O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer discutir com o papa Bento XVI a questão da fome no mundo, os esforços internacionais pela solução pacífica de conflitos e a luta contra a pobreza. Essa é a proposta que o governo apresentou ao Vaticano para o encontro entre o papa e o presidente brasileiro durante a visita de Bento XVI ao País no próximo mês.

A reunião entre Lula e o papa está prevista para o dia 10 de maio, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. A agenda do encontro entre os dois ainda está sendo fechada, e o Vaticano também deve apresentar ao Itamaraty o que espera tratar com o presidente Lula. Nesse mesmo dia, Bento XVI também será recebido pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e se encontra com jovens católicos no Estádio do Pacaembu.

Fontes do governo brasileiro afirmaram ao Estado que dificilmente o encontro com Lula será usado para tratar de problemas internos do País. O objetivo seria debater os assuntos comuns nas pautas da política externa do Brasil e da Santa Sé.

Os debates políticos ainda devem ficar limitados à esfera internacional diante do fato de o governo e o próprio Vaticano considerarem a viagem como uma visita pastoral, e não uma viagem de Estado. Fontes na Santa Sé apontam que o Brasil foi escolhido para ser o local de visita do papa como parte de uma estratégia da Igreja de conter a migração de fiéis para o que o Vaticano chama de seitas evangélicas. Essa preocupação, porém, não deve ser alvo do debate do papa com Lula.

Proximidade

Para o governo, os três pontos escolhidos pela presidência para tratar com o papa são os que mais aproximam politicamente o Brasil da política externa da Santa Sé e das avaliações pessoais de Bento XVI.

Em seu livro, chamado Jesus de Nazaré e lançado em comemoração dos seus 80 anos, o papa critica os países ricos por suas políticas em relação aos países pobres, principalmente a África. Na publicação, ele diz que os países ricos saquearam a África e outras regiões pobres do mundo sem piedade. As mensagens são parecidas à postura da política externa do governo brasileiro. O programa do governo para a luta contra a fome também está na agenda, principalmente no que se refere aos objetivos de Lula de levar os projetos para outros países. Além disso, o Brasil tradicionalmente coincide com a posição da Igreja Católica na oposição aos conflitos.

Crise

No geral, as relações diplomáticas entre o Brasil e o Vaticano são consideradas boas. Mas não sem crises eventuais. A última delas ocorreu há três anos quando o governo brasileiro decidiu apresentar uma proposta de resolução nas Nações Unidas (ONU) pedindo o fim da discriminação baseada na orientação sexual das pessoas.

Na prática, a resolução pedia o fim da discriminação de homossexuais nos locais de trabalho, nas escolas e em outras esferas públicas. O Vaticano se empenhou em uma campanha para convencer os países católicos a não apoiar a resolução. Chegou, inclusive, a convocar a Embaixada do Brasil na Santa Sé para se explicar sobre o assunto defendido no organismo internacional. O Itamaraty, porém, acabou retirando a proposta da agenda da ONU. Não exatamente por causa do Vaticano, mas sim pela oposição dos países árabes ao tema.

Fonte: Agência Estado

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