Pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação
Pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação

A prisão do pastor e ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, desencadeou a maior crise na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) em décadas, segundo seus integrantes. A IPB é pressionada nas redes sociais e por igrejas a se manifestar sobre o caso, enquanto os integrantes da cúpula da instituição divergem em discussões sobre a postura que deve ser adotada.

As informações são da Folha de S. Paulo.

O caso Milton Ribeiro foi o principal tema na reunião bimestral do Conselho de Administração do Mackenzie, na quinta-feira, 23, onde, segundo relatos, Roberto Brasileiro, presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, pediu para os conselheiros ficarem como “passarinho na muda”, uma expressão que significa manterem silêncio e esperarem os desdobramentos da investigação da PF (Polícia Federal).

Brasileiro ainda disse que Milton, ex-vice-reitor do Mackenzie, não será afastado pela cúpula da igreja e que a instituição não fará nenhuma manifestação pública sobre o assunto.

Segundo integrantes do colegiado, o presbítero Antônio César, que visitou Milton Ribeiro na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, o dia da prisão, disse na reunião que, durante a visita, Milton falou que suas mãos estavam limpas e que a investigação da PF irá comprovar a sua inocência.

Roberto Brasileiro, que está em seu quinto mandato e segue desde 2002 no mais alto posto da IPB, é considerado pelos religiosos e aliados como um pastor conciliador, com interlocução com todas as alas da igreja presbiteriana.

Um dos filhos dele, Gustavo Brasileiro, foi assessor especial de Milton Ribeiro no Ministério da Educação. Ele pediu exoneração em 1º de abril, na mesma semana em que o ministro deixou o governo. Gustavo é pré-candidato pelo Novo para o cargo de deputado estadual por Minas Gerais.

Avaliações da cúpula da IPB

Segundo a Folha de S. Paulo, a maioria dos membros da cúpula da IPB acredita que Milton foi ingênuo ao abrir as portas do Ministério da Educação aos pastores pentecostais Gilmar Santos e Arilton Moura. Segundo eles, esses pastores usaram o ex-ministro para pedir propina.

Outros acreditam que Milton tem culpa por ter misturado o cargo público com a vocação pastoral e eliminado critérios técnicos para a distribuição de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Membros da Igreja Presbiteriana também consideraram decepcionante a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL), que deixou de defender a inocência do ex-ministro.

O vice-presidente do Presbitério de Santos, pastor Vulmar Dutra, não vê na prisão de Milton motivo para a abertura de um processo interno contra o ex-ministro.

“[Qualquer processo] só será aberto se ele for julgado [pelo Judiciário] ou se houver alguma denúncia formal. Do contrário, vamos continuar. Esse é o trâmite da igreja. Não há nada, nenhuma denúncia formal. A gente não julga ninguém por presunção”, disse à Folha de S. Paulo.

“A gente ora para que tudo se esgote o mais rápido possível e não vá nada à frente, que ele consiga se defender. Essa é a nossa esperança”, completou.

Sobre o caso

Milton Ribeiro foi preso na quarta com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos por suspeita de operar um balcão de negócios no Ministério da Educação e na liberação de verbas do FNDE.

O ex-ministro saiu da prisão após conseguir um habeas corpus do juiz federal Ney Bello, do TRF-1, na quinta (23).

Nesta sexta-feira, 24, a Justiça Federal do Distrito Federal encaminhou o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal), indicando suspeitas de interferência de Bolsonaro nas apurações.

A operação foi batizada de Acesso Pago e, segundo a PF, investiga a prática de “tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos” do FNDE.

A suspeita é que os pastores Gilmar e Arilton negociavam com prefeituras a liberação de recursos do Ministério da Educação mesmo sem ter cargos no governo. Em troca, prefeitos disseram ter recebido pedidos de propina da dupla.

Em áudio revelado pela Folha de S. Paulo, Milton Ribeiro disse que priorizava pedidos dos amigos de um dos pastores a pedido de Bolsonaro.

Na gravação, o então ministro ainda mencionava pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para a construção de igrejas. A atuação dos pastores junto ao MEC foi revelada anteriormente pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Comentários