A Associação Alemã de Professores de Escolas Primárias afirma que o número de grupos ligados à seita oferecendo aulas particulares triplicou nos últimos dez anos e teme riscos à educação das crianças.

O diretor da Associação Alemã de Professores de Escolas Primárias, Heinz-Peter Meidinger, disse que a organização está ciente da existência de pelo menos 30 escolas que estão oferecendo aulas particulares conduzidas por cientologistas, os quais estariam influenciando os estudantes. Ele acrescentou que o número triplicou nos últimos dez anos e pode ser ainda maior.

Meidinger disse que cientologistas em centros educacionais podem estar tirando vantagem da vulnerabilidade das crianças com dificuldades de aprendizado. Ele alertou que crianças com problemas educacionais podem se sentir inferiores, o que as torna mais influenciáveis pela Cientologia.

A secretária de Educação de Schleswig-Holstein, Ute Erdsiek-Rave, disse que ficou alarmada com os crescentes relatos de casos de influência da Cientologia sobre crianças que recebem aulas particulares.

Segundo Meidinger, a influência começa com o tutor ou a instituição oferecendo lições de matemática ou de inglês, por exemplo, para depois mudar o foco das aulas. Ele disse que a qualidade do ensino é, de um modo geral, muito boa e os custos são acessíveis.

Ele alertou, no entanto, que os pais nem sempre percebem quando os tutores encorajam os estudantes a participar de outras classes – freqüentemente muito mais caras – prometendo transformar o aluno numa “nova pessoa”.

Ensinar é um negócio lucrativo

Há atualmente cerca de 4 mil instituições que oferecem aulas de reforço na Alemanha. O mercado cresceu nos últimos anos, provavelmente devido à avaliação insatisfatória que escolas alemãs receberam nos chamados testes Pisa, feitos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e que analisam a qualidade do sistema de educação em países industrializados.

O jornal Die Welt citou um estudo do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica que aponta que um em cada quatro dos 9,6 milhões de estudantes na Alemanha recebe aulas de reforço. Isso representa 2,5 milhões de crianças. Segundo a revista Der Spiegel, o número é de uma em cada três crianças.

O porta-voz do Ministério da Família, Marc Kinert, disse que, como o mercado está crescendo, os pais precisam ficar ainda mais vigilantes no que diz respeito à educação das crianças. “Os pais devem sempre estar informados sobre as atividades das crianças e analisar cuidadosamente panfletos sobre aulas particulares”, disse.

Informando-se sobre a Cientologia

A porta-voz alemã da Cientologia, Sabine Weber, disse à revista Der Spiegel que “durante anos, uma mentira em cima da outra tem sido dita a respeito da Cientologia”. Ela disse considerar positivo que membros da organização estejam ajudando a melhorar o inadequado sistema educacional alemão.

“É muito bom e correto que cientologistas queiram ajudar”, afirmou Meidinger, “mas eles deveriam agir às claras”. Para ele, caso queiram oferecer aulas para crianças, os cientologistas deveriam mostrar de forma clara quem são e não esconder nada.

“Às vezes, panfletos oferecendo aulas privadas mencionam, casualmente, o nome L. Ron Hubbard, mas eles não explicam que se trata do fundador da Cientologia”, aponta.

Visão crítica

Na Alemanha, a Cientologia é muitas vezes vista como uma atividade comercial com interesses econômicos. Membros do movimento estão constantemente sob vigilância do Escritório Federal para Proteção da Constituição, cujo trabalho é monitorar atividades antidemocráticas.

Cientologistas alemães dizem que sofrem perseguição religiosa e consideram ridícula a noção de que se trata de um movimento não-democrático. “Em nenhum lugar do mundo a Igreja da Cientologia é vista sob uma luz política da forma como acontece na Alemanha”, disse Weber, na entrevista.

Para Meidinger, não se trata de liberdade religiosa. “Caso a Justiça permita, os cientologistas podem praticar sua filosofia. Mas até mesmo uma instituição educacional católica ou protestante divulga sua afiliação religiosa”, observa.

Ele admite, porém, que é difícil avaliar a qualidade e o conteúdo das sessões privadas de ensino, já que se trata de uma atividade envolvendo apenas duas pessoas. Além disso, os centros de ensino não estão submetidos à autoridades escolares – qualquer pessoa pode estabelecer um centro desse tipo.

