pelo crime, durante interrogatório feito pelo juiz Vilebaldo Freitas, titular da 2a Vara do Júri, no Fórum Ruy Barbosa, em Nazaré, no processo que julga a participação do pastor no homicídio. O promotor Davi Gallo Barouh, do Ministério Público Estadual, comemorou a revelação feita por Galiza na manhã de ontem, dizendo ter finalmente descoberto a motivação do assassinato.

Galiza afirmou ainda que a cúpula da Igreja Universal na Bahia sabia do envolvimento de Silva e Miranda no desaparecimento do adolescente. O ex-pastor condenado pelo crime também acusou de envolvimento no caso um segurança do pastor Fernando de prenome Luíz Cláudio, até então desconhecido.

Durante mais de três horas de interrogatório, iniciado por volta das 9h, Galiza respondeu às perguntas formuladas pelo juiz Cássio Miranda, pelo promotor Davi Gallo e pelo advogado de defesa do pastor Fernando, Mário de Oliveira Filho. O magistrado iniciou questionando ao ex-pastor auxiliar se ele confirmava as duas versões apresentadas ao Ministério Público no início de 2006. Galiza negou ter participado da morte do adolescente e acusou o pastor Fernando e o pastor Joel.

Galiza disse que não contou a verdade anteriormente porque foi ameaçado de morte pelos dois acusados e pelo segurança Luiz Cláudio. Segundo o ex-pastor auxiliar, a primeira ameaça que teria sofrido ocorreu dentro da Igreja Universal, na Avenida Manuel Dias da Silva, bairro da Pituba, quando ele descobriu casualmente um corpo humano em um caixote de madeira, coberto por panos. O corpo teria sido visto por ele dentro do porta-malas do Gol de cor verde, utilizado pelo pastor Fernando, na noite de 22 de março de 2001, um dia após o desaparecimento do adolescente Lucas Terra.

Segundo a versão confirmada por Galiza ontem, Fernando, Joel e Luiz Cláudio teriam dito que ele viu demais e o ameaçaram de morte, caso contasse o que tinha encontrado na mala do carro. O pastor teria dito que, se o pastor auxiliar falasse algo, o fim dele seria igual ao de Lucas. Na manhã do dia 23, o corpo de Lucas Terra (identifcado posteriormente) foi encontrado carbonizado, junto com uma caixa de madeira, num terreno baldio, na Avenida Vasco da Gama, onde atualmente funciona uma loja do supermercado Extra.

Desaparecimento – Sílvio Galiza confirmou que saiu junto com Lucas e o pastor de prenome Luciano, da Igreja Universal do bairro de Santa Cruz, na noite de 21 de março de 2001, data em que o adolescente desapareceu. O ex-pastor auxiliar e Lucas teriam embarcado num ônibus, sendo que a vítima desceu no ponto próximo à Ceasa do Rio Vermelho, com intenção de tomar outro coletivo para a sede da Iurd da Pituba, onde tinha marcado encontro com o pastor Fernando.

Conforme seu depoimento, Galiza teria seguido no mesmo ônibus até o Rio Vermelho, dirigindo-se à igreja onde morava. O condenado conta que, na mesma noite, o pastor Fernando chegou ao templo do Rio Vermelho acompanhado por Lucas, a bordo do volkswagen Gol verde. O adolescente aparentava ter chorado, tendo a voz trêmula e olhos vermelhos, além de apresentar hematomas na região do pescoço.

Quando Galiza questionou o que tinha ocorrido com Lucas, o pastor Fernando disse que depois contava e mandou que ele comprasse um lanche para o adolescente. Para o ex-pastor auxiliar, Fernando levou Lucas até o Rio Vermelho para tentar incriminá-lo, porque várias pessoas veriam os dois juntos na loja de conveniência, localizada num posto de combustível próximo. No trajeto até o posto, Lucas revelou a Galiza ter flagrado Fernando e Joel fazendo sexo na igreja da Pituba após o culto. O pastor teria estrangulado Lucas e o ameaçado de morte, caso ele contasse o que viu.

