As comunidades judaicas da Síria e do Líbano estão próximas da extinção. Dos milhares de judeus que habitavam esses países, apenas algumas dezenas ainda vivem em Damasco e Beirute.
Os poucos que permaneceram não gostam de aparecer e raramente concordam em dar entrevistas. Encontrá-los é uma tarefa árdua.
Nas ruas da cidade antiga de Damasco, todos sabem indicar onde fica o bairro judaico. Sem os cafés e restaurantes da área cristã de Bab Touma ou os bazares muçulmanos, o bairro judaico, conhecido como Al-Amin, parece uma cidade fantasma. Muitas casas cujos donos eram judeus estão completamente abandonadas, com pichações e vidros quebrados. Outras são trancadas com cadeados. Algumas foram entregues a refugiados palestinos que pintam bandeiras palestinas nas entradas.
As poucas pessoas que circulam pelas vielas parecem ser acostumadas a responder para turistas e jornalistas se ainda existem judeus vivendo ali.
Um judeu conhecido de Damasco é George Dabdoub. Ele tem uma loja de antiguidades e tapetes na entrada do palácio de Azem, que é uma das principais atrações de Damasco e fica no lado muçulmano. Mas ele não estava quando procurado pelo Estado.
Calcula-se que hoje vivam no máximo cem judeus na Síria, quase todos em Damasco, em uma vila próxima ou em Aleppo. Na virada do século 19 para o 20, estima-se que até 100 mil judeus residiam no que hoje é a Síria. Pouco antes da fundação do Estado de Israel, 30 mil ainda viviam no país. Mas a maioria partiu ainda em 1948. Há divergências sobre os motivos que os levaram a sair da Síria. Alguns historiadores afirmam que foram expulsos e temiam por sua segurança. Outros dizem que os próprios israelenses colocavam bombas em áreas judaicas para forçar os judeus sírios a emigrar para Israel.
Nos anos 70, o número de judeus havia se reduzido para 4.500. Nas décadas anteriores, eles tinham em suas carteiras a inscrição “mossawi” para designar que eram judeus, além de serem monitorados pelas autoridades sírias e impedidos de deixar o país. Com a chegada de Hafez Assad ao poder em 1971, a situação dos judeus sírios melhorou um pouco, mas eles ainda estavam longe de ter os mesmo direitos que cristãos, muçulmanos e drusos e continuavam proibidos de emigrar. No início dos anos 90, o então líder sírio autorizou que os judeus emigrassem. Ele imaginava que a maioria optaria por permanecer. Errou. Quase todos foram embora, especialmente para os EUA, onde hoje formam uma comunidade no Brooklyn.
Os poucos judeus residentes em Damasco ainda se reúnem na sinagoga em datas religiosas, como o Yom Kippur. Diferentemente do Líbano, onde os judeus praticamente não se encontram. Segundo estudo do pesquisador Roni Chatah, da Universidade Americana de Beirute, há no máximo cem judeus ainda vivendo no Líbano.
Assim como em Damasco, eles não gostam de aparecer e muitas vezes omitem a religião. Chatah tentou colocar o Estado em contato com uma mulher de 26 anos que circula pelas ruas de Beirute com uma estrela de David no pescoço, mas ela não aceitou dar entrevista. Outra mulher pediu US$ 20 por uma entrevista.
A sinagoga Maghen Abraham, considerada a principal de Beirute, foi destruída, ironicamente, por uma bomba de Israel durante a ocupação do Líbano, em 1982. Até hoje, a sinagoga está destruída e completamente abandonada no centro da capital. O governo, que reconstruiu grande parte dos prédios de Beirute destruídos na guerra civil (1975-90), não restaurou a sinagoga, pois não pode tocar em prédios religiosos. Mesquitas e igrejas foram reerguidas com dinheiro das comunidades muçulmanas e cristãs.
Fonte: Estadão