A maré de bons resultados parece ter alcançado o mercado literário cristão. A procura por livros religiosos está em alta. Esse gênero literário tem despertado a atenção de leitores que buscam algo mais, como conhecimento, esperança e fortalecimento da fé. Segundo um levantamento da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, de 2023, o subsetor de livros religiosos foi o que mais se destacou, com um crescimento de 4,5% nas vendas ao mercado em comparação a 2022.
O segmento de livros religiosos representa cerca de 17% do mercado editorial brasileiro e tem mostrado resiliência e crescimento contínuo. Dentro desse segmento, observa-se forte demanda por literatura cristã. De acordo com Elton Melo, presidente da Associação de Editores Cristãos (Asec), há otimismo no setor, que pode expandir sua participação de mercado nos próximos anos.
“O subsetor das editoras evangélicas representa uma parte do segmento das editoras religiosas. E levando em conta o movimento de crescimento das Igrejas evangélicas no país, a perspectiva é de aumento em 2024. Destaque-se que o público evangélico cristão lê em média oito livros por ano, quando comparado com outros segmentos, o que mostra a pujança desse mercado editorial”, conta Melo.
Segundo Renato Fleishner, gestor de Operações da Editora Mundo Cristão e diretor-tesoureiro do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o segmento de obras cristãs conseguiu seu espaço nos canais de comercialização não-religiosos, físicos e digitais. Isso ampliou o acesso do público às publicações, ao lado do canal de vendas evangélico, que se mantém.
“Na Editora Mundo Cristão experimentamos um crescimento de 46% nas vendas do primeiro semestre de 2024, quando comparadas a igual período de 2023. Mas não foi somente a Mundo Cristão que cresceu: outras editoras também têm alcançado expressivo aumento nas vendas, permitindo apontar que este ano será histórico para o segmento”, projeta Renato.
Essa ampliação fez com que até livrarias seculares alavancassem suas vendas por meio de livros de conteúdo cristão.
De acordo com Renan Menezes, que é diretor-executivo da Editora Vida, soma-se a esse cenário de expansão fato de que o público cristão está entre os que mais leem, dentre todos os outros segmentos.
“A leitura devocional cresceu muito e creio que as pessoas têm buscado um pouco mais de acesso a materiais nesse sentido. Então percebemos que quando um autor faz um devocional que facilite a leitura, isso tem funcionado muito bem”, revela Menezes.
Segredo do crescimento
A pandemia marcou um momento significativo na busca por livros religiosos, um dos motivos que alavancou o mercado editorial cristão. Outro fator foi a venda dos devocionais, que furou a “bolha” do segmento, juntamente com as obras de ficção cristã. Outra estratégia que vem alavancando as vendas está no campo do marketing editorial: é o incremento de complementos aos livros, como kits de canecas, camisetas, acessórios e outros que acompanham os livros em si.
Também houve um aumento na quantidade de livros publicados e dos nichos de alcance dentro do segmento, explica Marcela Passos, diretora da Editora Central Gospel. “O crescimento da ficção cristã trouxe um aumento das vendas significativo, trouxe o olhar da mídia para o público cristão, o crescimento dos materiais infantis de qualidade, e olhar para esses nichos é o caminho para a gente continuar crescendo”, revela.
Para Danielle Bonavita, diretora da Graça Editorial, a venda de livros religiosos apresentou uma curva de crescimento que nenhum outro segmento conquistou neste último ano. “Isso foi impulsionado pela venda de devocionais, que estão fazendo muito sucesso. E até editoras ditas seculares estão publicando livros de pastores e padres”, afirma Bonavita.
De acordo com Elton Melo, a venda de livros com itens complementares, como marcadores personalizados, devocionais e outros, tem atraído o público cristão, especialmente em datas comemorativas. “Essa tendência de marketing não apenas aumenta o valor percebido pelo consumidor, mas também cria uma experiência de compra mais envolvente e personalizada”, afirma.
Um fator importante que reforçou o desempenho dos livros físicos foi o aumento das vendas realizadas diretamente pelos sites das editoras e pelos marketplaces. Em 2023, esses canais de distribuição online cresceram 21,5% em participação no faturamento das editoras, mostrando-se como uma estratégia eficaz para impulsionar as vendas. Essa tendência indica que as editoras estão se adaptando às mudanças no comportamento de consumo, utilizando suas próprias plataformas e marketplaces para alcançar diretamente os consumidores”, completa o presidente da Associação de Editores Cristãos.
Expectativa de futuro
O Brasil é um país majoritariamente cristão. Entretanto, o poder de compra de livros tem relação direta com o poder econômico da população. Dessa forma, os editores projetam como serão os próximos anos do mercado editorial cristão.
Renato Fleishner destaca que é necessário realizar políticas públicas para o incentivo à leitura, assim como a criação de mais bibliotecas públicas no país. “São desafios enormes, mas a literatura cristã cumpre seu papel de disseminar a leitura no Brasil”, ele analisa.
Para Marcela Passos, da Central Gospel, há um otimismo sobre o futuro do mercado editorial cristão. “Acredito que o público cristão tem buscado se aprofundar nos assuntos, e esse público vai buscar esse aprofundamento na leitura. Então a gente tem espaço para continuar crescendo”, ela avalia.
Para Eduardo Proença, que é diretor da Fonte Editorial, a sociedade tem visivelmente buscado mais por livros religiosos, e a projeção para o futuro é que essa demanda permaneça. “Cada vez mais o interesse pelo livro religioso não é um fenômeno do leitor cristão, mas da sociedade, que se vê diante de um quadro sociológico onde a religião é um fator determinante para decisões e posturas”, projeta.
Considerando que os cristãos estão entre os brasileiros que mais leem, Renan Menezes faz uma análise positiva quanto ao futuro do mercado editorial evangélico. “Eu acho que [a demanda] vai continuar crescendo, mas é óbvio que depende do trabalho de cada editora e também das igrejas locais, pois é impossível construir uma editora sem servir à Igreja brasileira, e é difícil falar como vai performar daqui a cinco anos, mas a expectativa é boa”, finaliza.
Em resumo, o mercado editorial brasileiro, especialmente no segmento cristão, está em plena expansão, com tendências que apontam para um crescimento contínuo e uma adaptação às novas demandas dos consumidores. Em conclusão, a combinação de tradição e inovação deve guiar o setor nos próximos anos, consolidando-o como uma força significativa na cultura e na economia do país.
Fonte: Comunhão