A Igreja Católica deu um passo atrás ontem em relação à excomunhão da mãe da menina de nove anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco e grávida de gêmeos. A mãe deu autorização para que fosse realizado o aborto na garota.

Após o procedimento, na semana passada, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, disse que os médicos envolvidos e a mãe estavam sujeitos ao direito canônico, que prevê automaticamente a excomunhão no caso. Porém, segundo entendimento do secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara Barbosa, a mãe da menina agiu sob pressão dos médicos, que disseram que sua filha morreria caso a gravidez não fosse interrompida. Desta forma, não se enquadra na pena, disse.

“Existem as circunstâncias. Uma coisa é alguém que, deliberadamente, vai em busca do outro com fins de violência. Outra coisa, é alguém que age sob drogas, sob pressão, sob medo.” Ele disse ainda que não poderia generalizar a excomunhão para todos os médicos. “Não temos elementos para dizer este está em excomunhão, aquele não. O que podemos dizer é que, para a igreja, o aborto praticado livremente, conscientemente, por motivos fúteis, sem pressão é um crime que clama aos céus, e aquele que o pratica é alguém que se coloca fora da comunhão da igreja.”

Os médicos afirmam que a menina, que tem cerca de 30 quilos, corria risco de morte caso mantivesse a gestação. Também fora da comunhão, mas em crime que não prevê a excomunhão automática, estaria o padrasto da menina, por tê-la estuprado. “Ele cometeu um pecado gravíssimo”, disse dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB. O fato de o arcebispo de Olinda e Recife ter dito que a excomunhão não se estendia ao padrasto e que o aborto era mais grave que estupro aumentou a polêmica sobre o caso. Dom Geraldo defendeu o arcebispo e disse que o aborto é punido com a excomunhão, porque “está se diluindo a consciência sobre a gravidade do aborto”, enquanto o estupro já é repudiado amplamente.

“Precisa colocar esta penalidade dentro do contexto da mentalidade de hoje. Não é questão de isso ser mais grave que aquilo, tudo é grave”, disse. Sobre o padrasto, dom Dimas disse que não se sabe “até que ponto a pessoa é um demente mental. É muita maldade, mas tem também distúrbio”. Na entrevista, o assessor canônico da CNBB, padre Enrique Pujol, disse que a excomunhão não pode ser feita em “clima de polêmica”. Questionados sobre se o arcebispo teria sido precipitado ao dizer da excomunhão automática, dom Dimas e dom Geraldo disseram que o religioso “não queria ferir quem já estava ferido” e que a questão era “irrelevante”. Dom Geraldo afirmou também que “excomunhão não é sinônimo de condenação ao inferno” e que um dos objetivos dela é o arrependimento. O arcebispo de Olinda e Recife não foi localizado.

Fonte: Folha de São Paulo

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