Igreja do Evangelho Quadrangular em Aracaju (SE)
Igreja do Evangelho Quadrangular em Aracaju (SE)

A Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) de Sergipe se pronunciou sobre protestos que aconteceram na tarde deste domingo (11) nas portas de seus templos no Bairro Jardins, Zona Sul de Aracaju, e no Bairro Getúlio Vargas, Zona Oeste da capital.

Membros e ex-membros da IEQ se reuniram em protesto para cobrar da instituição religiosa um posicionamento oficial em relação às denúncias de assédio sexual contra dois pastores da entidade.

A nota diz que a igreja tem absoluta certeza de que os procedimentos que forem legalmente previstos serão realizados com isenção e correção para o alcance da verdade dos fatos. Também informa que está acompanhando as investigações sobre as supostas condutas inapropriadas de alguns pastores do quadro da igreja, e aguarda a conclusão das investigações para tomar medidas pertinentes.

“A Igreja, que pauta a sua atuação à luz dos princípios cristãos, divinamente revelados na Palavra de Deus – A Bíblia, e, também, em estrito cumprimento das leis do nosso País, tem absoluta certeza de que os procedimentos que forem legalmente previstos serão realizados com isenção e correção para o alcance da verdade dos fatos”, disse a nota.

O protesto

O protesto ocorreu na tarde deste último domingo, 11. Segundo uma das manifestantes, seria importante que a igreja afastasse os pastores das suas funções até o fim do inquérito policial. “Nós nos reunimos de maneira pacífica e legítima para cobrar da igreja um posicionamento sobre essas denúncias de assédio”, diz Miriam Ferreira, que se diz ex-membro da Igreja. Segundo ela, desde que o caso veio à tona a Igreja não se pronunciou de forma oficial sobre as acusações.

A manifestante relata ainda que o intuito era apenas fazer um “buzinaço” em frente a uma das sedes da Igreja. “Mas assim que chegamos ficamos supressos com a forte força policial. Diante disso, alguns manifestantes foram até a frente do condomínio do pastor para cobrar explicações”, salienta.

Ainda segundo o relato de Miriam, após a chegada em uma das sedes da Igreja, no bairro Jardins, houve um princípio de confusão envolvendo um radialista. “Um dos diáconos da igreja agrediu com socos o radialista Alex Carvalho, que estava fazendo a cobertura da manifestação”, diz a manifestante.

De acordo com Assessoria de Comunicação da instituição, nunca houve um pedido formal de membros da igreja para afastamento dos pastores e, por isso, desconhece as pessoas que se disseram manifestantes como membros ou ex-membros da Igreja. Ainda segundo informações da Comunicação, nunca houve também cerceamento da liberdade de expressão ou qualquer tipo de impeditivo para a realização do trabalho da imprensa.

“A IEQ-SE contesta os atos de violência praticados no domingo, dia 11 de abril, por pessoas de um movimento da internet, que às portas de duas de nossas igrejas dispararam buzinas e agressões públicas verbais; geraram perturbação à cerimônia dos cultos de Santa Ceia; causaram incitação do ódio e constrangimento com faixas e palavras generalizadas de acusação; geraram coação dos nossos membros para entrada e saída do local; e mostraram total insensibilidade com as vizinhanças quanto ao momento de pandemia”, detalha a Igreja.

Ainda de acordo com a instituição, a ação, que segundo a polícia excedeu os limites da passividade, rendeu ainda agressão física direta a um dos membros da Igreja. “Diante dos fatos registrados por testemunhas e pela própria imprensa, que continua contando com o respeito da Igreja à sua livre expressão, a instituição está adotando as providências necessárias em apoio à toda membresia que se sentiu afetada com tal ato do movimento”, salienta o comunicado.

Força policial fazia a proteção de um dos templos durante os protestos (Foto: rede social)

As denúncias de abuso sexual

Duas mulheres que denunciaram casos de assédio sexual por pastores de uma igreja evangélica em Aracaju falaram sobre as situações que passaram. Ambas as histórias são parte de uma investigação sigilosa realizada pelo Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV). Dois líderes são apontados como os principais responsáveis pelos crimes.

As entrevistas foram concedidas ao SE2. Em uma delas, a vítima, que frequentava a igreja há cinco anos, conta que sofreu assédio durante um aconselhamento espiritual em que pedia orientação sobre um dilema em seu relacionamento.

“Ele falou assim: ‘Eu vou lhe dar um exemplo como pastor e como homem. Como pastor a gente tem que orar, pedir a Deus, porque sabe que a vontade da carne fala. Mas como homem, eu vou ser bem sincero com você aqui. Só estamos nós dois aqui conversando e você é uma mulher que desperta muito desejo em muitos homens, inclusive a mim’. Aí ele começou a falar que quando me via, tirava a concentração dele no altar, que ele desejava coisas inimagináveis comigo. Aí falou que eu tava muito nervosa, que eu precisava relaxar, que se eu quisesse sairia com ele pra um lugar mais íntimo. Aí eu me senti acuada”, disse.

“E nesse momento ele falava comigo e pedia pra que eu olhasse para o membro dele, que ele estava alterado, colocou a mão. Falou que despertava desejo, que queria me levar pra um motel. Aí eu falei que ele tava equivocado, que não era pra aquilo que eu tava ali. Que eu tava vulnerável no momento, tava fragilizada. E ele falou que era exatamente por isso. Porque ele falou que queria que eu ficasse relaxada e que eu poderia relaxar com ele. Aí ele levantou do sofá, falou que tava maluco, começou a olhar para as minhas pernas. Pediu pra eu colocar a mão no membro dele. Eu falei que não iria fazer isso. Aí ele colocou a própria mão dele. E começou a falar palavras horríveis, escrotas”, relatou a vítima.

