Uma mulher que preferiu manter-se anônima denunciou ter recebido um exemplar da Bíblia (Novo Testamento e Salmos) enquanto aguardava para a realização de ultrassom onde faria um aborto legal no Hospital Pérola Byington, no centro de São Paulo.
A mulher, uma universitária de 26 anos, grávida de dois meses, vítima de estupro, relatou que outras gestantes presentes na fila do exame também receberam o livro. Segundo ela, um grupo de mulheres abordou ela e as demais pacientes do recinto para entregar Bíblias e absorventes.
A estudante do Ensino Superior diz que procurou o serviço do hospital para interromper a gravidez, resultado de um estupro, violência que se deu dentro de uma relação abusiva.
O hospital, que pertencente à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, é o principal serviço onde se realiza abortos previstos em lei e no atendimento de casos de violência sexual.
A legislação brasileira autoriza a realização do procedimento em casos de gravidez decorrente de estupro, risco de vida à mulher ou (por decisão de 2012 do Supremo Tribunal Federal) gestação de feto anencéfalo.
Nota do hospital
Em nota como resposta ao ocorrido, o hospital publicou uma nota oficial:
“O Hospital Pérola Byington lamenta o desconforto e repudia qualquer atitude contrária à liberdade de consciência e de crença quanto o caráter laico de instituições públicas, previstos em Constituição. A unidade respeita as escolhas individuais de seus usuários, e justamente por isso não permite a distribuição de panfletos ou livros como o citado pela reportagem dentro da unidade. A direção está reforçando as orientações aos seus profissionais e voluntários da capelania hospitalar, que devem seguir as normas estabelecidas pelo hospital.”
A nota termina com a disponibilização de contatos e da ouvidoria do hospital.
A denunciante não conseguiu identificar quem eram as mulheres distribuindo as edições da Bíblia.
“Elas não falaram nada, só entregaram os livros e os absorventes. Acho que eram enfermeiras. Vestiam uniformes e pareciam estar trabalhando no hospital. Chegaram várias caixas, não dava pra entender se cheias de absorvente ou Bíblias. Eu achei estranho porque eu estava lá para acessar meus direitos e geralmente essas religiões, católica e evangélicas, abominam qualquer direito da mulher. Eu sou uma pessoa de fé, acredito numa força maior, que vem do amor, e não que pune e prejudica apenas as mulheres. Achei muito arcaico, nada a ver um hospital distribuir isso”, disse a mulher à reportagem da Marie Claire.
Fonte: Guia-me com informações de Marie Claire