Galiza contou ainda que retornou com Lucas ao templo da Iurd, situado a poucos metros, de onde o adolescente partiu imediatamente, levado pelo pastor Fernando, a bordo do Gol verde. O ex-pastor auxiliar alegou ter visto Lucas Terra vivo pela última vez na noite de 21 de março de 2001.

Advogado busca contradições

Depois de Galiza ter confirmado a versão que contou ao Ministério Público e à polícia em 2006, o advogado de defesa do bispo Fernando, Mário de Oliveira Filho, começou a questionar o ex-pastor auxiliar, na tentativa de flagrar contradições entre o depoimento atual e as declarações feitas anteriormente. “A palavra de Galiza não tem validade nenhuma. Ele é um condenado, acusando um dois homens honestos”, disparou Oliveira Filho.

O advogado também tentou demonstrar a ligação íntima entre Galiza e Lucas, perguntando sobre um episódio em que os dois dormiram juntos numa cama, na Igreja Universal do bairro da Santa Cruz. Galiza confirmou o fato, mas negou que tivesse poder sobre o adolescente, inclusive impedindo um namoro dele com uma jovem que freqüentava o mesmo templo. O advogado admitiu que sua estratégia é desqualificar Galiza, demonstrando que ele é mentiroso.

O promotor Davi Gallo achou estranho que o advogado de defesa não tenha feito nenhum questionamento sobre o dia do desaparecimento de Lucas, para rebater a versão de Galiza. O promotor considerou “suicida” a estratégia da defesa de desqualificar o condenado, em vez de defender o pastor Fernando.

Pai se revolta com revelação

O pai do adolescente Lucas Terra, o empresário José Carlos Terra, disse que ficou “revoltado e chocado” com a revelação de que seu filho foi assassinado porque flagrou o pastor Fernando Aparecido e o pastor Joel Miranda fazendo sexo, dentro do templo da Iurd na Pituba. “Fiquei muito revoltado ao saber que meu filho foi morto porque flagrou um ato homossexual entre os dois representantes da igreja”, desabafou, emocionado.

José Carlos acrescentou que Sílvio Roberto Galiza sempre escondeu a verdade, mas que, como pai, sempre acreditou na Justiça e agora a verdade começa a aparecer.

O empresário acrescentou ainda que ficou decepcionado com a informação de Galiza de que a cúpula da Iurd sabia do envolvimento do bispo Fernando e do pastor Joel no desaparecimento do adolescente. “É um sentimento de decepção com a Universal, esperava que os assassinos do meu filho fossem colocados para fora da igreja, mas isso nunca aconteceu”, declarou José Carlos.

A mãe de Lucas, Marion Terra, espera que todos os autores do crime paguem pelo assassinato do seu filho. Ela disse ainda estar alegre, por ter certeza de que agora a verdade vai aparecer e ninguém ficará impune. Considerou ainda uma contradição a Iurd defender Sílvio Roberto Galiza, no início do caso, e agora o advogado contratado pela igreja para defender pastor Fernando, acusar o ex-pastor auxiliar.

Na próxima terça-feira, a Justiça deve realizar uma acareação entre Sílvio Galiza e o pastor Fernando para esclarecer as contradições reveladas nas versões apresentadas por ambos nos depoimentos. Algumas testemunhas também devem ser ouvidas, mas ainda não se sabe se isso acontecerá antes ou depois da acareação. A defesa do pastor Fernando deve impetrar, ainda hoje, um pedido de habeas-corpus junto ao Tribunal de Justiça da Bahia para tentar que ele responda ao processo em liberdade.

O promotor Davi Gallo disse que vai solicitar à Igreja Universal que identifique o segurança de prenome Luiz Cláudio, acusado por Sílvio Galiza de envolvimento no desaparecimento de Lucas. O outro acusado de participação no assassinato do adolescente, o pastor Joel Miranda, continua foragido.

Fonte: Aqui Salvador

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