Os países da UE possuem associações islâmicas que se dizem representantes dos muçulmanos. Entretanto, existem opiniões extremamente divergentes sobre a capacidade dessas instituições de cumprir esse papel.

Espanha: contrato com o Estado

Apesar de 2,5% da população espanhola ser muçulmana, sendo a maioria originária do norte da África, o país concedeu o estatuto legal de religião apenas em 1992, através de um acordo de cooperação entre o Estado e a Comissão Islâmica Espanhola (CIE).

Estima-se que 30% da comunidade muçulmana espanhola faça parte da CIE, organização composta por duas federações, cada uma com um secretário-geral diferente. Por causa disso, a comissão não possui um presidente único e as decisões só podem ser tomadas quando ambas as federações estão de acordo.

Em razão de o secularismo ser um dos princípios fundamentais da Espanha, não existe uma base legal para um acordo desse tipo com credos específicos. Apesar disso, o Estado também assinou um pacto similar com as confissões cristãs e a comunidade judaica. O islamismo foi, dessa forma, colocado no mesmo estatuto legal que as religiões predominantes no país.

Áustria: críticas de dentro da comunidade

Já na Áustria a posição em relação ao Islã é bem clara. Ele é reconhecido como religião desde 1912, e a Comunidade de Fé Islâmica na Áustria (IGGiÖ) possui o status de corporação pública desde a sua fundação em 1979.

Por causa disso, o modelo austríaco é freqüentemente citado como exemplo, mas – e esse é um grande “mas” –, embora a IGGiÖ pretenda representar todos os seguidores do islamismo, muitos xiitas e alevitas muçulmanos do país não se sentem representados pela organização.

Em 2006, os alevitas submeteram ao Ministério austríaco de Assuntos Religiosos um pedido para que o alevismo fosse reconhecido como uma religião oficial.

Os sunitas também criticam a instituição, afirmando que ela não representa os interesses do grupo e alegam que a estrutura da organização não é democrática.

Acrescenta-se a isso o fato de que, embora quase 70% dos muçulmanos austríacos sejam de origem turca, a liderança da IGGiÖ é quase exclusivamente composta por muçulmanos árabes, o que mostra a fragilidade da representatividade da organização.

A IGGiÖ tem sido profundamente criticada pela falta de transparência das ações das lideranças da instituição. Existem alegações de que, sem nenhuma justificativa, candidaturas a membro são rejeitadas, como ocorreu com Günther Ahmed Rusznak, secretário-geral do Centro Islâmico de Informação e Documentação, e um duro crítico da IGGiÖ. Além disso, apenas quem paga a taxa anual de membro está habilitado a votar.

Islã francês por decreto?

Embora a fundação em 2003 do Conselho Francês para a Fé Muçulmana (CFCM) resulte do apoio do então ministro do Interior e atual presidente Nicolas Sarkozy, a representatividade da organização é apenas informalmente reconhecida pelo Estado e o status legal do Conselho corresponde ao de uma associação de caridade.

Cerca de 88% dos 4.032 delegados das mesquitas votaram nas primeiras eleições do Conselho. O número de delegados é baseado no tamanho de cada mesquita e há também 25 representantes em nível regional.

Apesar do alto nível de representação, o CFCM é continuamente acusado de falhar na tarefa de defender os interesses dos muçulmanos. A origem das críticas vem da influência do governo francês na seleção dos candidatos para os cargos mais importantes da organização.

O presidente do Conselho e imã da mesquita central de Paris, Dalil Boubakeur, por exemplo, teve sua candidatura apoiada por Sarkozy.

O Estado francês procura evidentemente um integrante do Islã liberal para tornar-se o representante dos muçulmanos. A idéia é que ele defenda, entre outras questões, a lei que proíbe símbolos religiosos nas escolas. Entretanto, é exatamente esse tipo de política à qual os muçulmanos franceses se opõem.

Outros críticos, entretanto, consideram o Conselho radical demais, já que uma das suas federações-membro é tida como próxima à Irmandade Muçulmana do Egito.

Reino Unido: desacordo no enfoque político

Fundado em 1997 com o apoio do governo trabalhista, o Conselho Muçulmano do Reino Unido (MCB) congrega 3 mil organizações islâmicas e representa cerca de 70% dos muçulmanos britânicos.

A instituição costumava ter um bom relacionamento com o governo trabalhista, mas depois do ataque terrorista ao metrô de Londres, muitos muçulmanos começaram a se sentir ultrajados e incompreendidos.

As duas principais questões enfrentadas atualmente pelo MCB são a defesa de uma prática mais conservadora do Islã e a tentativa de mudar a imagem da religião indo ao encontro da expectativa pública de rejeição ao terrorismo e aos atos de violência de alguns islâmicos.

Uma grande parte dos sufistas barelvis do Reino Unido, que praticam uma linha mais liberal do Islã, não acredita que o MCB represente todos os muçulmanos já que é dominado pelos deobandis, um grupo mais conservador e organizado politicamente.

Os barelvis são representados pelo Fórum Britânico Muçulmano, que não faz parte da composição do Conselho Muçulmano do Reino Unido.

Embora não haja um consenso do governo sobre assuntos relacionados ao islamismo, a construção de escolas muçulmanas é financiada pelo Estado.

Fonte: DW World

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