A Seita

A cientologia, fundada em 1954 nos EUA por Lafayette Ronald Hubbard, escritor de ficção científica, que faleceu em 1986, é conhecida como ”a seita das estrelas”. Nos Estados Unidos, já congrega uma constelação formada, entre outros, pelos atores Tom Cruise e John Travolta e pelo pianista Chick Corea. A igreja carrega ainda outra fama – a de alvo de centenas de denúncias e condenações judiciais por delitos que vão de fraude fiscal a chantagem. A cientologia chegou ao Brasil em 1994. Foi trazida por Lucia Winther, atualmente a principal líder e porta-voz do culto no país.

A cientologia se autoproclama uma síntese entre Ciência e Religião. De acordo com seus preceitos, uma parte da mente chamada ”reativa” seria responsável por todas as doenças psicossomáticas e por todos os sentimentos de insegurança, culpa e arrependimento. A maneira de se livrar da ”mente reativa” seria através da ”audição”, uma terapia na qual o fiel fecha os olhos e descreve repetidas vezes incidentes angustiantes e dolorosos de sua vida a um ”auditor”. Existem cursos especiais para formar um ”auditor”, que duram cerca de seis meses.

O principal crítico do movimento é o engenheiro americano Arnaldo Lerma, que foi membro da elite da igreja por mais de dez anos. Ele mantém um site chamado Exposing the Con (Expondo a Trapaça), no endereço www.lermanet.com. Ele chegou a ser processado por divulgar na rede escritos ”sagrados”, pelos quais a seita costuma cobrar uma fortuna. São histórias mirabolantes que buscariam explicar a origem da humanidade. Resumindo, há 76 milhões de anos, o maldoso Lorde Xenu, governante de uma federação galáctica, teria exilado os humanos na Terra para resolver um problema de superpopulação.

Lerma também descreve o que classifica como manipulações e tentativas de extorsão dos seguidores do culto durante os processos de ”audição”. Segundo relatos próprios e de outros ex-cientologistas, os ”auditores” buscariam arrancar segredos dos fiéis durante o processo para chantageá-los. A igreja está envolvida em disputas judiciais em quase todos os 40 países em que está presente. No Brasil, pelo menos por enquanto, a cientologia está limpa – de processos e de celebridades.

Polêmica em torno de seu fundador

Fundada em 1954, no Estado da Califórnia (EUA), o idealizador dessa seita é Lafayette Ron Hubbard (1911-1986), filho de um comandante da marinha norte-americana. Segundo publicações da Cientologia ele seria formado em engenharia civil, com especialização em física nuclear, pela Universidade George Washington. “No entanto, os registros da escola revelam que ele cursou apenas dois anos, sendo que o segundo em regime probatório, tendo sido reprovado em física. Afirma-se também que ele teria Ph.D conferido por uma tal Universidade Sequoia da Califórnia, embora não haja provas de que exista uma escola superior com esse nome na Califórnia, qualificada para conceder títulos de doutorado”.

Hubbard se consagrou nas décadas de 30 e 40 como um prolixo escritor de ficção científica, chegando a escrever cerca de setenta e oito novelas desse gênero e outras obras. A biografia de Hubbard não é a das mais confiáveis, pois alguns de seus familiares resolveram romper com a Cientologia e emitiram depoimentos sobre Hubbard. Para seus seguidores, esses depoimentos não são aceitáveis, porque, segundo afirmam, faltam com a verdade. Entretanto, uma das palavras mais duras ditas sobre Hubbard veio de Ronald DeWolf, um de seus cinco filhos. DeWolf disse que seu pai era “um dos maiores trapaceiros do século”.

Desde pequeno, Hubbard costumava viajar com seu pai aos países do Oriente, o que despertou o seu interesse por diversas culturas e crenças. Mais tarde, estudou engenharia e física nuclear. Em 1950, ele publica o livro “Dianética: a Ciência moderna e a saúde mental”, que se tornou uma autoridade da Cientologia. Em 1959, mudou-se para a Inglaterra e, devido à forte oposição às suas idéias, deixou-a em 1966, passando a viver a bordo de um navio de 300 pés chamado Apolo, cercado de discípulos. Em 1967, começou a dirigir a Sea organization ( “Organização do mar”), sua congregação religiosa dentro da “Igreja da Cientologia”. No ano de 1975, Hubbard voltou aos Estados Unidos, onde passou a levar uma vida cada vez mais discreta e retirada do público, inclusive de seus familiares. Foi então que começaram a surgir rumores sobre a eventualidade de seu falecimento. Ronald DeWolf entrou com uma petição judicial, num tribunal do Estado da Califórnia, para ser nomeado procurador dos bens do pai, alegando que ele havia morrido. Todavia, o tribunal descobriu que Hubbard estava vivo, vindo a falecer dez anos depois, mais precisamente em 1985, deixando mais de seis milhões de adeptos no mundo inteiro.

Fonte: DW World.de, Revista Época e Revista Defesa da Fé

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