A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) recebeu o documento “Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja”, divulgado ontem pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, com “desalento”.

O pastor presidente da igreja brasileira, Walter Altmann, que também é o moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), lembra, em nota, que a IECLB expressa na sua Constituição ter “vínculos de fé” com toda as igrejas que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador e mantém relações estreitas com as igrejas que compartilham seu compromisso ecumênico.

Assim, a IECLB “não nega a classificação de igreja a nenhuma das igrejas centradas na fé em Cristo, e tampouco passará a fazê-lo em relação àquelas igrejas que, em sua autodefinição, não a reconhecem como igreja em sentido pleno”.

O documento do Vaticano reafirma, em 16 páginas, o primado absoluto da Igreja Católica, entendendo-se como “a única Igreja de Cristo, que no Símbolo confessamos como sendo una, santa, católica e apostólica”. Mais adiante, o documento agrega: “Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele”.

Em relação às igrejas nascidas da Reforma protestante do século XVI, o documento da Congregação para a Doutrina da Fé assinala que, segundo a doutrina católica, elas sequer podem ser chamadas de “igrejas”, pois “não têm a sucessão apostólica no sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento essencial constitutivo da Igreja”.

No compromisso ecumênico, frisa a nota assinada por Altmann, “o desalento deve vir acompanhado, ainda que com dificuldade, do pleno respeito à definição eclesiológica de cada igreja”. A IECLB reconhece que o documento é dirigido ao público interno da Igreja Católica, mas não é de surpreender, afirma, que posições internas tenham repercussão nas demais igrejas, que “podem e devem externar suas próprias preocupações com o futuro do ecumenismo”.

O reverendo Manoel de Souza Miranda, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), que esteve com o papa Bento XVI em São Paulo, em maio, definiu o documento, em entrevista para a Folha de São Paulo, como “hostil ao ecumenismo”. Ele espera que, apesar do constrangimento causado pelo texto, a Igreja Católica no Brasil continue sua trajetória no ecumenismo, pois trata-se de “um caminho irreversível, apesar das opiniões do Vaticano.

Para o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), o documento agora divulgado não traz “nenhum elemento novo que atinja a causa da unidade dos cristãos, pois são todos assuntos já postos na mesa dos diálogos ecumênicos”.

O documento da Congregação para a Doutrina da Fé, em forma de perguntas e respostas, reporta-se ao que já foi expresso no documento “Dominus Iesus”, divulgado em 2000. “As ‘respostas’ mostram que Bento XVI continua firme em suas convicções de defender o Cristianismo contra o relativismo contemporâneo e para isto ele aponta para a Igreja Católica como a única que, através de sua continuidade histórica, é capaz de manter uma referência moral e religiosa da herança cristã”, aponta o CONIC.

E complementa: “Ao afirmar isto, o papa indica que apenas na Igreja Católica estes valores podem ser encontrados de forma plena, pois nela subsistem os valores imutáveis do Cristianismo originário”. Apesar da repercussão que o recente documento do Vaticano gerou, o CONIC convida todas as igrejas a continuarem a reflexão e a persistirem na oração pela unidade dos cristãos, cada um na sua identidade, mas abertos ao diálogo e partilha da fé.

O documento do Vaticano é “um passo atrás”, definiu para o portal de notícias da Globo o pastor Leonildo Silveira Campos, pastor da Igreja Presbiteriana Independente e professor na Universidade Metodista de São Paulo. Ele teme que o documento dê força a setores mais conservadores das igrejas cristãs, que não querem o diálogo ecumênico.

Fonte: ALC

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