Um homem que foi esfaqueado por um colega durante uma briga no município de Sousa, no sertão da Paraíba, perdoou seu algoz e contratou um advogado para defendê-lo no dia do julgamento do caso.
A vítima Sebastião Felizardo, 39, e o acusado do crime, Hugo Ferreira da Paixão, 29, saíram abraçados da audiência, ocorrida no dia 23 de janeiro, quando o réu conseguiu liberdade provisória. O fato foi divulgado nesta quinta-feira (1º) pelo advogado João Hélio Lopes da Silva, contratado por Felizardo para soltar Ferreira.
Sebastião Felizardo e Hugo Ferreira da Paixão trabalhavam juntos como lavadores de carros no centro de Sousa. Eles se desentenderam por um motivo fútil durante o trabalho no dia 22 de agosto do ano passado e, enfurecido, Paixão desferiu sete facadas contra o colega. Felizardo quase morreu devido ao ataque e pediu socorro dentro de uma igreja católica.
O autor do crime foi preso em flagrante por um policial militar que passava pelo local. A vítima ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva por quatro dias no Hospital Regional de Sousa.
Conversão e perdão
Depois que se recuperou dos ferimentos, Felizardo se converteu tornando-se protestante e, durante orações no grupo da igreja, perdoou o colega que tentou matá-lo. A partir daí, ele decidiu procurar ajuda de um advogado para soltar Paixão.
Felizardo participou da audiência com o juiz titular da comarca de Sousa, José Normando Fernandes, e pediu que o caso fosse arquivado. Como houve lesão corporal, a Justiça não atendeu o pedido, mas concedeu liberdade provisória ao autor do fato. Os autos do processo ficaram com o juiz e ele dará a sentença sobre o caso ainda este mês.
O advogado conta que Felizardo o procurou para contratá-lo e ele explicou que a vítima seria assistida pelo Ministério Público. Entretanto, Felizardo afirmou que queria contratá-lo para ajudar a tirar da cadeia o autor da agressão.
“Expliquei a Sebastião que a acusação do crime seria feita pelo Ministério Público e não tinha sentido ele contratar um advogado para o processo. Foi daí que ele disse que queria minha ajuda para soltar o réu e tentar que ele não fosse condenado”, relata o advogado, destacando que vítima e réu enfrentavam problemas de envolvimento com drogas na época do crime.
Ele ingressou com pedido de soltura de Paixão. No dia 23, a Justiça revogou a prisão preventiva e concedeu liberdade provisória ao réu até julgar o caso. “No dia da audiência, Sebastião afirmou perante o juiz que queria retirar o processo porque perdoou o réu. Eles saíram abraçados do fórum, isso chamou a atenção de todos. Esse foi o maior exemplo de perdão que já vi em toda minha carreira”, completou Silva.
A vítima levou seu algoz para o grupo de oração da igreja e, agora, eles trabalham juntos no grupo “Calçadas da Fé”. Felizardo não lava mais carros, ele conseguiu um novo trabalho como vendedor autônomo e tenta ajudar o colega Hugo Ferreira da Paixão a conseguir um emprego.
O UOL tentou contato com o juiz José Normando Fernandes, mas o Tribunal de Justiça da Paraíba informou que o magistrado não vai se manifestar sobre o caso porque o processo ainda não foi encerrado.
Fonte: UOL