A Igreja Tabernáculo da Fé, em Goiânia, Goiás, foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização por danos morais depois que um fiel teve o nome e imagens expostas em um culto por ter testemunhado contra o pastor Joaquim Gonçalves Silva em uma investigação por crimes sexuais, em 2021. Joaquim morreu em agosto do mesmo ano por Covid-19.
Além da Igreja, a decisão de 6 de setembro deste ano também condenou dois advogados que atuavam no caso, Leandro Silva e Ozemar Nazareno, bem como outro pastor da Tabernáculo, Clayton da Silva. Ao porta G1, os advogados disseram que vão recorrer.
O culto em questão aconteceu em 11 de julho de 2021, na sede da Tabernáculo da Fé, e foi transmitido ao vivo pela internet. No vídeo, de mais de duas horas, existem três momentos em que advogados afirmaram que o fiel fazia parte de uma conspiração para destruir a imagem de Joaquim Gonçalves com depoimentos e provas manipuladas das vítimas dos supostos crimes sexuais.
Na filmagem, a partir de 43 minutos e 12 segundos, o advogado Leandro Silva cita o nome completo do fiel para toda a igreja e para os telespectadores da transmissão, expondo-o publicamente como participante das investigações.
A partir de 1 hora 6 minutos, um vídeo é exibido com áudios cortados e manipulados, sugerindo que o fiel teria procurado mais de 80 pessoas para coagi-las a agir contra o pastor Joaquim Gonçalves. Cinco minutos depois, o advogado faz novas declarações que atacam o fiel, envolvendo-o em uma suposta conspiração contra o pastor.
Como o pastor Joaquim morreu, o Ministério Público de Goiás informou que o processo foi arquivado.
Relembre o caso
Pelo menos quatro casos de abusos por parte do líder Joaquim foram registrados até 2021 na Polícia Civil. Em um dos casos, uma adolescente que tinha 17 anos relatou em um vídeo publicado nas redes sociais que, em de janeiro de 2021, o pastor chegou a beijá-la quando ela esteve em seu escritório pedindo ajuda sobre o seu casamento, que estava em crise.
“Fui pedir conselhos depois de ter problemas no meu relacionamento. Foi quando ele colocou a mão no meu corpo e me deu um beijo. Passou a mão pelos meus seios e desceu até embaixo, quando eu o interrompi. Eu fiquei em choque, nunca na vida eu esperei isso dele”, contou.
Com medo dos julgamentos que poderia receber de membros da igreja, a adolescente disse que só teve coragem de denunciar os abusos que sofreu três meses depois do ocorrido, quando ficou sabendo que outras mulheres tinham passado pelo mesmo.
“Não é uma coisa que eu me orgulho de falar, porque é horrível você considerar a pessoa como um pai, que era como eu o considerava, e a pessoa aproveitar de você em um momento de fragilidade para fazer uma coisa dessa”, afirmou.
Após ser encorajada a denunciar, a adolescente registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia, em 26 de março daquele ano.
Ainda em 2021, uma mulher de 40 anos denunciou um abuso que teria ocorrido em 2018 e outra vítima, de 37 anos, denunciou ter sido assediada em 2015. Ela contou que o abuso aconteceu quando, assim como a adolescente, foi pedir ajuda ao religioso.
“Foi quando meu irmão morreu e eu terminei um relacionamento. Eu via nele a figura de um pai e, então, decidi pedir ajuda. Fui no escritório dele, estávamos só nós dois e, depois da conversa, ele me deu um abraço, me apertou muito, começou a beijar meu rosto e veio para beijar minha boca, quando eu virei”, afirmou.
Antes delas, a primeira denúncia na Polícia Civil foi registrada por uma mulher de 46 anos. Ela relatou ter sido abusada por diversas vezes entre os anos de 2002 e 2006. Ao g1, ela contou que permaneceu em silêncio por todo esse tempo porque tinha medo de que ela ou sua família fossem prejudicadas.
“Eu fazia trabalhos voluntários na igreja e amava, porque aquela era minha missão. No começo, ele dizia que, se eu contasse para alguém, iria me tirar da igreja, do trabalho. Depois, quando contei para minha família, ele mandou um aviso, pelo meu irmão, que alguém iria machucar eu, meu marido e meu filho, caso eu o denunciasse”, contou.
Sobre a investigação de crimes sexuais contra o pastor Joaquim Gonçalves Silva, na época, a defesa do pastor negou as acusações e afirmou que elas faziam parte de uma tentativa de retirar o religioso do comando da igreja.
Fonte: G1