Ciúmes e disputas aquecem os preparativos para a grande comemoração do primeiro Dia de São Frei Galvão após sua canonização. Quinta-feira, dia 25, Guaratinguetá vai celebrar seu filho mais ilustre. A cidade espera receber milhares de fiéis. Mas os conterrâneos do frade franciscano estão divididos.

De um lado, a Catedral de Santo Antônio, no Centro do município, preparou novena e palestras em honra ao santo, que foi batizado e rezou sua primeira missa lá. Do outro, a Igreja de Frei Galvão tem uma semana de shows, barraquinhas, novenas e três missas diárias.

Há quem diga que a Catedral é a verdadeira igreja do santo, por ter relação direta com passagens de sua vida, ainda no século 18. Foi lá que Antônio de Sant’Anna Galvão freqüentou as missas e se iniciou no catolicismo. Assim, ela teria o direito divino de centralizar as festas.

Mas entre os romeiros, a Catedral não é tão popular. O templo perde de longe em número de visitantes se comparado à sua concorrente, a igreja denominada de Frei Galvão.

Situada no bairro de Jardim do Vale, a 15 minutos do Centro, ela foi construída no fim dos anos 80 como Igreja São José, com intuito de valorizar o loteamento que fica em uma área rural. O pai de Jesus, santo muito mais antigo que Galvão, acabou destronado em 1998, quando o brasileiro ganhou o título de beato e se popularizou. Hoje, a Igreja de Frei Galvão é o principal destino de romeiros em busca de graças e pílulas milagrosas do santo.

Duas opções

Para o padre Reginaldo Joaquim Trindade, da Igreja de Frei Galvão, o óbvio seria que a festa fosse em sua paróquia. “Eu reivindiquei, achava que devia ser aqui, na igreja dele. É aqui que fazemos a novena perpétua de Frei Galvão, em nenhuma outra igreja isso acontece. Mas o bispo (de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis) e o padre Sílvio (da Catedral) acharam melhor ter festa nos dois lugares. Para mim, tudo bem”, despista o sacerdote, há dois anos e meio à frente da paróquia.

“Em uma cidade pequena, fazer duas festas ao mesmo tempo significa dividir as atenções e o público, esvaziando as duas e diminuindo as chances de conseguir patrocínio”, discorda Leonardo Cipoli, descendente de Frei Galvão e responsável pela página do santo na Internet, onde é possível ‘acender’ velas virtuais. “Por que não unir as forças?”, questiona.

Apesar de mostrar desconforto, padre Reginaldo não acredita que uma comemoração atrapalhe a outra. “É bom ter essa diversidade. Guaratinguetá é grande e os bairros são distantes. Quem mora aqui não vai pra lá e vice-versa. Além disso, o turista e o devoto terão duas opções.” Apesar disso, admite o racha. “A rixa existe, mas não da minha parte.
Na esfera religiosa não há problemas. Eu e padre Sílvio (da Catedral) nos damos muito bem e celebramos na igreja do outro. A confusão é criada por interesses comerciais”, garante.

Já o diácono Afonso, da Catedral de Santo Antônio, não admite os desentendimentos. “Na Igreja não pode existir esse tipo de coisa. A construção do Santuário de São Frei Galvão está sendo pensada na mais perfeita harmonia entre as duas igrejas e a Arquidiocese. Não há competição”, defende ele.

Diretora do Museu de Frei Galvão, Thereza Regina de Camargo Maia não desmente tensões e dificuldades de diálogo, mas acredita que o primeiro santo brasileiro está acima de coisas mundanas. “Queremos que ele seja cada vez mais conhecido e venerado.”

Fonte: O Dia

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