A ensaísta e médica marroquina Asma Lamrabet disse que mulheres muçulmanas reivindicam a “releitura” dos textos sagrados do Islamismo, com o propósito de corrigir as interpretações “machistas” das quais foram objeto durante séculos.
Asma participou, na semana passada, do encontro “Mulheres Islâmicas e Direitos Civis”, organizado nesta capital pelo Instituto da Mulher da Espanha e a ONG Movimento pela Paz. O evento reuniu mulheres do Marrocos, Argélia, Iraque, Jordânia, Afeganistão e Palestina.
A ensaísta marroquina defendeu a reivindicação dos direitos da mulher dentro do Islamismo e a correção das “leituras machistas e misóginas” que monopolizaram a jurisprudência islâmica. Ela afirmou que existe um movimento de mulheres no mundo muçulmano que busca a releitura dos textos sagrados.
A sharia (lei islâmica), explicou Asma, é uma interpretação jurídica humana, “não é o Alcorão”. Ela defendeu uma reforma jurídica islâmica radical e sublinhou que o denominador comum nos países islâmicos é a jurisprudência, na qual as mulheres tratam de modificar o discurso misógino (de desprezo às mulheres). Entre os possíveis passos para uma reforma gradual, a ensaísta mencionou iniciativas como as verificadas no Marrocos, onde 23 mulheres foram nomeadas imãs (líderes religiosas).
Quanto ao uso do véu, Asma destacou que é preciso deixar as mulheres decidir o que querem. “Não se pode impor o véu, é uma recomendação islâmica que eu adotei por convicção pessoal, mas ninguém deve me dizer o que devo ou não devo fazer”, afirmou.
A secretária geral de Políticas de Igualdade da Espanha, Soledad Murillo, instou as muçulmanas a abrirem debate para reivindicar o seu protagonismo na vida pública. Se as mulheres “carregam” os símbolos, elas também dever carregar as decisões, advertiu.
Ela assinalou que o colonialismo e a humilhação sofridas pelos países islâmicos como conseqüência da ocupação européia influenciou de modo negativo no seu desenvolvimento social, herança que perdura na atualidade, embora se debilite a cada dia mais.
Os problemas que afetam hoje em dias essas mulheres tornam-se cada vez mais agudos, uma vez que o movimento leigo feminista desses países tem uma concepção ocidentalizada que faz com que elas pretendam “libertar as muçulmanas do Islamismo”, o que Murillo considera incorreto.
A opção é desenvolver o que sustenta um setor das mulheres islâmicas, que aspira “trabalhar e refletir num espaço que concilia fidelidade ao Islamismo como mensagem espiritual de referência e abertura sobre valores universais, que devemos compartilhar como mulheres e seres humanos”, assinalou.
Essa fidelidade deve considerar que o Alcorão fala de concertação, cumplicidade, amor no matrimônio e de liberdade de escolha da mulher. Já a jurisprudência islâmica atual fala de obediência absoluta da mulher ao marido, da autoridade masculina, do matrimônio sob tutela forçada e de matrimônios arranjados sem o consentimento da mulher.
Por esse motivo, “deve-se promover a releitura do Alcorão, tanto por mulheres como por homens, pois há muitos deles que estão a favor de uma releitura, que devemos impulsionar e que beneficiará a todos nós”, defendeu Murillo.
Fonte: ALC