“Você não é mais nossa filha”. Estas foram as últimas palavras que Saree* ouviu o pai dizer, enquanto ela estava na rua, segurando as roupas que sua família lhe havia empurrado.
Saree tinha apenas 11 anos quando seus pais a espancaram e a expulsaram de casa e a deixaram nas ruas para sobreviver. Ela é o símbolo de uma tendência que se desenvolve em certas regiões da Índia ao longo dos anos. Cerca de 15 anos atrás, um número crescente de pastores foi atacado. Nos últimos anos, outros homens cristãos também foram espancados, seguidos de agressões contra mulheres cristãs.
Parece que é a vez das crianças agora. Hoje, há relatos de crianças sendo espancadas, estupradas e até mortas na Índia. Eles são frequentemente perseguidas, não por sua própria fé, mas por causa da fé de seus pais. Em 2018, uma agência de reportagem documentou 775 incidentes de perseguição contra cristãos, representando mais de 51 milhões de pessoas – incluindo 12.858 crianças.
“Meu Deus te curará”
Saree concordou em contar sua história para um missionário da Portas Abertas (EUA). Ele se encontrou com ela em um local seguro, longe de sua cidade natal. Ela começou, relatando como conheceu Jesus. Quando criança, Saree era surda.
“Fui vítima de bullying na escola por ser surda”, disse ela em voz baixa. “Eles me repreenderam: ‘Você é surda!’ Isso me deixou tão triste”.
Por causa de sua deficiência, ela teve dificuldade em ouvir e estudar na escola. Seus pais tentaram de tudo para curá-la.
“Fomos ao hospital, aos templos hindus e até às pessoas que praticavam bruxaria. Nada ajudou”, contou Saree.
Mas uma das tias de Saree tinha algo diferente em mente e convenceu Saree a ir com ela à igreja.
“Seus pais não são crentes no Deus verdadeiro”, disse ela à sobrinha. “Mas eu sou. Venha comigo. Meu Deus te curará”.
Saree lembra-se claramente daquele dia. A primeira vez em que pôs os pés em uma igreja.
“As pessoas estavam cantando canções e o pregador ensinou da Palavra de Deus. Ouvi um pouco de som, para entender um pouco do que estava sendo dito e cantado. As músicas me fizeram feliz”, contou.
Após o sermão, o pastor e algumas outras pessoas oraram pela jovem. Saree ainda está visivelmente emocionado.
“Primeiro eles me chamaram à frente. Eu estava com um pouco de medo e realmente queria fugir. Mas ainda assim, eu ainda atendi ao pedido deles. Enquanto eles estavam orando, eu podia ouvir sons. Lentamente, os sons ficaram cada vez mais altos. Eu também senti algo vindo para mim. Chegou cada vez mais perto. Foi a presença de Deus. Então os sons ficaram realmente claros. Eu podia ouvir tudo. Eu estava incrivelmente feliz”, relatou ela.
“Seu Deus não é nosso Deus”
Depois, a tia de Saree explicou quem é Jesus e o que ela precisava saber sobre segui-Lo. Então ela contou à mãe de Saree sobre Jesus.
Saree olha para baixo enquanto se lembrava do que aconteceu a seguir. Em vez de celebrar o milagre da cura de sua filha e crer em Jesus, a mãe de Saree se irou com o fato da menina ter ido à igreja.
“Seu Deus não é nosso Deus”, disse ela à tia de Saree. “Nós não vamos acreditar no seu Deus. As pessoas da sua igreja também morrem. Então não vamos a essa igreja”.
Mais tarde, ela alertou Saree para não ir à igreja e explicou as consequências: “Os aldeões podem cortar relações conosco”, disse ela à filha. “Não poderemos mais comprar alimentos ou bebidas e ninguém vai falar conosco”.
Mas Saree, tendo sido curada na igreja, secretamente voltou ao lugar onde havia encontrado uma nova vida.
“Minha irmã mais velha era a única que sabia”, contou a menina. “Mas meu irmão também descobriu. Ele me flagrou muitas vezes no domingo depois que voltei da igreja“.
“Ele e meu pai me bateram e me arrastaram para dentro de casa. Uma vez, eu estava carregando uma Bíblia. Ele pegou, jogou na lama e me bateu com um pedaço de pau. Mais tarde peguei a Bíblia, limpei-a e entreguei a outro crente. Ele a manteve guardada para mim”.
A situação continuou a piorar. Logo, ela estava sofrendo agressões com mais frequência dentro de casa.
“Quase toda vez que eu ia à igreja, meu irmão e meu pai me batiam”, diz ela.
Então chegou o dia em que tudo em sua vida mudou.
“Cerca de três meses atrás, eles estavam fartos de mim. Meu irmão e meu pai gritaram: ‘Se você continuar indo à igreja, nós te puniremos!’ Eles me bateram, me chutaram muito. Então eles me deram algumas roupas e me expulsaram de casa. Meu pai disse: ‘Você não é mais nossa filha’”, se lembrou.
A escolha que custou tudo
Saree tinha apenas um lugar para ir, a casa de sua tia cristã, que antes a tinha levado à igreja. Dois dias depois, os pais de Saree apareceram na porta da tia. Eles acusaram a mulher de “sequestrar” a filha e ameaçaram bater nela também.
Mas eles não levaram Saree para casa. Reconhecendo que a sobrinha não estava segura em sua casa, a tia de Saree deu-lhe dinheiro para chegar à casa de outra tia, que também é cristã. A menina de 11 anos caminhou por 10 quilômetros e depois pegou um ônibus que rodou por mais 10 quilômetros. Logo depois que ela chegou, a mãe de Saree veio pela segunda vez. Dessa vez, Saree voltou para casa, para sua família – apenas para ser espancada novamente por seu irmão de 22 anos.
“Deixe Jesus Cristo!”, ele gritou, batendo nela com um pedaço de pau.
Mas Saree permaneceu firme. “Não vou deixar Jesus”, disse ela ao irmão. Ela sabia que não tinha outra escolha senão voltar para a casa da tia. Atualmente, a garota ainda mora com a tia.
Alegria que leva à perseverança
Como todo cristão perseguido, Saree não tem escolhas. Ela sabe que poderia optar por abandonar sua fé e todos os seus problemas desapareceriam. Ela poderia voltar para casa, voltar para a escola e voltar para as amigas. Mas desistiu de tudo para continuar com Jesus.
É uma decisão corajosa em qualquer idade, mas especialmente para uma menina de 11 anos na Índia.
“Penso na comunhão que temos aos domingos. Sempre que me sinto deprimida, penso no companheirismo. Uma irmã crente me disse: ‘Não deixe Jesus Cristo. Estamos aqui. Ela me encorajou da Palavra de Deus. Isso me fortaleceu”, disse a menina.
A parte mais dolorosa da decisão de Saree agora? Não poder frequentar a escola. Ela também sente falta da família. Faz um ano que seu pai a deserdou e a deixou na rua. Ela agora tem 12 anos.
“Por causa da minha perseguição, não posso ir à escola. Eu também sinto muita falta da minha família. Eu amo minha família, mas eles não me aceitam. Eu os vi duas vezes depois que eles me expulsaram. Fui vê-los, mas meu pai não fala comigo. Minha mãe fala um pouco comigo, mas apenas minha irmã mais velha fala bem. Eu não vi meu irmão”, contou.
Saree pede orações pela salvação de sua família.
*Nome fictício, usado para preservar a segurança das pessoas citadas.
Fonte: Guia-me com informações de Portas Abertas (EUA)