Vários pesquisadores e acadêmicos alertaram nesta quinta-feira no México para os supostos riscos de permitir que a Igreja Católica tenha maior participação na política e na educação no país, que na constituição se define como um Estado laico.

Nas últimas semanas, a hierarquia eclesiástica tem reforçado a sua presença nos meios de comunicação. Vários bispos têm opinado sobre temas de alta voltagem política e social, como a descriminalização do aborto, a eutanásia e a união homossexual. Além disso, eles reivindicam a educação religiosa nas escolas públicas.

Um grupo de advogados católicos apresentará nos próximos dias ao Congresso mexicano uma proposta de modificação de alguns artigos da Constituição.

“A Constituição reconheceu a personalidade jurídica das igrejas, mas impediu, por causa da experiência histórica, que elas participem da política”, lembrou hoje Lorenzo Córdova, especialista em Direito da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), no Fórum “Estado Laico contra Liberdade de Expressão”.

Para Córdova, “caso algum membro da Igreja queira participar da política, o mais conveniente é abandonar a sua vocação, tirar a batina e participar como um cidadão”.

Além disso, acrescentou, “não se pode condicionar a educação em escolas públicas do país, que por vários anos se mantém laica, livre e soberana”.

No México, 90% dos habitantes se declaram católicos. Mas constitucionalmente Estado e Igreja se mantêm separados.

A Constituição de 1917 proibiu aos religiosos interferir em assuntos políticos e na educação pública.

Para mudar este panorama, a Igreja Católica pretende modificar os artigos 3, 24 e 130 da Constituição.

O primeiro deles estabelece que a educação estatal é laica e gratuita. O segundo garante ao cidadão a liberdade para professar a crença que desejar. O terceiro fixa a separação entre o Estado e os cultos, que têm personalidade jurídica mas cujos membros não podem desempenhar cargos públicos.

Como cidadãos, eles têm direito a votar, mas não a ser votados, não podem se associar com fins políticos nem realizar proselitismo a favor ou contra candidatos e partidos.

Após apresentar ontem suas credenciais ao presidente Felipe Calderón, o embaixador do Vaticano no México, o francês Christophe Pierre, pediu maior liberdade política e de expressão para os religiosos.

Já o político Héctor Vasconcelos, ex-integrante da coalizão de esquerda Frente Ampla Progressista, rejeitou as intenções da Igreja, que para ele produziriam um retrocesso de três séculos.

Vasconcelos, ex-embaixador do México na Dinamarca, disse que a única forma de explicar que a Igreja queira ter maior poder é porque perdeu adeptos.

Além disso, na sua opinião, a hierarquia religiosa deseja aproveitar a falta de credibilidade dos Governos e partidos políticos para controlar os rumos políticos e econômicos do país.

Fonte: Último Segundo

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