Após a atitude, a mulher falou que iria embora. “Aí falei que ele tava equivocado, que eu queria sair. Aí ele disse ‘Não, você vai ter que assistir ao culto, que daqui a pouco eu vou ter que ir para o culto’. Aí eu falei que não estava mais confortável em continuar ali, que não era isso que eu fui buscar. Aí ele falou que eu tava muito nervosa e entendendo tudo errado. Que aquilo tinha que ficar ali, tinha que morrer ali, porque se eu fosse falar pra alguém isso podia não ficar bem pra ele. Tipo assim, como se fosse num tom de ameaça. Porque se eu falasse alguma coisa, ninguém iria acreditar em mim, por ele ser uma pessoa muito influente”, disse a vítima, que não saiu da igreja após o caso.

Uma outra mulher disse que passou por situação semelhante duas vezes, sendo a primeira com o filho do pastor, que também exerce a função ministerial. A vítima conta que pediu um aconselhamento, mas ele sugeriu que a conversa ocorresse em um shopping porque a igreja estaria fechada.

“Ele disse que a igreja estaria fechada e por isso seria melhor marcar no shopping, que era um local público pra não ter problema. Eu estranhei, pelo fato de ser um shopping. Por que não esperar outro dia na igreja? Mas ao mesmo tempo ele falou ‘é um local publico’, então realmente não vai ter nada. Só que quando eu passei pra ir ao shopping a igreja tava aberta. Eu vi que ele tava aberta, aí já estranhei. Quando eu cheguei no shopping, ele chegou e disse ‘venha pra cá pra porta’. Fui pra porta, ele disse ‘entre dentro do carro porque o shopping é um lugar muito público, eu sou casado e as pessoas podem falar coisas’. Só que assim, não sei se foi ingenuidade, às vezes a gente confia, pelo fato de ser pastor, mesmo sem entender nada, eu entrei”, falou a mulher.

Nesse momento, o pastor, segundo ela, fez insinuações sobre um motel. “Ele trancou e perguntou: ‘Quer ir pra onde?’ E eu não sabia, porque não tinha ideia. Eu fiz: ‘Não sei’. Ele disse ‘Não sei é o nome de um motel’. E começou a rir olhando pra mim. E aí eu desconversei, né? Ele começou a rodar pela cidade porque eu não sabia pra onde queria ir. E começou a fazer perguntas muito esquisitas que eu vi que não eram aconselhamento pastoral. Ele perguntou se eu era virgem, perguntou se eu já tinha tido experiências nessa área assim, né? E aí eu fiquei ‘meu Deus do céu, isso tá muito estranho’, isso não é aconselhamento”, disse.

Ela também relatou outra situação vivida com um segundo pastor da organização. “Eu continuei na igreja depois do primeiro assédio porque ele não era meu pastor e ele não era o pastor daquela igreja. Ele fazia alguns cultos esporádicos. Mas o meu pastor, pra mim, era uma figura de autoridade espiritual, um homem que eu respeitava muito, que eu confiava. E ele começou a me mandar mensagens pelo Instagram. Só que no início eram mensagens assim, muito inocentes perguntando porque eu havia faltado ou se cheguei atrasada. Coisas assim que no inicio você pensa ‘Poxa, que legal, tá se preocupando comigo’. Você se sente especial. Você diz ‘Poxa, uma igreja tão grande, e ele é meu pastor que é tão fechado’, porque assim, ele entrava e saia do culto e não falava com ninguém, muito reservado”, informou.

“Só que ai começou a ficar estranho, sabe? Graças a Deus não chegou no ponto onde eu vi que muitas mulheres infelizmente chegou. E eu fui atrás saber disso, porque eu tava achando que talvez pudesse ser outra pessoa [enviando as mensagens]. E aí ele ficou sabendo disso, que eu tinha falado pra outras pessoas e me chamou pra conversar na sala dele com outra pastora presente. Só que ele falou ‘Estava lendo as mensagens e não vi nada demais, eu achei que tinha intimidade com você pra falar sobre essas coisas’. Só que ele não tinha, ele nunca tinha falado comigo, como é que ele tinha intimidade, sabe?”, contou.

Os relatos foram reunidos por outro pastor, Maurício Romeiro, através de uma rede social. Ele chegou a questionar as atitudes com a instituição, mas não houve retorno. “Quando eu perguntava algumas coisas a pessoas ligadas à liderança, eu tinha a seguintes resposta: ‘Isso aí são boatos. São mulheres frustradas que tentaram alguma coisa com o pastor e que não conseguiram e saíram falando mal’, disse.

Segundo ele, cerca de 50 mulheres entraram em contato falando sobre o caso e parte delas decidiu formalizar as denúncias. Os nomes dos suspeitos e da igreja não foram mencionados.

Casos de assédio podem ser denunciados pelo DAGV, que funciona todos os dias, 24h. Em Aracaju, o departamento que está localizado na Rua Itabaiana, no Bairro São José, ou através no número (79) 3205-9400. Em Nossa Senhora do Socorro, a delegacia fica na Rua 24, 168, Conjunto João Alves Filho. O contato é feito pelo (79) 3279-2450.

Também é possível fazer denúncias pelo 181 ou 190. O sigilo é garantido.

Fonte: G1 e Infonet

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