Leida Gabriel Barbosa, ex-detenta e hoje missionária da Assembleia de Deus, em Belo Horizonte. (Foto: Alexandre Rezende/UOL)
Leida Gabriel Barbosa, ex-detenta e hoje missionária da Assembleia de Deus, em Belo Horizonte. (Foto: Alexandre Rezende/UOL)

Leida Gabriel Barbosa viu seu passado como “vovó do pó” no tráfico de drogas ser transformado em um testemunho e, há 17 anos, tem dedicado seus dias a uma nova missão: levar a palavra de Deus a prisões e hospitais.

A missionária de 68 anos leva uma vida simples, na casa dos fundos no bairro Leblon, divisa entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves (MG). Para ela, seus maiores bens são os certificados de capelania e sua certidão negativa criminal.

“As pessoas acham que traficantes têm mansão. Minha riqueza é Jesus. Não tenho mais nada que o tráfico me deu”, disse ela ao UOL TAB.

Leida cresceu convivendo com o movimento do tráfico na Favela do Perrela, em Belo Horizonte. Mesmo sendo ensinada pelos pais que o crime era um mau caminho, aos 8 anos, ela já era “aviãozinho” e traficava na região, enquanto começou a usar maconha e haxixe.

“Comecei a observar e hoje falo que mente vazia é ‘oficina do Adversário’. Não demorou muito para entrar”, disse Leida, que na época tomava remédios controlados por ser uma criança epiléptica, tornando difícil diferenciar as crises da doença do uso de drogas.

A missionária e ex-detenta Leida Gabriel Barbosa mostra imagens do passado. (Foto: Alexandre Rezende/UOL)

Ainda no tráfico, Leida conheceu o ex-marido, Itamar, aos 18 anos. Juntos tiveram dois meninos, mas veio a separação e a família foi abandonada por ele. Com as crises de epilepsia e a turbulência em sua vida, Leida confessa que não deu conta de criar as crianças — depois de dopá-las, tentou matá-las.

“Quando ia jogá-los em uma cisterna de 35 metros, meu pai me deu um pontapé e me jogou no chão. Foi o Espírito Santo que despertou ele. A família propôs criar os meninos desde que eu estivesse longe”, ela lembra.

Leida foi para São Paulo em busca de uma vida melhor. Ela trabalhou como balconista por três anos e conseguiu outros empregos, limpando avião e fiando linhas, até surgir o convite para retornar ao tráfico nas favelas da zona sul da cidade.

Na época, Leida não era vista como uma figura feminina. “Quando era conhecida como Baiana, só andava de calça e tênis, tinha o cabelo raspado. Para a maioria, era igual homem”, conta.

Ela vivia todos os benefícios que o dinheiro do tráfico pode comprar, “até que a Polícia Federal bateu com mandados pelos crimes de tráfico, porte de arma e formação de quadrilha”, relata Leida, que foi condenada a 7 anos de prisão.

Encontro com Deus

Foi dentro da Penitenciária Feminina de Sant’Anna, em São Paulo (SP), durante um banho de sol, que Leida escutou um pastor falar sobre Deus pela primeira vez.

“Ele saiu do meio das colegas crentes e falou: ‘Deus manda te falar que hoje você está aqui, mas no tempo Dele, você vai estar do lado de fora trazendo para cá a palavra de Jesus’. Eu não entendia. Ele falava que a cadeia não era o inferno, eu falava que os protestantes são tudo doidos, como que fala isso?”, pensou.

Depois de cumprir pena e passar cinco anos trabalhando em São Paulo, Leida decidiu voltar para perto dos filhos em Minas Gerais. Ela passou a trabalhar na limpeza de prédios luxuosos em Belo Horizonte para ajudar a família, até que a empresa faliu.

O desespero a levou de volta para o tráfico. A cozinha de seu barracão na Favela do Índio se transformou em uma fábrica de crack e Leida se tornou viciada. Com cinco mandados de prisão, ela chegou a ser agredida pela Polícia Militar e perdeu parte da audição. Em 2000, ela diz que chegou ao “fundo do poço”.

“O que me doeu não foi a cadeia nem o espancamento. Foi ter perdido o amor dos meus filhos. Coração de bandido é no solado do pé, e Deus sabia onde meu calo ia doer”, afirma.

No banheiro de uma casa que hospedava pessoas ligadas ao tráfico, Leida se arrependeu. “Ajoelhada com os dois cotovelos na tampa da privada, lembrei que tinha um marido bom que não dei valor e filhos que eu não participei da escola e nem ajudei a criar. Eu chorava a minha alma”, afirma. 

Naquele momento, Leida se lembrou das palavras que escutou do pastor em São Paulo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.  

Leida Gabriel Barbosa, ex-detenta e hoje missionária da Assembleia de Deus, em Belo Horizonte.
(Foto: Alexandre Rezende/UOL)

Vida nova

Em 2002, Leida foi batizada na Igreja Assembleia de Deus, onde passou a fazer evangelismos dentro de presídios. “O sistema [prisional] me ensinou a ter humildade, respeito e disciplina. Converso com os presos na mesma linguagem das ruas, mas levo também a palavra de Cristo”, afirma. 

Desde que foi transformada por Jesus, Leida nunca mais olhou para trás. Ela encara seu testemunho como forma de inspirar outros presos. “Não sonhava que poderia ser crente. Esse chamado veio arder no meu coração quando me vi liberta dos remédios que eu tomava e me livrei do comportamento errado que eu tinha. Jesus me curou.”

Leida foi perdoada pelos filhos e tem um bom convívio com a família. Hoje ela tem uma vida digna e usa sua influência para resgatar os perdidos. “Abasteço sim as bocas de Belo Horizonte. Abasteço com a palavra de Deus”, destaca.

Fonte: Guia-me com informações de UOL

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