Miriam Fróes, Fundadora do Movimento de Ex-Gays do Brasil (Imagem: Robson Stailer)
Miriam Fróes, Fundadora do Movimento de Ex-Gays do Brasil (Imagem: Robson Stailer)

Felipe Sakamoto e Lucas Cabral
Colaboração para Universa-UOL

Miriam Fróes viveu como homossexual dos 13 aos 33 anos, aproximadamente. A partir dos 30, começou a sentir uma mudança interna.

“Eu trocava muito de parceira e aquilo foi causando crises existenciais em mim”, disse ela em entrevista para o site Universa, do UOL.

Depois disso, passou a frequentar a igreja. Hoje, “muito evangélica”, diz ter encontrado um novo modo de viver sob os preceitos da Bíblia.

Além de ex-homossexual e pastora da igreja Manancial Palavra Viva, Miriam, 55, também é idealizadora do Movimento de Ex-Gays do Brasil (MEGB), fundado em agosto.

Ficou conhecida após se reunir com a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no dia 5 daquele mês, em busca de reconhecimento. “Nós existimos” diz.

Há 20 anos, ela acolhe pessoas que buscam a reorientação sexual. Para isso, a fundadora do movimento de ex-gays não acredita em nenhum tratamento, senão a palavra do evangelho.

Ao ser questionada sobre como seriam os detalhes da reorientação sexual pela espiritualidade, a consultora de logística responde: “A única palavra que posso te dar como explicação é a fé”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID) em maio de 1990. E a recondução da sexualidade por terapias é questionada e criticada por profissionais da saúde.

No Brasil, em 1999, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu que psicólogos incentivem ou proponham qualquer tratamento ou ação com o objetivo de patologizar ou reorientar a homossexualidade.

Em entrevista a Universa, Miriam fala sobre causas e cura da homossexualidade, com base em sua experiência, e sobre o surgimento do MEGB.

Afirma que criou o movimento ao perceber a ausência de uma voz expressiva de ex-gays na sociedade. “Nós somos a minoria das minorias”, diz. O slogan do grupo é “Pelo direito de deixar e permanecer”.

Outro motivo da criação do movimento foi a criminalização da homotransfobia pela Lei de Racismo, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho deste ano. Miriam teme ser processada por compartilhar sua história em palestras. “E se alguém me ouvir e achar que eu estou sendo homofóbica?”

A criminalização da homofobia interfere nas pautas do Movimento de Ex-Gays do Brasil?

Até agora, não. Mas existe um termo que diz que nós somos livres para nos expressar, para fazer proselitismo, doutrinação, usar os nossos livros sagrados. Desde que ninguém se sinta agredido pela nossa fala. Então, ali, a lei está um pouco subjetiva para o nosso lado. E se alguém me ouvir e achar que eu estou sendo homofóbica? Ou discriminando quem está na homossexualidade? Isso me preocupou um pouco. Pensei, então, que poderíamos ir ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para que nos reconhecesse, já que eles reconhecem o movimento LGBT. É preciso reconhecer a gente também.

Quais são as pautas do movimento?

No momento, a pauta principal foi ir ao Ministério dos Direitos Humanos e nos pronunciar: “Olha, nós existimos”. O propósito do MEGB é unir as pessoas que foram homossexuais e hoje não são mais. É para ser um plataforma onde as pessoas, espalhadas pelo Brasil, possam se identificar, para que se sintam representadas. Não temos pretensão política nenhuma. Até porque não temos um espírito militante. Não pretendemos ter causa pública, de política. Agora, lógico, se encontrarmos ajuda e abertura nesse campo, até podemos pensar, sim. Nós não estamos aqui para discutir se se nasce ou não gay, se há ou não cura para a homossexualidade. Acho que cada um tem o direito de viver a sua vida como deseja viver. Agora, se eu fui homossexual durante quase 20 anos e abandonei esse estilo de vida, eu gostaria também que as pessoas me olhassem e não duvidassem de mim.

Vocês tiveram uma reunião com a ministra Damares Alves. Qual foi o propósito da visita e o que discutiram?

Fomos porque gostaríamos que o Ministério desse o mesmo reconhecimento e respaldo que dá aos outros movimentos. Queremos um reconhecimento apenas no direito de existir. Ela nos recebeu e levamos um material da nossa existência. E pedimos para que o ministério, assim como faz com o movimento LGBT, com os índios ou com qualquer classe que pede apoio e reconhecimento, pudesse contemplar a nossa existência. E assim aconteceu. Ela não nos prometeu nada, mas jogou a responsabilidade para os seus assessores, para ver como podem nos ajudar.

