Igreja pede orações em meio à onda de violência no Equador (Foto: Reprodução/Instagram Igreja Zion)
Igreja pede orações em meio à onda de violência no Equador (Foto: Reprodução/Instagram Igreja Zion)

A descrição de uma foto com pedido orações pelo Equador, feita pela Igreja Zion de Quito em seu perfil do Instagram, diz: “Declaramos a paz e a justiça de Deus sendo estabelecidas em nossa nação!”

A igreja cita um texto famoso do apóstolo Paulo, especialmente no contexto de guerra espiritual: “Pois não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os governantes das trevas deste mundo, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.” (Efésios 6:12).

O motivo da manifestação da Zion equatoriana é a onda crescente de violência que está abalando o país, localizado na América Central, onde atuam gangues e facções criminosas ligadas ao narcotráfico.

O caos começou há três dias quando José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, o líder do Choneros, principal facção criminosa do Equador fugiu da prisão.

A violência nesse curto período já deixou 70 detidos e mais de 13 mortos, entre civis e policiais, o que fez o presidente Daniel Noboa assinar um decreto nesta terça-feira (09) colocando o Equador em estado de exceção.

O estado de exceção, frequentemente adotado em situações de emergência, é uma condição jurídica e política em que as autoridades governamentais possuem poderes extraordinários, geralmente temporários, que vão além das restrições normais impostas pela legislação e pela Constituição.

No caso do Equador, a medida foi tomada para reprimir e conter os conflitos causados por criminosos armados e ameaças à segurança nacional que colocam a ordem pública em risco.

Terroristas

A autoridade máxima do país reconhece oficialmente que o Equador está enfrentando um “conflito armado interno”. O mesmo documento identifica 22 organizações criminosas como terroristas e instrui as Forças Armadas a realizar operações com o objetivo de “neutralizar” os grupos mencionados.

Dentre essas facções que dominam o país, destaca-se os Choneros, cujo líder, Fito, conseguiu escapar da prisão no domingo (7). O incidente desencadeou uma crise de violência, sendo descrita pela imprensa local como uma “noite de terror” na madrugada desta terça-feira (09). Houve relatos de explosões de carros-bomba e outros atos aparentemente coordenados, incluindo o sequestro de quatro policiais.

As ações ocorreram após o presidente Noboa, enfrentando sua primeira crise desde que assumiu a Presidência em novembro, decretar um estado de exceção de 60 dias em todo o país. Essa medida abrange um toque de recolher de seis horas, das 23h às 5h.

Criminosos invadem emissora de TV ao vivo

O caos persistiu na tarde desta terça-feira, quando indivíduos encapuzados invadiram a sede da emissora TC na cidade portuária de Guayaquil, no sudoeste do território.

Os homens, que estavam armados e com granadas, renderam o apresentador e funcionários durante uma transmissão ao vivo do telejornal El Noticiero, que foi abruptamente interrompido.

Nos vídeos da transmissão, é possível observar o grupo esbravejando contra a polícia. Profissionais da emissora são vistos deitados no chão, enquanto ao fundo se ouvem o que parecem ser tiros.

Um dos funcionários presentes durante o ataque enviou uma mensagem a um repórter da agência de notícias AFP, afirmando: “Entraram aqui para nos matar”. Cerca de 30 minutos se passaram até que as forças de segurança entrassem no local e prendessem pelo menos 13 criminosos envolvidos na ação.

Paralelamente a isso, diversos ataques ocorridos em Pascuales e outras regiões de Guayaquil resultaram em oito mortos e dois feridos, de acordo com informações do jornal local El Universo, com base em um balanço da polícia divulgado às 18h30 no horário local (20h30 em Brasília).

Em paralelo a isso, diferentes ataques ocorridos em Pascuales e em outras regiões de Guayaquil deixaram oito mortos e dois feridos, informou o jornal local El Universo com base em um balanço da polícia divulgado às 18h30 do horário local (20h30 em Brasília).

Invasão em universidade

A Universidade de Guayaquil também foi invadida por homens armados. Imagens divulgadas nas redes sociais e relatos na imprensa local mostram alunos e professores correndo assustados pelo campus, buscando refúgio em salas de aula.

Diante dessa situação, o Ministério da Educação optou por suspender as aulas e as atividades escolares em todo o país até sexta-feira (12). A extrema violência e o clima de tensão no Equador também levaram ao cancelamento de voos e deixou as ruas vazias e comércio fechado.

Em Nobol, cidade próxima a Guayaquil, dois policiais foram mortos, de acordo com publicação das autoridades nas redes sociais.

Diante da crise, a Assembleia Nacional (poder legislativo equatoriano) expressou apoio ao Executivo, anunciando resoluções adotadas em conjunto por bancadas políticas de diversas linhas ideológicas. Entre as medidas anunciadas está a possibilidade de conceder indultos e anistias a policiais e militares envolvidos no combate ao narcotráfico.

Repercussões internacionais

A crise também teve repercussões no exterior. O Ministério do Interior do Peru ordenou o envio de forças para a fronteira entre seu país e o Equador, decretando estado de emergência em todas as cidades ao longo da linha divisória. A medida foi anunciada na madrugada desta quarta-feira (10).

O Brasil, por meio do Itamaraty, afirmou em nota que está acompanhando com preocupação a escalada de violência no país. Além disso, mencionou que está investigando uma denúncia de suposto sequestro envolvendo um cidadão brasileiro, Thiago Allan Freitas, em Guayaquil.

Já a China anunciou o fechamento de sua embaixada, também a partir desta quarta.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também se manifestou nesta quarta-feira (10):

“Acompanhamos com preocupação os acontecimentos dos últimos dias no Equador e apoiamos a institucionalidade democrática. Esperamos que a normalidade seja retomada em breve”.

‘Sem negócio com terroristas’

Ao declarar o estado de exceção na segunda-feira, o presidente Noboa afirmou que essa medida possibilitaria a intervenção das Forças Armadas no sistema prisional equatoriano. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, ele declarou: “Não negociaremos com terroristas nem descansaremos até devolvermos a paz”.

No decreto desta segunda-feira, anterior ao reconhecimento do conflito armado interno, as Forças Armadas já haviam sido acionadas para se juntar às ações da polícia nacional.

A novidade foi o reconhecimento do estado de “conflito armado interno”, a listagem das facções reconhecidas como terroristas e a determinação para que o Exército execute operações militares contra os grupos declarados.

Crescimento da violência

O crescimento da violência tem sido vertiginoso no Equador. Em 2022, a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes foi de 25,9, um aumento significativo em comparação com o índice de 5,8 registrado cinco anos antes, em 2017, que havia atingido o menor patamar em anos.

Situado entre o Peru e a Colômbia, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador atua como entreposto de exportação para a droga por via marítima.

O país também testemunhou facções internas associando-se ao crime transnacional, especialmente enquanto exerciam domínio nos presídios locais.

Nos últimos anos, o cultivo e a demanda por cocaína alcançaram níveis recordes no mundo, conforme relatado pela ONU, impactando a distribuição e abrindo novas rotas para o narcotráfico.

Apenas em um ano, o Equador registrou a apreensão de 210 toneladas de drogas, também estabelecendo um recorde.

Fonte: Guia-me com informações de Folha e AFP

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