Milhares de manifestantes que se opõem à regulamentação da união civil para casais do mesmo sexo na Itália se reúnem neste sábado (30), em Roma, com a esperança de impedir a aprovação da lei no Parlamento.

As autoridades italianas calculam que cerca de 500 mil pessoas devem se agrupar na capital italiana para a manifestação programada no “Circus Máximus”, o antigo estádio romano situado no coração da cidade.

Alguns milhares de pessoas já estavam no local nas últimas horas da manhã, antes do início das manifestações, previsto para as primeiras horas da tarde.

“Essa é a única arma que temos”, declarou na véspera do evento o organizador do “Dia da Família”, Massimo Gandolfini.

Os defensores do projeto de lei, que deverá ser analisado a partir de terça-feira no Senado, organizaram no sábado passado manifestações em 90 praças da Itália, pedindo aos italianos que acordem para as mudanças da sociedade.

A Itália é o último dos principais países da Europa Ocidental que não reconhece legalmente o status para os casais homossexuais. “O evento não está dirigido contra ninguém e contará com a presença de muitos casais homossexuais”, afirmou o presidente da organização Generazione Famiglia (Geração Família, em português), Jacopo Coghe.

Em sua forma atual, o texto, fruto de uma mediação parlamentar, estabelece que um funcionário registrará a união civil entre pessoas do mesmo sexo, as quais se comprometem a ser fiéis e a garantir assistência moral e material reciprocamente. A Igreja Católica italiana decidiu nesta sexta-feira se pronunciar contra o projeto de lei e recordou que a família vem da união entre um homem e uma mulher, sem convocar os fiéis explicitamente para o protesto de sábado.

Dentro da maioria do governo de centro-esquerda, o tema suscita divisões. Militantes católicos do partido governista anunciaram que vão batalhar contra o que consideram a legalização do casamento homossexual.

“Estão gerando voluntariamente órfãos de pai ou de mãe, isso é humanamente inaceitável”, disse, na sexta-feira, em Roma, a francesa Ludovine de La Rochère, presidente da organização Manif pour tous (Manifestação para todos), que convocou, no início de 2013, protestos na França contra a aprovação da lei do casamento gay. Os aliados de centro-direita e os católicos ameaçaram convocar um referendo para derrubar a lei se forem admitidos pontos mais polêmicos, entre eles a possibilidade de que um casal gay possa adotar filhos, especialmente do cônjuge.

Pesquisas recentes indicam que a maioria dos italianos é favorável à regulamentação das uniões civis, mas se opõe a que aprovem a adoção. Os partidos de esquerda radical e o Movimento 5 Estrelas, do humorista Beppe Grillo, ameaçaram retirar seu apoio se não for aprovado o artigo que permite a possibilidade de ação do filho do companheiro.

Em 2007, uma manifestação a favor da família tradicional levou o governo de Romano Prodi a renunciar a um projeto menos ambicioso de união civil. Neste ano, as associações de defesa dos homossexuais e parte dos parlamentares afirmam que não é possível retroceder e recordam que o mesmo Tribunal Europeu de Direitos Humanos exige que a Itália atualize sua legislação.

O primeiro-ministro Matteo Renzi, um católico praticante que se opôs ao projeto de 2007, deu “liberdade de consciência” a seus parlamentares. A votação será secreta e o método tem irritado muitos eleitores, que pedem nas redes sociais que seus representantes “mostrem sua cara”.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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