Como os assessores da ministra podem ajudar?

Na verdade, não são eles que têm que nos ajudar. O que foi dito é que teríamos de criar políticas públicas e poderíamos receber apoio ou não. Por mais que não queiramos essa militância política, de alguma maneira, ela terá de existir. Mas o nosso foco é espiritual. Agora, existe uma lei duríssima contra a homofobia. Duríssima, porque foi inserida no crime de racismo. Você concorda que a lei é muito dura? Nós queremos nos precaver. Por exemplo, eu dou alguma palestra. Alguém me ouve e acha que não foi adequado e me processa. Então, a gente pede para que o ministério venha nos respaldar nesse aspecto: “Nós existimos”.

No dia da reunião com a ministra, o Movimento Psicólogos em Ação, que defende a “cura gay” e perdeu recentemente as eleições para o Conselho Federal de Psicologia, estava presente e apoiou o MEGB. Qual é a relação entre vocês?

Nenhuma. Somos apenas conhecidos. O MEGB atua no viés espiritual. O outro movimento luta mais de forma humanista, pela psicologia, também em relação à causa moral. Porém, são psicólogos cristãos ou conservadores. Eles lutam para ter o direito de exercer a psicologia no que tange à pessoa que está na homossexualidade e não quer ser homossexual. Mas são proibidos de exercer essa prática. Por isso, eles lutam. E, por isso, são movimentos parecidos.

Ao dizer isso, o seu movimento não acaba se aproximando do grupo pró-cura, que defende a reorientação sexual?

A questão é que esses psicólogos acham que sozinhos dão conta. E eu não concordo com isso. Você pode contar com um amigo, um pastor, um conselheiro, um psicólogo, uma tribo e a família. E, lógico, os preceitos da Bíblia, que você terá de seguir e obedecer.

Embora afirme que não há nenhuma relação entre o MEGB e a chapa “pró-cura”, Saulo Navarro, integrante do movimento, também apoiou e fez campanha nas redes sociais para a chapa.

Ele não é mais [membro]. Esse afastamento se deu justamente por causa disso, por um desacordo com os preceitos do MEGB que são de expressão e liberdade religiosa. O Saulo tem uma opinião contrária. É um direito que ele tem.

Historicamente, homossexuais foram lobotomizados, torturados e submetidos à castração química como tratamento para uma suposta cura gay. Nenhum desses procedimentos teve eficácia comprovada cientificamente. O Movimento de Ex-Gays do Brasil acha que a homossexualidade é uma doença?

Não, eu não acho que a homossexualidade seja uma doença. O movimento acha que é um conflito emocional causado por traumas vivenciados na infância. Entre eles, abusos sexuais, agressões dentro de casa, ausência do pai ou da mãe. Isso pode causar um sentimento de carência, de não encontrar a identidade, e você vai em busca de criar essa identidade para você. A homossexualidade pode ser originada por questões emocionais, mas também não é uma escolha fechada. Cada um vai desenvolver da sua maneira. Existem pessoas que não vivenciaram nada disso e têm sentimentos homossexuais, e eu não sei te explicar.

Não há comprovação de que abusos sexuais ou ausência dos pais possam ser fatores para a homossexualidade. Com que fundamento acredita nisso?

Eu penso dessa maneira com base em três coisas. Primeiro, minha experiência pessoal, o que vivi até hoje. Segundo, o contato que tive ao longo de 20 anos com outros ex-gays. E terceiro, livros de autoajuda, de cunho religioso. Inclusive, o principal deles é o “Restaurando a identidade” [escrito por Bob Davis e Lori Rentzel, anteriormente publicado sob o título “Deixando o Homossexualismo”, o livro baseia-se na “cura da homossexualidade” somente por meio da religião].

Se uma pessoa homossexual está bem com a sexualidade dela, acha que ela precisa de reorientação?

Todo homossexual que não está satisfeito com a sua homossexualidade deve procurar ajuda. A ajuda que for, ele quem vai decidir. O MEGB defende [a ajuda] pela Bíblia, pela espiritualidade. E eu não acho que todo homossexual precise de reorientação. Ele precisa ficar como está, caso se sinta bem. Todo mundo tem livre arbítrio para viver e escolher o jeito que se sente melhor neste mundo. Inclusive, a Bíblia fala sobre isso. O movimento não está aqui para se opor a isso.

Fonte: Universa – UOL

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