Bispos alemães se reúnem para debater escândalos envolvendo escolas católicas. Ministra alemã da Justiça exige investigação minuciosa. Para alguns teólogos, celibato é problema central.
O escândalo sobre abuso sexual de menores em instituições católicas da Alemanha continua se alastrando. Em poucas semanas, mais de 120 pessoas já apresentaram denúncias. Alguns casos datam da década de 1950, e são citados cada vez mais colégios jesuítas, por último da região de Bonn.
A partir desta terça-feira (23/02), a Conferência Episcopal Alemã está reunida por dois dias para sua assembleia de início do ano em Freiburg, onde também discutirá o tema. Na véspera, o presidente do grêmio, arcebispo Robert Zollitsch, desculpou-se perante os atingidos: “Sofremos com as vítimas e lhes pedimos perdão”.
Hora de colaborar com a Justiça
A ministra alemã da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, exigiu da Igreja Católica uma investigação minuciosa das acusações de abuso, no interesse da própria instituição. Ela espera que os responsáveis na Igreja “finalmente colaborem de modo construtivo com as autoridades penais”, declarou à rede de TV pública ARD.
Referindo-se às diretrizes da Igreja que estipulam, a princípio, investigações prévias internas, a ministra lembrou que abuso sexual infantil é um delito oficial, e “outras pessoas não têm o poder de decidir se deve ser investigado ou não”. Isso torna necessárias outras diretrizes. Além disso, Leutheusser-Schnarrenberger convidou autoridades católicas para uma “mesa redonda” com outros representantes independentes, para que se “esses terríveis casos” possam ser elucidados.
A ministra lamentou que muitos deles “não mais estejam sujeitos à persecução criminal, pois já prescreveram”. “Porém o mais terrível é o que se cometeu aqui contra pessoas jovens, que pode ter destruído suas vidas. E isso dá uma sensação de impotência.” “Está mesmo na hora de a Igreja Católica lidar de modo bem diferente com essas ocorrências dentro de seus quadros”, concluiu.
Celibato e outras limitações
Apesar dos pedidos de desculpas da Conferência Episcopal, o professor emérito de teologia Hermann Häring criticou duramente a atitude da Igreja. Segundo declarou à emissora Deutschlandradio, os bispos ainda não entenderam a extensão e a problemática fundamental da situação. Ele exigiu uma abordagem mais ofensiva do tema sexualidade durante a formação dos padres, assim como um debate sobre o celibato.
O também teólogo e psicanalista Eugen Drewermann concorda que o problema central são as limitações existenciais e ao desenvolvimento da personalidade impostas aos religiosos. “Quem se decide pelo celibato, a não ser gente que – como doutrina a Igreja Católica– aprendeu e internalizou a noção de que experiências sexuais são pecaminosas, devendo ser confessadas e reprimidas?”
Drewermann lembra ainda que aqueles que desrespeitem essa regra são exonerados, sem ter mesmo direito a um período de transição para construir uma nova existência. “No fim das contas, a Igreja chantageia seus próprios membros, também através de pressão econômica. Não há como falar em liberdade.”
Para Hermann Häring, a Igreja necessita de regras vinculativas e instâncias de esclarecimento independentes. Ela “tem um sistema legal forte, desenvolvido ao longo de séculos”, observou, e “esquece muitas vezes o arcabouço legal do Estado”.
Na Alemanha, segundo o teólogo, existe nos contratos entre a Igreja e o Estado uma zona nebulosa, datando ainda da época do nazismo, a qual assegura privilégios aos religiosos. Häring afirma ainda que, temendo perder votos, os partidos políticos evitam mexer nesses privilégios.
Fonte: DW World