Pastor Arilton Moura (Foto: Reprodução)
Pastor Arilton Moura (Foto: Reprodução)

Um dirigente do partido Avante, do interior de São Paulo, afirmou nesta terça-feira que o pastor Arilton Moura, acusado de pedir propina para liberar recursos no Ministério da Educação, pediu-lhe doações para uma “obra missionária fora do país”, realizada por sua igreja.

O religioso é assessor de Assuntos Políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e não tem cargo no MEC. O escândalo culminou na saída de Milton Ribeiro da pasta, com a exoneração do ministro publicada na segunda-feira, 28, no Diário Oficial.

Presidente municipal do Avante de Piracicaba, José Edvaldo Brito disse que o pedido foi feito durante negociação com o pastor, que intermediava a relação de gestores municipais com o MEC, para planejar um evento da pasta na cidade paulista de Nova Odessa.

Brito afirmou que levou o caso à Polícia Federal e que está esperando ser intimado para apresentar as provas. Ele afirma ser o autor de pelo menos uma das denúncias que chegaram à Controladoria-Geral da União (CGU) sobre o caso dos dois pastores acusados de cobrar propina a prefeitos para ajudá-los a destravar recursos junto ao MEC.

Ele declarou ter sido enganado por Arilton e que conseguiu uma doação de R$ 67 mil, por meio de um amigo “empresário cristão”, para a tal obra missionária, e que pensou se tratar de um projeto humanitário bem intencionado. Também disse não se lembrar em qual país seria feita a ação religiosa: “Haiti, algo assim, um país pobre”.

Comerciante e radialista apoiador do governo Bolsonaro, Brito atuou como organizador de um encontro do MEC chamado de “Gabinete Itinerante” realizado em Nova Odessa em 21 de agosto de 2021.

O evento contou com a presença do então ministro Milton Ribeiro, do presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Ponte, e de gestores de 72 municípios, entre prefeitos, secretários de educação, além de deputados e vereadores. Compareceram também os pastores Gilmar Santos, também acusado de pedir propina, e Arilton. Os dois tiveram assentos de destaque e discursaram durante a cerimônia.

Ribeiro foi exonerado nesta segunda-feira, na esteira do escândalo de denúncias de ilegalidades envolvendo a distribuição de verbas da pasta. Ele se tornou alvo de uma investigação da PF e foi pressionado por lideranças evangélicas preocupadas com a repercussão do caso.

Aliados do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que colocaria “a cara no fogo pelo Milton”, temiam que o caso respingasse em sua campanha à reeleição. O GLOBO tenta contato com o pastor Arilton Moura.

‘Pedidos estranhos’

A realização do evento em Nova Odessa envolveu outros “pedidos estranhos” de Arilton, segundo Brito, como o pagamento de passagens aéreas para seis acompanhantes dos dois pastores. Ele disse que as passagens, compradas em cima da hora, custaram R$ 28 mil, que teriam sido arrecadados por meio de doações pelo então secretário de Governo de Nova Odessa, Marco Antônio Barion, conhecido como Russo.

Questionado pelo GLOBO se não achou estranho ter de acessar um pastor sem cargo no governo para facilitar a relação com o MEC, Brito negou que tenha visto algo errado naquela relação, e que só foi descobrir o “Arilton pilantra” após o pedido de doação para a dita obra missionária.

Mesmo assim, ele disse ter omitido essa informação na denúncia que fez pessoalmente a Ribeiro em Brasília, em 16 de setembro, um mês após a realização do evento em Nova Odessa.

O GLOBO perguntou ao dirigente por que então Ribeiro, mesmo após saber da denúncia sobre Arilton e Gilmar, continuou se encontrando com os pastores:

“Foi para não atrapalhar a investigação. Acho o ministro um homem honesto, de repente envolvido num furacão político”, declarou.

Brito teceu elogios ao ex-ministro e se disse convencido de que ele não sabia do esquema de pedido de propina no MEC. Também afirmou que nunca conversou com o pastor Gilmar, e que este teria sido enganado por Arilton, a quem recorrentemente chama de “pilantra”.

Ao GLOBO, a CGU informou que recebeu as primeiras denúncias do Ministério da Educação no dia 27 de agosto — portanto, seis dias depois do evento no interior de São Paulo. A apuração viria a ser concluída no dia 3 de março deste ano e depois encaminhada à PF, sob argumento de que não foram encontradas irregularidades cometidas por Ribeiro. Nesse cenário, o caso teria de ser remetido à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Fonte: Último Segundo

Comentários