Um edifício residencial atingido por um ataque do exército russo em Kiev, na Ucrânia
Um edifício residencial atingido por um ataque do exército russo em Kiev, na Ucrânia

Os bispos católicos da União Europeia lançaram nesta quinta-feira (10) um apelo para o primaz da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, cobrar do regime de Vladimir Putin o fim da invasão à Ucrânia.

Alinhado ao Kremlin, o patriarca de Moscou foi criticado publicamente pelo Vaticano por ter feito um sermão em que relaciona a eclosão do conflito russo-ucraniano com as comunidades LGBTQ+.

“Compartilhando os sentimentos de angústia e preocupação do papa Francisco, me permito implorar à Sua Santidade com espírito de fraternidade: dirija um apelo urgente às autoridades russas para que elas parem imediatamente as hostilidades contra o povo ucraniano e mostrem boa vontade para encontrar uma solução diplomática baseada no diálogo, no bom senso e no respeito do direito internacional”, diz uma carta escrita pelo cardeal luxemburguês Jean-Claude Hollerich, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia.

Na mensagem, Hollerich pede para o líder ortodoxo russo “escutar as vozes dos nossos irmãos e irmãs que sofrem com a loucura da guerra na Ucrânia, cujas horríveis consequências estão diante de nossos olhos”.

“Nestes momentos difíceis para a humanidade, acompanhados de sentimentos de desespero e medo, muitos olham para Sua Santidade como alguém que poderia levar um sinal de esperança”, declarou o cardeal.

Hollerich ainda lembrou que, em 2016, Cirilo e Francisco condenaram as “hostilidades na Ucrânia”. “Por favor, não deixe que aquelas palavras poderosas sejam em vão”, acrescentou.

Cirilo se pronunciou pela primeira e única vez sobre a invasão à Ucrânia no último dia 6 de março, durante um sermão pelo Domingo do Perdão.

De acordo com o patriarca de Moscou, o conflito foi deflagrado após “oito anos de tentativas de destruir o que existe em Donbass”, região da Ucrânia que é dominada por separatistas pró-Rússia desde 2014.

Segundo Cirilo, existe em Donbass uma “recusa fundamental aos assim chamados valores que são oferecidos por quem reivindica o poder mundial”. “Hoje existe uma espécie de passagem àquele mundo ‘feliz’, o mundo do consumo excessivo, o mundo da ‘liberdade’ visível. Sabem qual é esse teste? É muito simples e, ao mesmo tempo, terrível: é uma parada gay”, declarou.

Em seguida, o patriarca acrescentou que a “civilização vai terminar quando concordar que o pecado é uma das opções para o comportamento humano”.

“Para entrar no clube daqueles países [do Ocidente], é necessário organizar uma parada gay. Trata-se de impor com a força um pecado condenado pela lei de Deus”, salientou.

Ainda de acordo com Cirilo, o cenário atual das relações internacionais não tem apenas um significado político. “Trata-se da salvação humana, de onde vai terminar a humanidade. Entramos em uma luta que não tem um significado físico, mas metafísico”, afirmou o patriarca, demonstrando solidariedade apenas às vítimas das regiões separatistas da Ucrânia.

“Hoje nossos irmãos em Donbass, os ortodoxos, estão sofrendo indubitavelmente, e nós precisamos estar com eles, sobretudo em oração.

Devemos rezar para que a paz chegue o quanto antes, para que o Senhor incline sua misericórdia para a terra sofrida de Donbass, que carrega essa triste marca há oito anos, gerada pelo pecado e pelo ódio humanos”, disse.

Reação – Na última terça (8), o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, segundo na hierarquia da Cúria Romana, afirmou que as palavras de Cirilo “não favorecem e não promovem o entendimento”.

“Pelo contrário, arriscam inflamar ainda mais os ânimos e de caminhar rumo a uma escalada”, disse Parolin.

Fonte: Último Segundo

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