Líder supremo rebate texto da ONU que reforça suspeitas contra planos de Teerã. Declaração foi feita durante inauguração de navio de guerra; aiatolá acusou Washington de fomentar atritos no Oriente Médio.
Um dia após a ONU externar abertamente, pela primeira vez, a suspeita de que o Irã busca desenvolver a bomba atômica, o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, disse na sexta-feira que o islã proíbe a obtenção de armas de destruição em massa.
“As acusações do Ocidente são infundadas. Nossas crenças religiosas nos impedem de ter esse tipo de arma. Não acreditamos na arma atômica nem queremos consegui-la”, disse Khamenei durante a cerimônia de inauguração do mais novo navio de guerra iraniano.
As declarações do aiatolá, detentor da palavra final sobre todos os assuntos iranianos, surgem após o vazamento de um relatório no qual a AIEA (agência nuclear da ONU) diz que o Irã já chegou ao nível de desenvolvimento necessário para a produção de uma arma nuclear.
O texto cita evidência de “atividades iranianas não reveladas”, passadas ou atuais, para a fabricação de ogiva nuclear.
A mudança de tom da AIEA é um reflexo da recente troca de comando no órgão multilateral.
O japonês Yukiya Amano, que assumiu o órgão em dezembro, é tido como mais alinhado com a estratégia das potências ocidentais contra Teerã do que o antecessor Mohamed ElBaradei. O egípcio defendia uma abordagem mais conciliadora em relação ao Irã. para evitar um cenário semelhante ao ocorrido em 2003 no Iraque -o país foi invadido sob o pretexto falso de que fabricava armas de destruição em massa.
O fato de as declarações de Khamenei terem surgido em uma cerimônia em um porto militar destinada a glorificar a indústria bélica nacional evidencia a estratégia iraniana de enviar sinais ambivalentes.
Por um lado, a fala de Khamenei reproduziu uma retórica do alto escalão iraniano que visa apresentar o Irã como potência pacífica e responsável.
Por outro, a presença do aiatolá na cerimônia de lançamento de um destróier ultramoderno reforça o caráter ostensivo do poderio bélico iraniano -que pode ser percebido também nos testes com mísseis.
Khamenei acusou os EUA de acenar com uma suposta ameaça nuclear iraniana para assustar o Oriente Médio e aumentar a venda de armas na região.
As tensões aumentaram após Teerã anunciar, no último dia 7, que aumentaria o nível de enriquecimento de seu urânio de 3,5%, necessário para uso energético, a 20%, usado para fins medicinais. Irã e Ocidente se culpam mutuamente pelo fim das conversas para o envio de urânio iraniano para enriquecimento no exterior, que abriram caminho para que os EUA reforçassem sanções unilaterais e iniciassem uma campanha por novas punições da ONU contra Teerã.
Fonte: Folha de São Paulo